Há um plano para chegar a zero extinções de espécies de plantas
Cientista propõe uma abordagem múltipla para travar a extinção de plantas. “Não há nenhuma justificação técnica para que qualquer planta conhecida se extinga”, defende Richard T. Corlett.
Que se saiba, nos últimos 250 anos extinguiram-se 571 espécies de plantas com sementes. “Mas este número está, sem dúvida, subestimado. Grande parte do planeta foi transformado antes de começar a exploração botânica; portanto, é provável que tenham acontecido muitas ‘extinções ocultas’ de espécies, ainda antes de serem identificadas”, diz Richard T. Corlett, do Jardim Tropical de Xishuangbanna, em Yunan, no Sudoeste da China. Mas é possível trabalharmos para conseguir chegar a “zero extinções de plantas”, defende, num artigo publicado na revista Trends in Plant Science.
“Não há nenhuma justificação técnica para que qualquer planta conhecida se extinga. Mas o financiamento insuficiente e a falta de pessoal qualificado ergueram barreiras para a sua conservação”, reconhece o especialista em ecologia vegetal. O cientista dirige o Centro de Conservação Integrada do Jardim Tropical de Xishuangbanna — uma região que faz fronteira com a Birmânia e o Laos, e onde existe uma região de floresta tropical que foi declarada reserva da biosfera pela UNESCO em 1993.
Richard T. Corlett sugere uma abordagem múltipla para evitar todas as futuras extinções de espécies de plantas e atingir essa meta de zero extinções. Os métodos incluem a formação de mais especialistas em botânica, construir um meta-herbário online e criar microrreservas, resume um comunicado de imprensa da revista onde publica o seu artigo.
Tal como os animais, as plantas tentam sobreviver num planeta dominado pela espécie humana e onde as alterações climáticas causadas pelos homens são uma ameaça cada vez maior. Estima-se que possam extinguir-se entre 21% a 44% das espécies de plantas vasculares — que incluem plantas que dão flor e árvores — devido a alterações nos usos da terra e práticas de colheita insustentáveis, explica Richard T. Corlett.
Mas as plantas são muitas vezes deixadas para trás nos esforços de conservação das espécies, embora sejam essenciais para a nossa sobrevivência: usamos múltiplas espécies para ter alimentos, medicamentos, madeira, fibras e muitos outros usos. Além disso, fixam o carbono e ajudam a controlar a erosão, entre outros serviços do ecossistema que nos fornecem.
“Extinções ocultas”
As barreiras que impedem a conservação das plantas são variadas, diz Richard T. Corlett. “Incluem um inventário incompleto, a baixa proporção de espécies que tem uma avaliação do estatuto de conservação, qualidade variável dos dados, acessibilidade online apenas parcial e investimento insuficiente na conservação”, tanto no local como, por exemplo, em jardins botânicos.
As novas tecnologias e a ciência cidadã podem dar uma grande ajuda, salienta. “Mas temos de estabelecer metas nacionais e globais de extinção zero para atrair maior apoio”, sublinha. “Actualmente, aceita-se que existam cerca de 382 mil espécies de plantas vasculares, mas mais 10% a 25% estão por descrever”, diz o investigador.
Uma das pontas por onde começar é tentar conhecer todas as plantas que existem. “Espécies que não estão descritas são invisíveis para a ciência e para o planeamento da conservação”, escreve Corlett. É por isso provável que aconteçam muitas “extinções ocultas” — espécies que desaparecem sem que alguma vez tenhamos tido a oportunidade de saber que elas existem.
Uma das maiores barreiras para que se possam conhecer as espécies de plantas e tomar medidas para a sua conservação é a falta de especialistas em taxonomia. Por isso, Corlett recomenda que se invista na sua formação.
Faz falta existir uma grande base de dados sobre as espécies de plantas — aquilo a que Corlett chama um meta-herbário. Nele, registos digitalizados de espécimes recolhidos em herbários poderiam ser relacionados com fotografias, avaliações do seu estatuto de conservação, planos de recuperação ou outra informação.
“Muito do valor das plantas depende de informação específica sobre as espécies de populações locais ou indígenas, alguma dela transmitida em línguas ameaçadas. Registar esta informação e relacioná-la em bases de dados devia ser uma prioridade, apesar dos desafios de lidar com diferentes sistemas de conhecimento”, escreve.
Seria necessário um grande compromisso para fazer este projecto, reconhece. “Esta base de dados online permitiria ter acesso fácil à informação necessária para salvar todas as espécies de plantas — mas, para fazê-la, será necessária a colaboração ao nível individual, nacional e global”, sublinha ainda o cientista.
Relativamente barato
A conservação das espécies de plantas pode fazer-se de várias formas. “Pode acontecer no habitat natural dessa espécie, muitas vezes sob a forma de uma reserva, ou num ambiente como o de um jardim botânico. Às vezes o que funciona melhor é uma combinação [destes métodos]”, diz Corlett. Por exemplo, pode-se criar uma microrreserva — uma zona protegida pequena, para contornar os conflitos de espaço — e manter um banco de sementes congeladas, que funcionaria como uma garantia de sobrevivência da espécie.
No entanto, “a conservação de populações no estado natural em áreas protegidas é o ideal”, afirma. “Isto permite que [a espécie] continue a evoluir em resposta às mudanças ambientais (como as alterações climáticas, novas pragas e doenças) e manter as relações de mutualismo com outras espécies, herbívoros, e agentes patogénicos, que podem extinguir-se sem as plantas que abrigam”, escreve Corlett.
E porque devemos investir para travar a extinção das plantas no nosso planeta e lutar pela biodiversidade? Richard T. Corlett tem respostas prontas.
Para começar, travar as extinções de espécies ameaçadas é uma das metas para 2050 da Convenção da Biodiversidade Montreal-Kunming, acordada em Dezembro passado. “E a conservação das plantas é geralmente muito mais barata considerando-se espécie a espécie, se compararmos com a conservação de vertebrados. Portanto, um grande aumento dos esforços para conservar [espécies] de plantas não faria aumentar muito os actuais orçamentos”, defende o cientista.
Há algumas áreas em que é preciso fazer mais investigação, diz Corlett. “Mas para chegar à extinção zero das espécies de plantas, aquilo de que precisamos não é de novidades, mas muito mais do que já existe: mais pessoas, mais espaço, mais financiamento, mais monitorização e mais intervenções locais que funcionem”, conclui.