Famílias sauditas pedem ajuda aos EUA para tentar travar duas execuções

Arábia Saudita vai executar dois presos por crimes cometidos quando eram menores. Dois senadores querem obrigar Biden a condicionar apoio a Riad a progressos ao nível dos direitos humanos.

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As execuções aumentaram muito na Arábia Saudita com Mohammad bin Salman Reuters
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Num momento em que a Arábia Saudita e o Irão resolveram enterrar o machado de guerra, vale a pena lembrar que os históricos rivais têm em comum o facto de estarem entre os países que mais executam condenados à morte no mundo. Esta segunda-feira, o Irão chegou às 203 execuções de prisioneiros desde o início do ano, confirmando a tendência de aumento nas condenações e execuções em resposta ao movimento de revolta contra o regime, desencadeado em Setembro pela morte de uma jovem detida por uso incorrecto do lenço islâmico.

Os últimos dois executados na República Islâmica são Yousef Mehrad e Sadrollah Fazeli Zare, condenados por blasfémia. Em 2022, Teerão executou pelo menos 582 pessoas – no ano anterior tinham sido 333 – e foi o segundo país com mais execuções, atrás da China. Os números são menores na Arábia Saudita (quarto país com mais executados em 2021), mas um relatório das organizações não-governamentais European Saudi Organization for Human Rights e Reprieve mostra como as execuções cresceram exponencialmente desde que o príncipe Mohammad bin Salman se tornou líder de facto: entre 2015 e 2022, foram executados em média 147 pessoas por ano, um aumento de 82% face ao período 2010-2014. Em 2022, num só dia, foram executadas 81 pessoas.

Num e noutro país, a pena de morte é usada para castigar opositores e desincentivar a dissidência e o protesto, e em ambos há registo de executados por supostos crimes cometidos quando eram menores. Numa carta enviada ao secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, familiares de dois sauditas presos e alegadamente torturados por crimes cometidos quando tinham 17 anos, num caso, e entre 15 e 17, no outro, pedem-lhe que trave as suas execuções iminentes.

Tanto Abdullah al-Derazi como Youssef al-Manasif são de Qatif, a província onde se concentra a minoria xiita do país que se vê como líder do mundo sunita, e foram presos por participar em protestos ou em funerais. “O Governo da Arábia Saudita é surdo aos nossos gritos, mas vai ouvi-lo”, escreve a Blinken um familiar de Derazi, na carta citada pelo jornal The Guardian. O jovem, continua o texto, foi preso para “assustar as pessoas para pararem de protestar”. Um decreto real de 2020 pôs fim à pena de morte para menores no momento dos crimes, mas a prática manteve-se.

Numa mensagem diferente dirigida à Administração de Joe Biden, dois senadores, o democrata Chris Murphy, e o republicano Mike Lee, apresentaram uma resolução para obrigar a Casa Branca a divulgar um relatório sobre as violações de direitos humanos na monarquia e uma explicação das medidas que Washington tem tomado em reacção a essas violações. Se a resolução for aprovada, explica o Guardian, permitirá ao Congresso recomendar mudanças à cooperação entre Riad e Washington, como “a imposição de limites à ajuda militar vinculados às condições dos direitos humanos”.

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