Extrema-direita desapareceu do mapa nas eleições inglesas: “Repare, Roma não se construiu num dia”
UKIP perdeu os 25 vereadores que tinha e o Reform UK elegeu apenas seis. Líder do partido populista garante, ainda assim, que os conservadores “nunca mais vão ter um Governo maioritário”.
As eleições locais em Inglaterra, disputadas na passada quinta-feira, não foram apenas desastrosas para a direita moderada britânica – o Partido Conservador, no poder, perdeu mais de mil lugares. UKIP e Reform UK, dois partidos de extrema-direita, com ligações a Nigel Farage, desapareceram praticamente do mapa nos councils que disputaram.
O UKIP perdeu todos os 25 vereadores que tinha nestes círculos eleitorais e o antigo Partido do Brexit – que mudou de nome depois da saída do Reino Unido da União Europeia, em 2020 – só conseguiu conquistar mais dois lugares, somando um total de seis vereadores eleitos.
Se o desempenho dos eurocépticos do UKIP já era expectável, tendo que conta que perderam muita força e mediatismo quando Farage lhes virou as costas, para fundar, precisamente, o Partido do Brexit, o caso dos populistas e anti-sistema (Reform) é particularmente doloroso para os seus líderes, tendo em conta que nos últimos meses vinham a disputar o estatuto de terceira maior força política do país nas sondagens.
Depois da desastrosa (e curta) governação de Liz Truss, após tentar implementar um corte de impostos sem precedentes, o Reform UK duplicou a sua percentagem nas intenções de voto, chamando para si os conservadores neoliberais desiludidos com a substituição da primeira-ministra por Rishi Sunak. E prometeu disputar eleitores e deputados aos tories.
Nas eleições locais inglesas, o partido não só não conseguiu atrair significativamente o eleitorado conservador, como só conseguiu 6% do total de votos nos councils em que concorreu.
Em declarações ao Telegraph, o seu líder, Richard Tice, disse que o Reform UK foi “brutalmente prejudicado” por um sistema eleitoral que diz beneficiar os principais partidos e sublinhou que o seu é um partido recente: “Repare, Roma não foi fundada num dia. Somos um partido novo”, justificou ao diário britânico.
Na sua vida anterior, como Partido do Brexit, o Reform UK já tinha vencido as eleições de 2019 para o Parlamento Europeu, pelo que não é uma força política desconhecida para a maioria dos eleitores. E durante a pandemia, ainda com Farage politicamente activo, assumiu-se como um partido anticonfinamento.
Tice afirmou, ainda assim, que o partido “mudou o destino de numerosos lugares” que foram a votos nas eleições inglesas e garantiu que este resultado não prejudica a sua principal missão política: garantir que o Partido Conservador “nunca mais vai ter um Governo maioritário” no Parlamento nacional.
Citado pela BBC, Ben Walker, líder UKIP – partido que também venceu umas eleições europeias, em 2014 – foi mais criativo a justificar a perda dos 25 vereadores que foram a votos, dizendo que a maioria dos lugares em causa já não era do partido, a partir do momento em que os seus detentores “desertaram” para outras forças políticas ou concorreram como independentes.
O UKIP ainda tem, no entanto, alguma representação própria a nível autárquico, em círculos eleitorais que não estiveram envolvidos na votação de quinta-feira.
As eleições locais em Inglaterra envolveram 230 councils e tiveram mais de oito mil cargos de vereação em disputa. O Partido Trabalhista foi o mais votado e foi aquele que conquistou mais lugares, reforçando a sua candidatura à vitória nas próximas eleições legislativas, previstas para 2024.
Os Liberais-Democratas e o Partido Verde superaram as expectativas e também fazem parte da lista de partidos com motivos para sorrir neste acto eleitoral.