Festival Música Viva mostra a diversidade da criação contemporânea

Desta quinta a 13 de Maio, o Festival Música Viva dará a ouvir 12 obras em estreia absoluta: uma ópera de Vítor Rua e três encomendas da Miso Music no âmbito da exposição A Guerra Guardada.

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Espectáculo Phonospermia no colectivo portuense Sonoscopia cortesia sonoscopia

Organizado pela associação Miso Music Portugal desde 1992, o Festival Música Viva tem contribuído ao longo das últimas três décadas para a divulgação de um amplo conjunto de obras musicais contemporâneas da autoria de compositores portugueses e estrangeiros de várias gerações, abrangendo uma considerável pluralidade estética. Destaca-se também o seu papel na encomenda de novas peças e na partilha de criações que fomentam as relações entre música e espaço e entre a música e outras artes, em especial no campo da nova ópera com meios tecnológicos, para a qual a sala de concertos O’culto da Ajuda constitui um palco privilegiado.

Na 29.ª edição do Festival Música Viva, que decorre entre 5 e 13 de Maio, será possível ouvir 40 obras (12 delas em estreia absoluta), repartidas por nove concertos. A abertura (esta sexta-feira, às 21h, no O’culto da Ajuda) cabe ao Sond’Ar-te Electric Ensemble, sob a direcção de Pedro Neves. Este agrupamento, que combina de forma estruturante instrumentos acústicos e meios electrónicos e se tem destacado pelo seu elevado nível técnico e artístico, apresenta música de compositores portugueses concebida nos últimos dois anos, incluindo duas estreias absolutas — Kra (2023), de João Pedro Oliveira, e Descalça (2023), de Fátima Fonte — e as peças ...de vos sourires (2020), de António de Sousa Dias; Propagation (2022), de Carlos Caires; Salsugem – 2.º quadro (2021), de Isabel Soveral; e Uma Peça Apropriada (2022), de Rui Penha.

No dia 6, a Sonoscopia, colectivo criativo do Porto, dá a conhecer o espectáculo Phonospermia, uma reflexão sobre “o imaginário poder do som, matéria invisível que nos percorre constantemente e sobre a qual nos unimos”, e no dia 8 o quarteto espanhol Sigma Project dará a ouvir Quartetos de Saxofones do século XXI. Do programa fazem parte a estreia absoluta de Echoes from a near future, de Ângela da Ponte; duas estreias nacionais (El Espacio Antrópico y… antropisco, de Miguel Farias, e Arkhé, de Inés Badalo); e duas composições de figuras marcantes da música do nosso tempo: Knossos, de Alberto Posadas, e Xas, de Xenakis.

O festival prossegue no dia 9 com dois concertos monográficos de música electroacústica pela Orquestra de Altifalantes (“Jeu d’écritures” e “Impossible moments”) dedicados respectivamente ao compositor franco-canadiano Francis Dhomont e à compositora britânica Natasha Barrett e no dia 10 dará voz aos jovens intérpretes que costituem o projecto Concrète [Lab] Ensemble, dirigido por João Quinteiro, através de um programa diversificado preenchido com música dos portugueses Luís Neto da Costa, Eduardo Patriarca, Miguel Azguime e Igor C. Silva, da luso-espanhola Inés Badalo, do italiano Matteo Tundo e do sueco Frej Wedlund.

A estreia da ópera Sonic Rumble With Green Mustard (2022), de Vítor Rua, nascida a partir do encontro com João Pedro Lourenço (percussão e performance), é uma das apostas susceptíveis de despertar maior curiosidade (dia 11). Escrita para percussão, electrónica sobre suporte, vídeo e performance, é classificada no texto de divulgação do festival como “um espectáculo de múltiplos idiomas musicais”, uma “montagem heterofónica” de difícil classificação estilística.

O Humorictus Ensemble, formação recente constituída por músicos portugueses, apresenta no dia 12 um programa para quinteto de sopros (flauta, oboé, clarinete, fagote e trompa), que assinala o centenário de Gyorgy Ligeti (1923-2006), com Zehn Stücke fur Bläserquintett, e que dá a conhecer a peça Une Folie Finie, de Miguel Azguime, composta para este agrupamento. Serão também interpretadas obras de Christopher Bochmann, Luís Tinoco e Bruno Gabirro.

No encerramento, a 13 de Maio, o Sond'Ar-te Trio — Elsa Silva (piano), Vítor Vieira (violino) e Filipe Quaresma (violoncelo) — fará a estreia de três obras encomendadas pela Miso Music no contexto da exposição A Guerra Guardada – Fotografias de Soldados Portugueses em Angola, Guiné e Moçambique (1961-1974), com curadoria de Maria José Lobo Antunes e Inês Ponte, nomeadamente: Flash & Flesh (2023), de Daniel Schvetz, Jogo Duplo (2023), de Diogo Alvim, e Como Se Fosse Um Filho (2023), de Pedro Lima. Estas composições foram inspiradas na secção da exposição dedicada às “fotos faladas”, imagens dos tempos da guerra acompanhadas por gravações de relatos e memórias dos ex-soldados, recolhidas no âmbito de uma investigação etnográfica do ICS-Universidade de Lisboa. O programa inclui ainda obras de Beat Furrer, Carlos Marecos e Sofia Sousa Rocha.

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