Humberto Pedrosa: “Tentei ficar na TAP até ser possível ficar”

O ex-accionista da TAP, que ganhou a privatização ao lado de David Neeleman, foi esta tarde à Assembleia da República no âmbito da comissão parlamentar de inquérito.

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Humberto Pedrosa saiu do capital da TAP em Dezembro de 2021 Daniel Rocha
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O ex-accionista da TAP, Humberto Pedrosa, explicou esta terça-feira aos deputados o que considerou serem as diferenças entre si e o seu antigo sócio na companhia. David Neeleman, disse, no âmbito da comissão parlamentar de inquérito, “era um investidor” que “entrou na TAP para fazer uma mais-valia num determinado espaço de tempo”. “Eu sou um empresário, não estou habituado a entrar nas companhias para as poder vender”, frisou.

Questionado sobre o porquê de não ter saído da TAP em paralelo com Neeleman, que levou consigo 55 milhões de euros em Outubro de 2020, o empresário, dono da Barraqueiro, afirmou que tinha a “expectativa de que a pandemia não durasse muito tempo”. “Tentei ficar na TAP até ser possível ficar”, explicou. “Quando chegou a altura em que verifiquei que não tinha condições para continuar, saí, com prejuízo”, o que aconteceu no final de 2021.

O momento em que percebeu que não tinha condições para continuar foi quando, no âmbito do plano de reestruturação, percebeu que os privados iam ser envolvidos na solução, com as suas posições “reduzidas a pó” no âmbito dos 3200 milhões de ajuda estatal.

A pandemia de covid-19, disse, acabou com o percurso de “resultados assinaláveis” que a TAP vinha a percorrer. Se tivesse o dinheiro que era necessário para apoiar a empresa na altura da pandemia, da ordem dos mil milhões, frisou, teria aplicado essa verba na TAP.

Sem grandes críticas ao processo que levou a que a TAP fosse de novo 100% pública, acabou por afirmar que “podia ter havido uma situação mista”, ou “prestações acessórias em vez de capital”. “Amanhã, numa venda da companhia, poderia reaver os fundos”, considerou.

Pedrosa aplicou 17,5 milhões na TAP

Numa intervenção inicial, e naquela que foi a primeira vez que se pronuncia sobre a TAP desde que saiu do capital, Pedrosa afirmou que a privatização era uma “oportunidade única de participar numa empresa estratégica para a economia portuguesa”, embora estivesse numa “condição financeira degradada”.

Ao todo, disse, aplicou 17,5 milhões de euros - entre cinco milhões para compra acções e 12,5 milhões em suprimentos/prestação acessórias -, um montante que se assume como o valor máximo das suas perdas.

O empresário recordou, em respostas aos deputados, que o grupo chinês HNA chegou a comprar 20% da Atlantic Gateway, ficando o próprio com 40%, tal como Neeleman, mas que depois este novo sócio “entrou numa situação de falência”, tendo sido feita uma recompra das posições. Não referiu, no entanto, se ganhou com este negócio (e, se sim, quanto).

Quanto a Neeleman, disse, entrou com cinco milhões de euros para a compra das acções (o total foi de 10 milhões), e com os 226 milhões de dólares de capitalização via fundos Airbus (ligados à compra de 53 aviões pela TAP).

Sobre os fundos da Airbus, afirmou que este foi um processo negociado por David Neeleman, mas que não lhe parece ter contido alguma irregularidade. Já sobre o reforço do Estado feito em 2016, depois de o PS ter formado Governo, afirmou aos deputados que na altura aceitou porque “era um conforto grande ter o Estado como accionista”.

Tendo classificado a ex-administradora Alexandra Reis (envolta na polémica da indemnização de meio milhão de euros paga pela TAP) como “uma grande profissional”, Pedrosa destacou que Fernando Pinto teve um papel importante quando passou de presidente executivo a consultor.

O gestor, que assinou um contrato como consultor, “era essencial para a transição” já que, explicou Pedrosa, o novo presidente executivo, Antonoaldo Neves, escolhido por Neeleman (que controlava a comissão executiva) “não conhecia a companhia”. Apesar de ter dito que Fernando Pinto não passou a receber mais como consultor do que como presidente da TAP, a deputada do BE apresentou as suas contas: Fernando Pinto recebeu 744 mil euros/ano como presidente, e, depois, 811 mil euros/ano como consultor.

Este "não é o momento ideal" para reprivatizar a TAP

Se numa primeira fase, a Atlantic Gateway, de Neeleman e Pedrosa, garantiu 61% do capital (podendo depois ficar com 95% ou mais) as negociações levaram a que essa posição tivesse de descer para 45% (mas com direitos económicos, como os dividendos, mais elevados).

Outros 50% ficaram com o Estado e 5% com os trabalhadores. Pelo meio, o consórcio, ainda teve um terceiro sócio, a chinesa HNA, e o financiamento da TAP envolveu ainda a Azul, fundada por Neeleman e da qual é accionista, que comprou obrigações convertíveis em acções no valor de 90 milhões.

Em resposta a perguntas sobre os pagamentos feitos pela TAP à Atlantic Gateway, explicou que esta empresa tinha “despesas diversas”. Assim, para pagar estas verbas, Pedrosa e seu filho David, que foi administrador executivo da TAP, bem como Neeleman, “em vez de receber salário”, recebiam por via de prestação de serviços através da Atlantic Gateway. “Quando sobrava”, as verbas remanescentes iam para a Barraqueiro e para a DGN, de Neeleman.

A propósito do processo de reprivatização da TAP que está agora a ter inicio, Pedrosa considerou que, “se calhar, este não é o momento ideal para vender a TAP”. “Se fosse minha, esperava por uma melhor oportunidade”, em que a TAP estivesse “a ganhar dinheiro”.

“Tem de haver muito cuidado com a venda da TAP”, considerou. “Mesmo que a Iberia pague mais, nunca devíamos optar pela Iberia, pelo risco do hub [da TAP] de Lisboa passar para Madrid”, defendeu.

Questionado sobre se a TAP ficasse nas mãos de um grupo de empresários portugueses, se estava na disponibilidade de integrar esse projecto, Pedrosa respondeu afirmativamente. “Claro que gostaria de fazer parte. Acho que valeria a pena encontrar um grupo que pudesse ficar com a TAP”.

Sobre o facto de estar ligado ao consórcio que defende Santarém como localização do novo aeroporto, realçou esperar “que ganhe a melhor” das várias hipóteses em cima da mesa”. Para o empresário, dono da Barraqueiro, isso quer dizer a “que custe menos dinheiro ao Estado e que sirva melhor o país”.

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