França vai proibir encher piscinas, lavar carros e regar. E Portugal?

O ministro francês da Transição Ecológica, Christophe Béchu, declarou que, a partir de 10 de Maio, em determinadas regiões do Sul do país é proibido lavar carros, regar jardins e encher as piscinas.

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No Verão de 2022 foi preciso fechar piscinas municipais e deixar de regar os jardins em algumas cidades portuguesas GettyImages
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França vai proibir lavar os carros, regar os jardins e encher as piscinas em algumas regiões do Sul do país. Em Portugal, a ministra da Agricultura confirma que 40% do território nacional já está em situação de seca severa e extrema, mas para já as medidas anunciadas são dirigidas ao sector da agricultura. Na Europa, o programa Copérnico divulgou esta semana que o mês de Abril de 2023 foi o quarto mais quente do mundo. Não faltava mais nada, mas teremos ainda o fenómeno El Niño a aquecer os ânimos.

A venda de piscinas de jardim vai ser proibida numa região do sul de França devido ao agravamento da escassez de água. Em declarações à rádio RTL, o ministro francês da Transição Ecológica, Christophe Béchu, disse que os Pirenéus Orientais, que fazem fronteira com a Catalunha espanhola, serão oficialmente declarados em situação de "crise" de seca a partir de 10 de Maio. "A proibição de lavar os carros, regar os jardins e encher as piscinas será igualmente aplicada a partir da mesma data", acrescentou.

"Precisamos de sair da nossa cultura de abundância", disse Bechu, justificando que a proibição de venda de piscinas pretende "evitar que as pessoas sejam tentadas a fazer o que, de facto, não podem fazer, ou seja, enchê-las. "As alterações climáticas estão aqui e agora. Precisamos de sair da nossa cultura de abundância. Precisamos de mostrar muito mais contenção na forma como utilizamos os recursos que temos", disse.

"As luzes de aviso têm estado a piscar em França, depois de um Inverno seco ter agravado os lençóis freáticos já esgotados, herdados de 2022", refere a notícia da BBC em que são apresentadas as declarações do ministro francês, adiantando que há já quatro distritos onde a seca atingiu o nível de "crise" e mais de 40 encontram-se em níveis de "alerta" ou "vigilância". "A guerra da água, desencadeada pela diminuição das reservas, constitui uma verdadeira ameaça à coesão nacional", resume Christophe Béchu, citado pela BBC.

E por cá?

O ano de 2023 promete ser memorável pelos piores motivos. Aos sucessivos avisos dos cientistas sobre o impacto do fenómeno El Niño, que deverá fazer subir as temperaturas em várias regiões do planeta, junta-se um mau prenúncio: os primeiros meses deste ano têm sido marcados por temperaturas acima da média e por precipitação abaixo da média. Resultado? Uma situação de seca mais aguda e precoce que faz adivinhar um Verão perigosamente sedento.

Por cá, em Portugal, a ministra da Agricultura e Alimentação, Maria do Céu Antunes, afirmou nesta segunda-feira ter assinado um despacho em que reconhece a situação de seca severa e extrema em 40% do território nacional, afectando mais o Sul do país. Esta decisão oficial permite accionar medidas europeias de apoio aos agricultores.

Abre-se assim a primeira frente de resposta em situação de emergência especialmente dedicada ao sector da agricultura. Ainda não é tempo de fechar piscinas municipais ou deixar de regar os jardins das cidades, como foi preciso fazer no Verão de 2022 em vários municípios. O ano de 2022 no território português foi marcado por uma das secas mais intensas desde que há registos.

Portugal possui uma Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca, que organizou 13 reuniões em seis anos. Face à seca extrema que o Sul do país já atravessa, este grupo de decisores políticos reuniu-se há duas semanas e reagiu anunciando medidas como a proibição de novas estufas no Alentejo. Em tempos de crise climática, os especialistas ouvidos pelo Azul num artigo publicado nesta segunda-feira frisam que está na hora de medidas “estruturais” – e não “reactivas” – de combate à escassez da água.

Também nesta segunda-feira, o serviço do programa europeu Copérnico para as alterações climáticas divulgou um relatório que confirma que o mês de Abril de 2023 foi o quarto mais quente a nível global desde que há registos. As temperaturas estiveram acima da média sobretudo no Sul da Europa. Portugal e Espanha destacam-se neste relatório pelas altas temperaturas e também já pela gravidade da seca no território.