Há mais socialistas a pedir remodelação no Governo. E querem que seja alargada

O presidente do PS foi o primeiro a defender uma remodelação da equipa de Costa. Mas não está sozinho: socialistas pedem agora uma “espécie de reset” e uma avaliação “ministério a ministério”.

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João Galamba, ministro das Infra-estruturas LUSA/MIGUEL A. LOPES

Os últimos dias têm sido especialmente intensos para o Governo de António Costa. O Ministério das Infra-estruturas, encabeçado por João Galamba, tem dado que falar devido ao incidente que envolve o seu ex-adjunto, Frederico Pinheiro, que levou consigo um computador do ministério com informações alegadamente classificadas, originando a intervenção do SIS (Serviço de Informações de Segurança). Face a este acontecimento, o presidente do PS disse ser necessária uma remodelação do Governo, ideia que, deste então, tem vindo a ser defendida por mais socialistas que, no entanto, deixam um aviso: "trocar" o ministro das Infra-estruturas não chega.

O pontapé de saída foi dado por Carlos César, que, em entrevista ao PÚBLICO, no sábado, reconheceu que o Governo está num momento "baixo", classificando a situação que envolve João Galamba como "caricata e imprópria do âmbito governamental". O presidente do Partido Socialista defendeu que os "factos que têm ocorrido têm que ser evitados" e sugeriu uma remodelação, até porque, na sua opinião, alguns dos ministros nomeados pelo primeiro-ministro "não cumpriram as expectativas".

"Há situações inevitáveis que não podem ser controladas previamente. Mas é importante que o primeiro-ministro se mantenha com grande atenção para a necessidade de ver, ministério a ministério, sector a sector, se há ou não necessidade de algum refrescamento... Essa avaliação deve ser feita pelo primeiro-ministro que trabalha diariamente com eles [os ministros]", sustenta.

Pouco tempo depois das declarações do socialista, também João Soares, ex-presidente da Câmara de Lisboa, se manifestou, apontando, na RTP, que "Carlos César disse e bem que tem de haver uma mexida", ideia com a qual a deputada socialista Alexandra Leitão também concorda.

"É preciso fazer alguma coisa dentro do Governo, que pode passar por uma remodelação. Mas só vale a pena se for para mudar perfis e fazer uma espécie de reset. Se for para mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma, então não vale a pena", disse no passado domingo no programa Princípio da Incerteza, na CNN.

A deputada considera que o Governo de Costa — que a seu ver tem deixado clara a existência de "falta de coesão interna" — ainda "não recuperou dos incidentes dos primeiros oito ou nove meses que culminaram com a saída de Pedro Nuno Santos".

Desde aí, "quando vem ao de cima um caso, dá a ideia de que toda a gente perde a cabeça e se enreda num conjunto de explicações que só vem piorar" a situação, disse a ex-ministra. "Ao mais pequeno problema, surgem incidentes, contradições, inverdades", lamenta. Em particular, a deputada do PS assumiu-se "estupefacta" com a conferência de imprensa do ministro das Infra-estruturas. Isto porque João Galamba "mete ao barulho o primeiro-ministro, o secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, a ministra da Justiça", refere.

Para Alexandra Leitão, o incidente que tem marcado os últimos dias é "pitoresco" e "sórdido" e afecta a credibilidade dos políticos e a confiança das instituições, acabando até por fazer "mal à democracia".

Remodelação deve ser profunda

Carlos César referiu ainda ao PÚBLICO que a saída de João Galamba só se justifica caso se verifique que o mesmo faltou à verdade ou cometeu "algum acto grave", algo que o socialista considerava ainda não ter acontecido.

Paulo Pedroso opõe-se a esta visão. Na RTP3, o antigo ministro do Trabalho e da Solidariedade — que falava apenas com base nas declarações de António Costa antes do início da reunião com o ministro João Galamba — disse que o responsável pela pasta das Infra-estruturas devia "tomar a iniciativa" e demitir-se. "Numa crise séria no seu gabinete foi incapaz de arbitrar a questão. Tem um gabinete em que é possível chegar a este nível de confrontação", apontou.

Para o ex-governante da área socialista, desde que António Costa falou aos jornalistas, antes ainda da reunião com Galamba, oficializou-se uma "remodelação em curso". Para Paulo Pedroso, face a uma ausência de demissão por iniciativa do próprio, seria estranho que o primeiro-ministro não o demitisse, já que foi responsável por um acto "inadmissível". O antigo ministro defende ainda que a remodelação deve ser mais profunda (e não cosmética), estendendo-se até governantes de outros ministérios, como por exemplo a ministra da Agricultura.

Apontando que é necessário "um Governo forte, na plenitude da sua capacidade de realização", também o socialista Vitalino Canas se juntou à "onda" e admitiu ter dúvidas de que "tal como está, o Governo tenha capacidade" para assegurar a resposta necessária aos desafios estruturais do país.

Em linha com as restantes opiniões, o socialista defende uma remodelação no Governo e acrescenta que a dissolução não é necessária, até porque o primeiro-ministro mantém "todas as condições para fazer as necessárias modificações" no executivo.

"Já não basta olhar para situações individualizadas de secretários de Estado ou ministros, mas sim para o Governo no seu conjunto e verificar se está com a capacidade plena", afirmou. O antigo deputado partilha da opinião de Carlos César: é necessário analisar o estado do Governo por parte do primeiro-ministro. Mas considera que o mesmo deve ser feito pelo Presidente da República no processo.

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