O número de mortos devido às inundações no leste da República Democrática do Congo aumentou esta terça-feira, à medida que os trabalhadores humanitários encontravam mais corpos entre a devastação lamacenta e que os residentes feridos sucumbiam aos seus ferimentos numa clínica local mal equipada. Até agora, há mais de 400 vítimas mortais mas há mais de 5500 pessoas desaparecidas que deverão aumentar o número de mortos caudados por estas cheias.
As inundações, numa zona remota e montanhosa da província de Kivu do Sul, devastaram as aldeias ribeirinhas de Nyamukubi e Bushushu há cinco dias, arrasando casas, destruindo colheitas e matando mais de 400 pessoas, o que constitui a catástrofe natural mais mortífera da história recente do Congo.
Estas catástrofes puseram em evidência a vulnerabilidade das populações às alterações climáticas em muitas partes de África, onde um planeamento urbano deficiente e infra-estruturas fracas significam que as comunidades não conseguem, muitas vezes, resistir a episódios de condições meteorológicas extremas cada vez mais intensos e mais frequentes.
"Trata-se de uma catástrofe humanitária sem precedentes", declarou o porta-voz do Governo, Patrick Muyaya.
Em Nyamukubi, bairros inteiros foram atropelados por pedregulhos e o cheiro a cadáveres emana da terra, disse um repórter da Reuters no local. Os sem-abrigo estão amontoados nos poucos edifícios públicos que restam intactos, com más condições sanitárias.
"Ali, na lama, era onde estava a nossa casa. Perdemos seis pessoas da nossa família. Na nossa casa, morreram cinco crianças e a nossa mãe", disse Alliance Mufanzara, de 22 anos, apontando para um terreno vazio de terra revolvida. Ela, o seu irmão mais novo e o seu pai são os únicos sobreviventes."Estamos assustados porque toda a nossa família está acabada", disse ela. "Não temos nada".
Os esforços de ajuda têm sido dificultados pela falta de acesso e de recursos. A Cruz Vermelha acredita que mais de 8000 pessoas precisam de assistência. Mais de 5500 pessoas ainda não foram encontradas, disse o administrador local Thomas Bakenga Zirimwabagabo.
As famílias foram separadas e os sobreviventes traumatizados estão a refugiar-se nas casas de outras pessoas, acrescentou a Cruz Vermelha. "Se eu não tivesse ido ao mercado, talvez pudesse ter salvado os meus filhos", disse Jolie Ambika Nathalie, 34 anos, mãe de cinco filhos, em Bushushu.
A vendedora de carvão deixou os seus três filhos mais novos em casa para fazer um recado quando a chuva caiu. Quando regressou, a casa estava destruída e os seus filhos de 6, 8 e 10 anos não estavam em lado nenhum. "Não havia vestígios da casa quando regressei", disse à Reuters.
Esta terça-feira, funcionários do governo levaram cobertores, alimentos e uma mão-cheia de caixões para Nyamukubi. Doaram dinheiro a uma clínica local, onde três pessoas morreram, e deram cerca de 1100 dólares a cada uma das 200 famílias afectadas.
Mas a delegação não participou nos enterros, como estava planeado, nem visitou Bushushu, onde se crê que o número de mortos seja maior, porque era dia de mercado quando as cheias atingiram a região.
Os habitantes estão aterrorizados. Muitos choram a perda de entes queridos, as colheitas pisadas e as casas em ruínas. Alguns pediram ao governo que os realojasse longe de uma zona onde a água escorre das encostas verdejantes, fazendo transbordar o rio que passa junto às suas casas.
"Deixámos tudo para trás", disse Bahati Kabanga, 32 anos, residente em Bushushu, que conseguiu salvar o seu único filho, mas perdeu a tia, os sobrinhos e uma irmã. "Sentimos um tremor enquanto chovia e decidimos fugir depois de vermos casas a desabar ao longe", disse à Reuters por telefone.
Os trabalhadores humanitários colocaram os mortos em valas comuns escavadas durante o fim-de-semana, o que suscitou queixas por parte de grupos da sociedade civil e levou o governo a prometer assistência para a realização de enterros mais dignos. O governo declarou a passada segunda-feira como dia de luto nacional.