Quase cinco meses após o lançamento do primeiro de um conjunto de seis satélites meteorológicos de terceira geração, a Agência Espacial Europeia (ESA) divulgou nesta quinta-feira a primeira vista da Terra, numa imagem captada no dia 18 de Março. É o princípio da nova era de meteorologia por satélite que “quer fornecer dados críticos para a detecção precoce e a curto prazo de potenciais fenómenos meteorológicos extremos durante os próximos 20 anos”. O conjunto de ferramentas em órbita promete revolucionar a previsão de tempestades. Entre outras proezas.
O mais recente satélite meteorológico da Europa, o Meteosat Third Generation Imager (MTG-I1), que resulta de uma parceria entre a ESA e a Organização Europeia para a Exploração de Satélites Meteorológicos (Eumetsat) e já enviou a primeira imagem da Terra. “Lançado num foguetão Ariane 5 em 13 de Dezembro de 2022, o Meteosat Third Generation Imager-1 (MTG-I1) é o primeiro de uma nova geração de satélites que irá revolucionar a previsão meteorológica na Europa”, anuncia a ESA.
A imagem, que foi captada pelo satélite Flexible Combined Imager em 18 de Março de 2023, mostra grande parte do Norte e Oeste da Europa e da Escandinávia coberta de nuvens, com céu relativamente limpo sobre a Itália e os Balcãs Ocidentais, descreve o comunicado de imprensa da ESA divulgado nesta quinta-feira. Estes são os factos.
Depois, há a emoção de quem faz parte desta aventura. "Pode parecer estranho estar tão entusiasmado com um dia nublado na maior parte da Europa. Mas o nível de pormenor das nuvens nesta imagem é extraordinariamente importante para os meteorologistas. O detalhe adicional das imagens de alta resolução, juntamente com o facto de as imagens serem produzidas com maior frequência, significa que os meteorologistas poderão detectar e prever com maior precisão e rapidez os fenómenos meteorológicos graves", refere Phil Evans, director-geral da Eumetsat, citado no comunicado da ESA.
Para a directora dos Programas de Observação da Terra da ESA, Simonetta Cheli, “esta primeira imagem é um excelente exemplo do que a cooperação europeia no espaço pode alcançar”. O nível de detalhe conseguido era até agora inalcançável e, segundo esta responsável citada no comunicado, o novo olhar a partir de uma órbita geoestacionária, “permitir-nos-á compreender melhor o nosso planeta e os sistemas meteorológicos que o moldam”.
Mas, afinal, o que se vê aqui que a geração de satélites meteorológicos que tínhamos até agora não nos conseguia mostrar com tão boa resolução? “Detalhes como vórtices de nuvens sobre as ilhas Canárias, cobertura de neve nos Alpes e sedimentos na água ao longo da costa de Itália são visíveis na imagem. Estes detalhes não são tão claramente visíveis, ou não são de todo visíveis, nas imagens dos instrumentos da actual segunda geração de satélites”, descreve o comunicado.
A aventura vai continuar
O MTG-I1 é o primeiro de seis satélites que formam o sistema MTG, composto por quatro satélites de imagem e dois de som. Em futuras operações, cada missão combinará dois satélites de imagem e um de som a trabalhar em conjunto. A bordo há ferramentas únicas.
O olhar mais apurado desta nova “constelação” de satélites meteorológicos europeus vai trazer, por exemplo, valiosos dados sobre os pormenores das estruturas das nuvens a altas latitudes. “Isto permitirá que as previsões meteorológicas monitorizem com maior exactidão a evolução de condições meteorológicas severas em rápido desenvolvimento nessa região.”
Os satélites dedicados às imagens, como o MTG-I1, levam consigo um “caçador de raios”, um equipamento baptizado como Lightning Imager, que será “capaz de capturar eventos individuais de relâmpagos no céu, seja dia ou noite”, varrendo 80% do disco terrestre à procura de descargas atmosféricas que ocorrem não só entre as nuvens e o solo mas também entre as próprias nuvens.
Os satélites de som (MTG-S) transportarão uma sonda de infravermelhos e um espectrómetro de ultravioleta. Com a monitorização mais exacta da instabilidade atmosférica em três dimensões através das nuvens o conjunto de satélites vai representar um “importante passo em frente para alertas precoces de tempestades severas”.
Além de permitir previsões mais precisas de tempestades e outros eventos extremos, espera-se ainda que esta nova tecnologia forneça informações importantes a partir da órbita geoestacionária sobre o ozono, o monóxido de carbono e a composição de cinzas vulcânicas na atmosfera.
O conjunto de seis satélites meteorológicos permitirá também melhorar a monitorização climática a longo prazo ou a vigilância das condições do mar, bem como antecipar condições que podem afectar a produção agrícola. “É um contributo importante para a iniciativa Early Warnings For All, em particular no continente africano", sublinha Natalia Donoho, chefe da Divisão de Sistemas Espaciais e Utilização da Organização Meteorológica Mundial, OMM.
Para já, o satélite MTG-I1 está ainda numa fase de afinação e de calibração dos seus instrumentos, que deverá durar cerca de um ano. A partir do final deste ano, os dados recolhidos vão começar a ser disponibilizados aos serviços meteorológicos na Europa.
Assim, esta primeira imagem da Terra divulgada esta quinta-feira serve como antevisão do que está para vir este ano, anuncia a ESA. “Quando o sistema estiver totalmente operacional, serão produzidas imagens de todo o disco terrestre de dez em dez minutos.”
A aventura vai continuar. Neste momento, o revolucionário instrumento de infravermelhos que é uma das peças mais importantes desta nova “equipa meteorológica” está em fase de testes finais. O passo seguinte passa por integrar a ferramenta no satélite de som MTG-S. Prevê-se que o satélite esteja concluído em meados de 2024, com um objectivo de lançamento antes do final do ano.
"Após o lançamento do satélite MTG-I1, a dinâmica do programa MTG é incessante. Por um lado, estamos a apoiar as operações e a análise de dados do primeiro satélite em órbita, ao mesmo tempo que estamos a avançar para garantir a disponibilidade e o desempenho do novíssimo satélite MTG S”, diz Paul Blythe, director do Programa Meteosat da ESA. A “constelação” MTG deverá ficar completa até 2026.