Sindicatos esperam mais de 1 milhão nas ruas num 1.º de Maio de unidade contra Macron
Reforma das pensões fez descer a popularidade do Presidente até ao nível que atingiu com o movimento dos “coletes amarelos”. Sindicatos esperam 1 milhão de pessoas nas ruas.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, enfrenta esta segunda-feira protestos em todo o país numa altura em que luta sem sucesso para virar a página depois da aprovação do aumento da idade da reforma de 62 para 64 anos, uma decisão extremamente impopular que desencadeou uma onda de agitação social.
A decisão acabou por cristalizar a raiva contra um Presidente que muitos consideram indiferente às suas dificuldades diárias e Macron tem sido recebido regularmente com vaias, bater de panelas e insultos quando aparece publicamente.
A popularidade do Presidente caiu para perto dos mínimos históricos atingidos na altura da crise dos "coletes amarelos", depois do seu braço-de-ferro com os sindicatos ter levado a greves em múltiplos sectores.
Os sindicatos esperam que esta seja uma grande jornada de unidade sindical como já não se via há 15 anos e que mais de um milhão de pessoas marche esta segunda-feira pelas vilas e cidades de França. O desfile mais aguardado é o da capital francesa, que servirá um pouco de mote para definir o sucesso da convocatória.
Para lá de Paris já houve manifestações durante a manhã, das mais de 300 que estão convocadas, e há relatos de que as marchas têm reunido muita gente nas ruas em todo o país, com várias cidades e vilas a baterem recordes de mobilização para um 1.º de Maio, de acordo com os organizadores.
Em Lyon, a terceira maior cidade francesa, o clima é instável como nunca antes visto numa marcha do 1.º de Mao, escreve o Le Monde. Confrontos, incêndios que libertam grossas colunas de fumo, intervenções constantes da polícia e muito gás lacrimogéneo perturbaram o desenrolar da marcha.
Também em Nantes há relatos de confrontos entre manifestantes radicais e a polícia, com os agentes a dispararem gás lacrimogéneo.
“Este 1.º de Maio será um marco”, disse Sophie Binet, líder da Confederação Geral do Trabalho. “Servirá para dizer que não nos iremos mover enquanto esta reforma [das pensões] não for retirada.”
Laurent Berger, líder da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (que já anunciou que passará o cargo à sua "número dois", Marylise Léon, a 21 de Junho), afirmou que o Governo de Macron se mantém surdo aos pedidos de um dos mais poderosos movimentos sociais em décadas. Mesmo assim, afirmou no domingo, que isso não quer dizer que esteja disposto a pôr fim às conversações com o Governo.
Macron defende a reforma dizendo que é necessária para manter as contas positivas num dos sistemas de pensões mais generosos do mundo industrializado.
Os pagamentos do sistema de pensões francês, como percentagem dos rendimentos pré-reforma, são bem superiores aos de qualquer outro lado e um homem típico francês passa mais tempo na reforma que em qualquer outra das nações da OCDE.
Mas os sindicatos dizem que o dinheiro pode ser conseguido noutro lado.
O Governo de Macron, que não tem maioria Assembleia Nacional, forçou a aprovação da legislação sem um voto parlamentar devido à falta de apoio interpartidário. Mas acabou por sobreviver a duas moções de censura.
O endurecimento da oposição política corre o risco de complicar o resto da agenda reformista de Macron, incluindo um projecto de lei do desemprego que exige que aqueles que recebem o rendimento social mínimo trabalhem ou tenham formação 15 a 20 horas por semana.
A Fitch baixou o rating do crédito soberano francês na sexta-feira para “AA-”, justificando a decisão com o facto de o possível impasse político e agitação social representarem riscos para a agenda de Macron.