Líderes do PSD e BE dizem que até o PS nota que o Governo “acabou” e “está frágil”

Luís Montenegro e Catarina Martins pedem ao primeiro-ministro que preste esclarecimentos sobre os últimos acontecimentos em torno do caso TAP.

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O primeiro-ministro, António Costa, e o ministro das Infra-estruturas, João Galamba MANUEL DE ALMEIDA

Os líderes do PSD e do Bloco de Esquerda consideraram este domingo que a sugestão do presidente do PS, Carlos César, de remodelação governamental é um sinal de que até dentro do PS se reconhece que o Governo “acabou” ou está “numa situação de absoluta fragilidade”.

“É caso para dizer que foram 13 meses falhados, perdidos, e que este Governo de alguma maneira acabou. Quem o diz não sou eu, é o presidente do PS, independentemente da semântica”, afirmou o líder do PSD, Luís Montenegro, em declarações na feira Ovibeja, numa alusão à entrevista de Carlos César ao PÚBLICO.

“A verdade é que, quando o presidente do PS afirma que o Governo tem de ser regenerado, refrescado, está a assumir que aquilo que o Governo fez nestes 13 meses foi um falhanço e estes governantes não servem, são precisos outros. Nesse aspecto, estou de acordo com ele”, continuou.

Considerando que o executivo perdeu o “seu espaço de manobra para motivar e mobilizar a sociedade” e que o primeiro-ministro mostrou “não ser capaz de ultrapassar a situação” nem ter “capacidade de liderar o Governo”, o presidente dos sociais-democratas rematou: “Ou o Governo muda ou o país tem de mudar de Governo...”

Montenegro frisou que “vários ministros estão diminuídos politicamente" e com “condições para o exercício de funções muito limitadas”, como a ministra da Agricultura — numa referência à tutelar do sector dos agricultores que se reúnem na Ovibeja — e apelou a que o primeiro-ministro dê uma “palavra de tranquilização ao país”. Se “se esconde, é mais uma demonstração de que está sem força de liderança”, desafiou.

Em relação ao caso TAP, afirmou ainda que é necessário esclarecer “cabalmente” porque é que os Serviços de Informações de Segurança (SIS) foram chamados por ordem do Governo a recuperar o computador com informação confidencial que o ex-adjunto do ministro das Infra-Estruturas, João Galamba, levou do ministério, quando “isso não é o que está contemplado na lei e na Constituição”.

“Os serviços de informação não estão à disposição do Governo. Têm lei própria”, vincou, questionando se o Presidente da República foi informado.

Silêncio de Costa é uma “péssima estratégia”, diz BE

A coordenadora do BE, Catarina Martins, por sua vez, considerou que “mesmo no PS há quem veja que há uma situação de absoluta fragilidade no Governo e que, portanto, é preciso agir”.

Em declarações à margem do Festival Desobedoc, a que assistiu no Cinema Trindade, no Porto, este domingo, disse ainda ser “verdadeiramente insustentável que o primeiro-ministro continue sem se pronunciar” depois das últimas polémicas.

Lembrou serem “casos que envolvem vários ministros, que envolvem contradições dentro do Governo, que envolvem o funcionamento do próprio Governo num dossiê, a TAP, que o primeiro-ministro tantas vezes chamou directamente a si e que, portanto, conhece bem, pelo que ninguém percebe este silêncio”.

Questionada sobre se se está perante um silêncio estratégico, Catarina Martins respondeu: “Não sei se é estratégico, mas é uma péssima estratégia para o país o primeiro-ministro não dar explicações quando é preciso.”

Sobre a comissão de inquérito à TAP, enfatizou que “está a demonstrar que há uma série de tomadas de decisão no Governo que não podem ser aceites num Governo de um país democrático e num Estado de direito como Portugal, que se leva a sério”.

“O que eu temo é que a TAP seja um sintoma do modo de funcionamento do Governo. Em todo o caso, seguramente, temos de fazer todo o trabalho na comissão de inquérito da TAP (...) e por isso é que solicitámos o conteúdo do computador do adjunto do ministro das Infra-Estruturas porque nos parece que é importante para compreender tudo o que se passou”, referiu a deputada.

E insistiu: “É essencial que o primeiro-ministro fale quanto antes. Temos um Governo muito fragilizado, o ministro João Galamba numa situação muito complicada, mas não é o único nessa situação. Não se compreende que o primeiro-ministro não tenha nada para dizer ao país.”

Catarina Martins explicou que o pedido de acesso ao conteúdo do computador de serviço do ex-adjunto do ministro João Galamba para a comissão parlamentar de inquérito se justifica por ser “a única forma de saber se houve ou não tentativa de omitir informação à comissão parlamentar de inquérito” e também para haver a “certeza de que a comissão tem acesso a todas as informações que deve ter para fazer o seu trabalho”.