Deputado do PS Sérgio Sousa Pinto diz que Costa quer forçar eleições já

Sérgio Sousa Pinto afirma que, para o primeiro-ministro, “é melhor eleições agora”, porque sabe que “o tempo corre contra ele”.

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Sérgio Sousa Pinto é deputado do PS e foi líder da JS Daniel Rocha

O deputado do PS Sérgio Sousa Pinto disse nesta quarta-feira na TVI que o primeiro-ministro “precipitou uma crise na relação com o Presidente da República para preservar a contribuição do ministro das Infra-Estruturas”. Sérgio Sousa Pinto defende que “é preciso evitar eleições por razões nacionais”, mas está convencido de que, ao tomar a opção de escolher João Galamba contra Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa prefere forçar eleições já.

“O primeiro-ministro sabe que não houve tempo [para conseguir uma alternativa] e faz uma avaliação de que o tempo corre contra ele e contra o Governo”, nomeadamente por causa da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP, diz Sousa Pinto.

E uma vez que “o Presidente da República não tem condições nem soluções alternativas para oferecer ao país”, segundo o deputado do PS, na cabeça de Costa, “apesar de tudo, é melhor eleições agora”. Sousa Pinto acredita que o secretário-geral do seu partido seguirá uma estratégia de “colar o PSD ao Chega” e “o Presidente da República ao PSD”. Nesta quarta-feira, também o presidente do PSD, Luís Montenegro, acusou Costa de querer provocar eleições antecipadas.

“Em circunstâncias normais, o ideal seria que o primeiro-ministro procurasse preservar a relação com o Presidente da República”, diz Sérgio Sousa Pinto, para quem a questão do envolvimento do SIS no “caso Galamba” está longe de estar explicada. “A procissão ainda vai no adro.”

Galamba serviu para contra-ataque

O Governo e o PS já andavam furiosos com as constantes referências do Presidente da República à possibilidade de dissolução do Parlamento. A ideia de que Marcelo estava a contribuir para a instabilidade política crescia entre os socialistas.

Ao PÚBLICO, tanto o presidente do PS, Carlos César, como o ministro Duarte Cordeiro, membro do núcleo duro de Costa, foram explícitos. Augusto Santos Silva, na sessão comemorativa do 25 de Abril, preferiu mandar recados sem referir o nome do destinatário. Mas a concertação contra uma alegada instabilidade promovida pelo Presidente da República foi evidente. Marcelo, o grande protector do executivo durante os tempos da difícil "geringonça" – e depois, quando decidiu dissolver a Assembleia da República na sequência do chumbo do Orçamento – parecia ter deixado de o ser.

A palavra "dissolução" começa a surgir várias vezes na boca do Presidente, ora para a negar, ora para a apresentar como uma possibilidade. No dia 10 de Abril, o Presidente da República disse que “o Governo não pode dar por garantido que por haver maioria absoluta não haverá dissolução”.

A 22 de Abril, afirmava – sem que ninguém lhe perguntasse, num discurso na Fundação Gulbenkian, em Lisboa – que a dissolução “era uma má notícia”, mas que “às vezes era preciso dar más notícias”.

Para o politólogo António Costa Pinto, com a recusa em demitir João Galamba contra a vontade de Marcelo, “António Costa reforça, bem ou mal, a sua autoridade política”. Segundo Costa Pinto, o primeiro-ministro tenta “reforçar a disciplina do Governo e a sua autoridade sobre ele perante a dinâmica das crises governativas necessariamente provocadas pelo caso TAP e por uma actividade discursiva do Presidente da República que tem, reconhecidamente, reforçado o seu poder político simbólico nessa dinâmica”.

António Costa Pinto acha que “não se pode dizer que Marcelo tenha sido um agente de tensão com o Governo”, mas sim “um observador de uma sucessão de crises da responsabilidade do Governo”.

Para o politólogo, o gesto de António Costa para marcar a sua “autoridade política” não é apenas uma resposta ao Presidente da República, mas a um “triângulo” mais complexo, “o desgaste da comissão de inquérito à TAP, a sucessão de crises e os apelos sucessivos ao Presidente da República para ter um maior papel”.

Não é por João Galamba “ser um grande amigo”, até porque António Costa já descartou do Governo amigos da universidade. E “raramente ministros sobrevivem por episódios bem menores”. A questão, para Costa Pinto, é que o primeiro-ministro considerou que demitir João Galamba neste momento “seria um sinal de fraqueza impressionante”.

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