Benfica-Sp. Braga: prova de vida para dois candidatos

O líder Benfica defronta o Braga, terceiro classificado, num jogo que será decisivo nas contas do título. Para as duas equipas que jogam neste sábado na Luz e não só.

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Gonçalo Ramos e Victor Gomez durante um jogo da Taça de Portugal, que o Sp. Braga venceu nos penáltis HUGO DELGADO
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Todos os jogos são iguais, mas há uns que são mais iguais do que outros. É o que acontece com o Benfica-Sp. Braga deste sábado (20h30, BTV) na Luz, a contar para a 31.ª jornada da I Liga. E é “mais igual” porque já estamos quase no fim do campeonato e já não há muito tempo para recuperar eventuais pontos perdidos, e porque “encarnados” e “arsenalistas” são duas equipas que jogam pelo mesmo objectivo, o título de campeão nacional. Este é um daqueles jogos em que o bem de um será o mal do outro. E o mal de ambos será o bem de uma terceira equipa, o FC Porto, que só irá ter o compromisso desta ronda (em Arouca) na segunda-feira.

Como as coisas estão, o Benfica, que tem o melhor ataque (71 golos marcados) e a melhor defesa (17 sofridos), só depende de si para ser campeão. A vantagem para os concorrentes já foi maior (chegou a ser de dez pontos para o FC Porto, agora são apenas quatro, e são seis em relação aos bracarenses). Se não tivesse perdido aqueles dois jogos consecutivos (FC Porto e Desportivo de Chaves), poderia bem estar já a preparar a festa para este sábado. Assim, só resta à equipa de Roger Schmidt manter o ritmo das últimas rondas (triunfos sobre Estoril e Gil Vicente) para manter os outros à distância.

Só que esta recta final para o Benfica tem um grau de dificuldade bem elevado – antes de defrontar o último classificado na derradeira jornada, terá o Sp. Braga neste sábado, seguido de dois jogos fora, com Portimonense e Sporting. E se tiver os mesmos resultados que teve na primeira volta (derrota com os bracarenses, empate com os “leões”), fica sem o primeiro lugar se o FC Porto fizer o pleno nos seus jogos. E mesmo o segundo lugar também não ficará seguro.

Se uma vitória neste sábado é uma prova de vida para o Benfica, também o será para o Sp. Braga, mas com uma dimensão extra. Será também uma prova de crescimento e mais uma etapa na afirmação dos minhotos como equipa de topo do futebol português.

Com Artur Jorge ao comando, o Sp. Braga, que venceu sete dos seus últimos oito jogos para o campeonato, está a caminho de fazer a sua melhor época de sempre em termos pontuais – já igualou a segunda melhor de sempre, 71 pontos em 2009-10, época em que levou a luta pelo título até à última jornada. E não está longe dos 75 pontos que valeram um quarto lugar em 2017-18.

De facto, tem corrido espectacularmente bem a aposta num homem da casa e da cidade. Sem muito que o recomendasse em termos de currículo, Artur Jorge tem sido um belo condutor de orquestra em Braga, consolidando o trabalho de outras épocas com outros treinadores. E os minhotos chegam a esta fase da época com o objectivo mínimo quase cumprido (um lugar no top 3), ainda a olhar para cima – depois de estar na casa do líder, recebe o último, vai ao Bessa, fecha o campeonato em casa com o Paços de Ferreira e ainda tem a final da Taça de Portugal.

O Benfica tem razões para ser prudente neste terceiro confronto da época com o Sp. Braga, pela simples razão de que perdeu os dois embates anteriores, uma derrota na I Liga por 3-0 no penúltimo dia de 2022, e uma eliminação nos quartos-de-final da Taça de Portugal – derrota nos penáltis após empate (1-1) em 120 minutos. E o historial recente é francamente favorável ao Sp. Braga: nos últimos dez jogos, seis vitórias, mais o empate que deu apuramento na Taça, contra apenas três triunfos benfiquistas.

Máxima força

O Benfica apresenta-se neste sábado perto da máxima força, sem lesionados ou castigados – Draxler é o único indisponível, mas o alemão pouco jogou, mesmo quando estava apto. E Schmidt vai ter um “reforço” importante, com Alexander Bah a regressar ao lado direito da defesa – assim, não será preciso adaptar Aursnes à posição, nem recorrer a Gilberto. Sabendo-se que o técnico alemão nunca se afasta muito do seu plano habitual, é provável que o sacrificado seja o jovem João Neves, uma adição recente ao “onze”, para manter a estrutura habitual do meio-campo para a frente – Florentino e João Mário, mais Aursnes, Neres, Rafa e Gonçalo Ramos.

Do lado bracarense, o único problema de Artur Jorge é a lesão de Castro, mas ele, apesar de ser uma opção recorrente, não é um titular habitual. É expectável que se mantenha o perfil táctico com três centrais, dois alas, um meio-campo com Al-Musrati e André Horta, mais um trio de ataque feito de Ricardo Horta, Iuri Medeiros e Abel Ruíz, jogadores altamente complementares e que jogam uns para os outros – todos têm mais de dez golos marcados.

Motivação e responsabilidade

Roger Schmidt conta com a memória muscular de uma equipa que se habituou a ganhar esta época, sem olhar ao nome do adversário. “É jogar à Benfica e acreditar em nós próprios. Esta época demonstrámos que não interessa o adversário, tentámos sempre colocar em prática o nosso futebol”, assinala o técnico alemão, confiante na boa forma e bom espírito dos jogadores.

“Estão motivados e cheios de confiança. Jogos como este precisam da experiência de toda a temporada. Aprendemos quando ganhamos, empatamos e perdemos. Felizmente, ganhámos a maior parte dos nossos jogos”, disse nesta sexta-feira Schmidt.

Mas olhar para o passado, acrescenta o germânico, não serve de nada. Nem pensar na derrota com Sp. Braga ou no empate com Sporting, dois adversários que estão no calendário dos “encarnados” até ao fim da época. “Não há nada a fazer para mudar esses resultados. E não têm qualquer impacto para este jogo. Olho para a situação actual. Temos de ser a melhor equipa. O passado já não interessa.”

Do lado bracarense, Artur Jorge não sente qualquer pressão e diz que a responsabilidade no jogo está do lado das “águias”. “Está do lado do Benfica, que investiu para ter a sua própria classificação. Nós queremos ser fortes, determinados e ambiciosos, e olhar para o jogo com a determinação de o poder vencer”, reforçou o técnico bracarense, que não define um objectivo para o que resta do campeonato. Mas deixa uma promessa: “Não devemos esperar menos do que um Braga forte nesta ponta final.”

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