“Somos de Braga e do Sp. Braga. Não fazia sentido de outra maneira”
O PÚBLICO viajou com os adeptos bracarenses até à Luz. O resultado era incerto, mas havia uma certeza: o Braga cativa cada vez mais gente.
“Era portista fanático. Mudei para o Sp. Braga por causa da minha filha”. Vestido de vermelho e branco dos pés à cabeça, Hélder Azevedo solta a frase ciente da estranheza que esta causa em quem a ouve pela primeira vez. Ao lado, o padrinho da filha sorri com orgulho: afinal de contas, teve o condão de transformar um “dragão” em braguista. Conseguiu chegar ao coração de Hélder através da filha pequena: “Epá, esqueça. A minha miúda, se não conseguir vir a um jogo, chora-me a semana inteira”.
Hélder não é caso único nas fileiras bracarenses. José Monteiro esteve mais de cinco décadas emigrado na Alemanha e chegou a ir a Gelsenkirchen apoiar o FC Porto na final da Liga dos Campeões. Recém-chegado a Portugal, fez-se sócio do Sp. Braga por influência familiar e teve, na Luz, o primeiro jogo fora a acompanhar os bracarenses. “Não vou conseguir ir ao Jamor, infelizmente. Aproveito e vou apoiar neste jogo”, revela.
O PÚBLICO acompanhou a viagem dos adeptos bracarenses até à Luz, jogo potencialmente decisivo para as contas do título. A seis pontos da liderança, uma vitória no reduto do Benfica podia reduzir consideravelmente a desvantagem. Um empate daria ainda mais “fôlego” à luta pelo título, servindo ao FC Porto para apertar ainda mais o cerco aos “encarnados” em caso da vitória.
A confiança numa boa exibição e união entre equipa e adeptos fez-se ver na hora de encher os autocarros. Da “cidade dos Arcebispos” saíram 12 com adeptos e simpatizantes, sem contar com as viaturas alugadas pelas claques a título próprio. Mesmo com um arranque tardio e um regresso ao Minho depois das três da madrugada, cerca de 1500 adeptos fizeram a viagem para o Sul.
“Somos de Braga e do Braga. Não fazia sentido ser de outra forma”, afirmam taxativamente as irmãs Maria e Beatriz. O terceiro irmão da família segue umas filas atrás. São todos adeptos do Sp. Braga – o seu primeiro e único clube. “Acaba por ser uma mudança geracional. As pessoas percebem que faz todo o sentido apoiar o que está perto de nós e não um clube que vem jogar à sua cidade uma vez por ano”, sentencia Beatriz.
A verdade é que já se torna normal para os jovens bracarenses escolherem apenas um clube. “Antigamente, era comum nestas viagens veres as ‘ovelhas negras’, adeptos dos ditos 'grandes' infiltrados. Agora é impensável isso acontecer, é tudo do Sp. Braga, nem há hipótese”.
Sucesso ajuda a aumentar número
Quais são então as razões para esta identidade reforçada? A primeira razão apontada pelos adeptos prende-se com o sucesso recente do clube. Foi há pouco mais de dez anos que o Sp. Braga discutiu até à última jornada um campeonato nacional ou chegou à final da Liga Europa. Desde então, tem somado bons registos e jogado “mano a mano” com os clubes "grandes".
A segunda é o poder agregador que o clube detém. Quem vai para Braga viver ou trabalhar desenvolve um carinho especial pelo clube. E muitos destes falam português do Brasil. Ao nosso lado, viaja a pessoa que comprova as duas teorias. Francieli Castro chegou a Braga em 1993 e encontrou no emblema bracarense um lugar de congregação.
“Vejo mesmo muita gente brasileira a passear pela cidade com o equipamento do Sp. Braga. Sentem-se tão abraçados pelo clube, acaba por ser uma forma de inclusão. Estão no estádio em videochamada com a família, é muito bonito de se ver”, assevera.
O “bichinho” pelo Sp. Braga estava adormecido há alguns anos, mas esta época sentiu que tinha de retribuir ao clube aquilo que ele lhe deu há, exactamente, 30 anos. Os restantes familiares não ligam muito a futebol, mas encontrou no Minho uma segunda família.
“Há muita criança, muita família. É a parte bonita do futebol. Há pessoas com a ideia de que são só vândalos e agressividade, não é assim. Estão três clubes a lutar pelo título, alimenta mais esta vontade de as pessoas se unirem”.
Adeptos em Lisboa
Apesar de a esmagadora maioria dos adeptos ter saído do Municipal de Braga, alguns estavam já à espera dos autocarros da comitiva bracarense. Um desses jovens era Lucas: natural de Arcos de Valdevez e estudante em Lisboa, faz parte de um grupo de jovens maioritariamente de Braga residentes na capital. São actualmente 50 e esforçam-se por dar apoio aos minhotos nos estádios mais longe de “casa”.
É da opinião de que há cada vez mais adeptos bracarenses, mas prefere não se iludir quanto a um aumento exponencial a curto prazo. “A maioria das pessoas apoia os três 'grandes' por influência familiar. No Norte, temos algo chamado Benfica. É muito difícil explicar como é que um clube a 400 quilómetros de distância tem tantos adeptos. É provavelmente o clube com mais adeptos a Norte”, lamenta.
Mas o jovem de 18 anos traça um cenário promissor, caso o clube continue o caminho de bons resultados. E a final da Taça de Portugal está já no horizonte.