Panda Ya Ya repatriado para a China no meio da tensão com os EUA
Há 20 anos no zoológico de Memphis, Ya Ya aterrou em Xangai e foi recebido por milhões de chineses depois de um ano de polémica sobre o seu estado de saúde. O companheiro, Le Le, morreu em Fevereiro.
No tempo que duraram as 16 horas de viagem entre a cidade norte-americana de Memphis e a cidade chinesa de Xangai, as boas-vindas ao panda-gigante Ya Ya alcançaram 340 milhões de leituras na plataforma de mensagens Sina Weibo. Na quinta-feira à noite, a hashtag “Ya Ya aterrou em Xangai” tinha sido vista 430 milhões de vezes.
Depois de um ano de polémica sobre o estado de saúde de Ya Ya — uma fêmea de panda que há duas décadas estava no jardim zoológico de Memphis, juntamente com um panda macho, de nome Le Le —, o repatriamento transformou-se num acontecimento nacional na China, tendo como pano de fundo as tensões políticas entre Pequim e Washington.
Com a morte de Le Le, em Fevereiro, e com o aumento da indignação online em relação ao aspecto enfermiço de Ya Ya, numa altura em que os chineses têm sido criticados pelos Estados Unidos e pelo Ocidente em geral por violações de direitos humanos, findou a estadia do panda no Tennessee, escreve a Al-Jazeera.
Há anos que Pequim tem um programa de “diplomacia panda”, através do qual os animais são emprestados a jardins zoológicos do mundo em sinal de amizade — o contrato de Ya Ya terminou em Abril. Para os receber, no entanto, é preciso cumprir um exigente caderno de encargos que implica enormes gastos.
O zoo de Memphis gastou 16 milhões de dólares (14,5 milhões de euros) para construir as instalações para Ya Ya, que nasceu em 2000 no zoológico de Pequim, incluindo um campo de quatro hectares de bambu, segundo dados do Global Times, diário estatal chinês.
“Durante a estadia dos pandas-gigantes no zoo de Memphis, foram bem tratados pelo zoológico e receberam grande afecto do povo americano”, afirmou, na quarta-feira, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning.
Com a equipa de veterinários chineses que viajou até aos Estados Unidos para acompanhar Ya Ya de volta à China seguiram os restos mortais de Le Le, que morreu de ataque cardíaco.
Por mais que tudo tenha sido tratado apenas como se tivesse chegado ao fim o prazo estabelecido para Ya Ya permanecer nos EUA, a verdade é que o regresso com tons nacionalistas e uma recepção heróica na China não se pode dissociar do actual clima de tensão entre os dois países.
A diplomacia do panda está relacionada com países com quem os dirigentes chineses têm ou pretendam ter relações comerciais profundas, uma forma de construir guanxi — um termo para relacionamentos entre indivíduos que pode ser elevado à dimensão de relações entre Estados e que implica confiança, reciprocidade, lealdade e longevidade. O que não se pode dizer que seja a situação actual entre os dois países.
Por esta altura, de acordo com o Global Times, há 60 pandas-gigantes emprestados pela China no mundo.