Nove dos 15 desalojados de prédio que desabou no Porto sem tecto para dormir
Cidadãos do Bangladesh desalojados pelo acidente passaram a última noite numa pensão em Matosinhos, mas não têm dormida para as próximas noites.
Nove dos 15 desalojados do prédio que ruiu parcialmente na Rua 31 de Janeiro, no Porto, na quinta-feira, estão sem solução para as próximas noites, disse este sábado à Lusa Romain Valentino, da organização Habitação Hoje (HH).
"Não há solução para estas pessoas. Ninguém avançou com nada. Neste momento as nove pessoas estão na rua e não sabem onde vão passar as próximas noites", relatou o porta-voz da organização que está a tentar ajudar os cidadãos do Bangladesh desalojados pelo acidente ocorrido ao final da tarde de quinta-feira.
A Câmara do Porto e a Segurança Social são, neste contexto, apontadas como culpadas da situação pelo membro da HH: "Foi feita uma declaração, de que haveria uma solução (...) mas da conversa que tivemos ontem [sexta-feira] com a Segurança Social percebemos que as coisas vão demorar e o que se pode dizer é que não há solução para estas pessoas".
O desabamento parcial do edifício de três andares deixou 15 pessoas sem tecto. Das restantes seis, "três estarão alojadas numa pensão no Bonfim e as outras, uma família com uma criança de dois anos, em casa de um conhecido", afirmou Romain, frisando, desconhecer se a "situação se mantém" pois "não tem contacto com eles".
Os nove sem solução de alojamento "passaram a última noite numa pensão em Matosinhos", disse.
"Houve uma comunicação bastante surreal da Câmara Municipal, a falar pela Segurança Social (SS), dizendo que a Segurança Social estava a avaliar uma solução permanente, o que para além de falso é ainda muito abusivo em relação à SS, que nunca o disse", criticou o dirigente da organização.
E prosseguiu: "A SS declara ser da responsabilidade da autarquia as soluções que não sejam emergências, de uma noite, situação confirmada or Rui Moreira que disse ter de ser feito pelo SAAS [Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social] e que este não recebeu o pedido o que, mais uma vez, é falso".
Romain Valentino, para sustentar a acusação feita ao autarca do Porto, relatou o "esforço da HH" na tarde de sexta-feira no acompanhamento dos moradores "quando foram direccionados pela SS para o Centro Nacional de Apoio à Integração de Migrantes (CNAIM), tendo-lhes lá sido dito que o que podiam fazer era declarar a situação à Acção Social da Câmara do Porto e esperar uma resposta".
"O que fez, primeiro por telefone, e depois a pedido do SAAS por e-mail, ficando nós à espera de uma resposta. Isto foi ontem [sexta-feira) e o e-mail deve ter sido mandado, o mais tardar, às 15h00", descreveu o responsável, acrescentando que "quase na hora do fecho do CNAIM, a funcionária disse-nos ter recebido resposta por telefone da Acção Social a dizer que não há solução".
A mesma pessoa, continuou Romain, explicou-lhes então "que o único recurso possível era a linha de emergência [Linha Nacional de Emergência Nacional]", situação que "imediatamente foi activada e que levou à solução para a noite passada em Matosinhos".
"As pessoas que ficaram no meio disto foram completamente abandonadas e não tiveram contacto de ninguém, estatal ou da câmara. Ninguém tentou ligar ou aproximar-se e perguntar se tinham apoio, qualquer coisa", lamentou.
Em resposta à Lusa, a câmara mantém que "ao SAAS Porto não chegou qualquer sinalização ou pedido de intervenção" e que "tanto quanto se conseguiu apurar o realojamento foi garantido entre o CNAIM e a Segurança Social até terça-feira, altura em que será reavaliado por aquelas entidades e actuarão em conformidade".