Nos EUA, mulheres com mais de 40 anos vão ser aconselhadas a fazer mamografias bienais
A task force de Serviços Preventivos dos Estados Unidos actualizou as recomendações de rastreio do cancro da mama em resposta ao aumento do número de casos da doença em mulheres norte-americanas.
Mulheres com risco médio de desenvolver cancro da mama devem começar a fazer mamografias a partir dos 40 anos e até aos 74, ano sim, ano não, de acordo com a Task Force de Serviços Preventivos dos Estados Unidos (USPSTF, na sigla em inglês).
A indicação surge da actualização de uma recomendação controversa feita pelo mesmo painel de especialistas, em 2009, na qual se desencorajava mulheres entre os 40 e os 49 anos a fazer mamografias de rotina. Na mesma dizia-se que os testes bienais só deveriam começar aos 50 anos, a não ser que a mulher e o médico responsável considerassem apropriado começar mais cedo.
De acordo com a médica Carol Mangione, na altura à frente do USPSTF, os benefícios de fazer o exame na faixa etária dos 40 anos, tendo em conta os potenciais riscos, eram pequenos. Sobre a mudança de posição afirma: “Muitas coisas mudaram desde essa altura.”
Ao The Washington Post John Wong, professor de Medicina na Escola de Medicina da Universidade Tufts e membro da task force, revelou que, a cada ano, o número de diagnósticos de cancros de mama em mulheres sobe 2%. Nos Estados Unidos, o cancro da mama é o segundo tipo de cancro mais comum em mulheres (depois do de pele). Todos os anos, mais de 43 mil mulheres morrem com a doença.
Apesar de o risco de desenvolver cancro da mama em mulheres mais jovens estar a aumentar, os avanços tecnológicos nas mamografias digitais têm aumentado a precisão do exame e potenciado a realização de tratamentos mais adequados, o que resulta, segundo Mangione, em maior probabilidade de sobreviver.
Mortalidade por cancro da mama nos EUA pode diminuir 20%
A médica e presidente do Departamento de Medicina da Escola de Medicina David Geffen, da Universidade da Califórnia, explica que se os testes bienais começarem aos 40, e se todas as pessoas elegíveis fizerem a mamografia, a mortalidade por cancro da mama nos Estados Unidos diminuirá em 20%. Em mulheres negras, que geralmente têm cancros da mama mais agressivos e uma taxa de sobrevivência menor, os benefícios seriam ainda maiores.
A recomendação da task force aplica-se a mulheres cisgénero e pessoas às quais tenha sido atribuído o sexo feminino à nascença e que tenham risco médio de desenvolver cancro da mama, historial da doença na família e outros factores de risco como a alta densidade mamária. Não se aplica a pessoas com historial próprio de cancro da mama, pessoas com risco muito alto de desenvolver a doença por predisposição genética ou a quem tenham sido administradas altas doses de radioterapia na zona do peito. Estas pessoas deverão consultar os seus profissionais de saúde para um acompanhamento individualizado.
A nova recomendação não muda o que é coberto pelos seguros de saúde, porque as seguradoras nos Estados Unidos são obrigadas legalmente a cobrir por inteiro mamografias anuais para todas as mulheres com mais de 40 anos que as queiram, disse o painel.
A USPSTF também esclareceu que ainda não há provas suficientes para aferir os benefícios e os perigos de realizar mamografias em mulheres com mais de 75 anos ou de usar ultra-sons ou ressonâncias magnéticas em mulheres com alta densidade mamária e resultados normais em mamografias.
Há quem critique a nova recomendação, afirmando que um exame anual seria mais fácil de lembrar do que um que seja feito a cada dois anos. Maxine Jochelson, chefe do serviço de Imagiologia da Mama no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, explicou ao The Washington Post que “o intervalo de dois anos pode permitir que um tipo mais agressivo de cancro da mama cresça significativamente e reduza a probabilidade de cura”.
Segundo escreve o The New York Times, porém, o painel de especialistas que formulou a nova recomendação não encontrou benefícios adicionais em realizar exames anuais.
A nova recomendação vai ficar disponível para consulta pública até 5 de Junho de 2023.