Festa dos Tabuleiros de Tomar já é Património Cultural Imaterial nacional
A aprovação da inscrição da Festa dos Tabuleiros no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial foi publicada, nesta segunda-feira, em Diário da República.
Uma das celebrações mais antigas da cidade de Tomar, a Festa dos Tabuleiros, é, desde esta segunda-feira, Património Cultural Imaterial do país, abrindo a porta à candidatura internacional.
A celebração, que se realiza de quatro em quatro anos, no princípio de Julho, e que atrai milhares de visitantes, tem origem pagã e “simboliza a época das colheitas”, tendo adquirido “carácter religioso na Idade Média”. No reinado de D. Dinis, fazia parte das Festas e Confrarias do Espírito Santo, criadas pela rainha santa Isabel.
O pedido para integração no Património Cultural Imaterial nacional já tinha sido feito a 31 de Julho de 2019, sustentado pelo facto de esta ser “uma festa única no país e no mundo”, como referiu, na altura, a presidente da Câmara Municipal de Tomar, Anabela Freitas. A autarca mencionou ainda a importância deste passo para a “preparação de uma candidatura” da Festa dos Tabuleiros a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO (na sigla original, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), cita a agência Lusa.
Além disso, a população tomarense tem uma palavra a dizer: no ano anterior à festa, o executivo convida o povo a participar numa sessão aberta, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, onde se decide (geralmente por aclamação) a sua realização. Neste encontro, é ainda eleito o mordomo principal da festa — alguém com capacidades de “perseverança, força, determinação, conhecimento”, como é descrito (agora) no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. Para a edição de 2023, a escolha recaiu sobre o professor Mário Formiga.
O projecto da candidatura foi coordenado por André Camponês, do Instituto de História Contemporânea, e resumia "as dinâmicas que a tradição conheceu no âmbito da sua génese e transmissão ao longo das gerações", referiu, na altura, à Lusa. Durante o processo, foram ainda reunidas outras informações, como “registos de vídeo e fotográficos de profissões em vias de extinção, como o latoeiro ou o cesteiro”, na expectativa de criar um Centro Interpretativo da Festa. Segundo o investigador, 1844 é a data que comprova a existência da Festa dos Tabuleiros nos actuais moldes — no livro de Actas e Contabilidade da Academia Philarmónica Tomarense é possível consultar os gastos em papel de pauta —, enquanto a Coroa de Asseiceira, de 1544, é o objecto mais antigo conhecido.
A subdirectora-geral do Património Cultural, Rita Jerónimo, destaca, no anúncio publicado em Diário da República, a “importância de que se reveste esta manifestação do património cultural imaterial enquanto reflexo da identidade da comunidade envolvente”.
A Festa dos Tabuleiros, que neste ano acontece entre 1 e 10 de Julho e enfeita a cidade com flores de papel, tem o seu momento mais emblemático no último domingo, com o Cortejo dos Tabuleiros, no qual as mulheres e raparigas, amparadas pelos pares masculinos, transportam o adorno da festa: o tabuleiro decorado com flores de papel, espigas de trigo e verduras, é constituído por pães que são colocados em canas num cesto de vime, com uma coroa no topo. Nos restantes dias, não faltam outros episódios de relevo, como o Cortejo dos Rapazes (em que só participam crianças), o Cortejo do Mordomo (com carruagens e cavaleiros) e os Cortejos Parciais (no último sábado, com os tabuleiros que vão desfilar no dia a seguir), a Distribuição da Pêza (partilha de carne, pão e vinho, benzidos no dia anterior) e, ainda, diversos jogos populares.
Antes, já no Domingo de Páscoa se deu o mote para toda a celebração, com a Saída das Coroas e Pendões acompanhados com fogueteiros e músicos.
Texto editado por Carla B. Ribeiro