Jüra estreia disco no Capitólio: “O universo da liberdade sempre me fascinou”

Já foi bailarina, acrobata e actriz, até que abraçou a música como forma de expressão principal. Este sábado, em Lisboa, Jüra mostra as suas canções no Capitólio, às 21h30.

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Jüra DR

Chama-se Joana Silva e escolheu Jüra como nome artístico. Começou a lançar as primeiras canções em 2020 e agora leva a palco umas duas dezenas, entre as quais as do seu EP de estreia, jüradamor (assim mesmo, sem espaços entre as palavras). Depois de um concerto no Porto (Hard Club, no dia 21), estará este sábado em Lisboa, no Capitólio, às 21h30.

Nascida em Coimbra, em 1998, Joana viveu a infância em Alcobaça. “A minha família é de Coimbra, mas a minha mãe, que é professora, começou a dar aulas em Alcobaça, onde eles já viviam antes de eu nascer, com a minha irmã mais velha.” E foi em Alcobaça que Joana fez o Curso de Dança na Academia de Dança daquela cidade, já atraída pelas artes. “Eu sempre fui uma criança muito enérgica, sempre gostei muito de brincar aos teatros. Nas festas de Natal, sempre que tínhamos oportunidade e estávamos em família com os primos, apresentávamos danças, coreografias, teatros, fingíamos ser apresentadores, coisas desse género. Então, acho que esse universo da liberdade, de poder ser o que eu quiser, sempre me fascinou. E os meus pais sempre me deram oportunidade de experimentar muitas coisas, e a dança foi uma delas, porque havia alguma coisa na possibilidade de me expressar através do corpo que me fascinava.” E fez o curso, entre o 7.º e o 9.º anos.

Depois, fez o 10.º ano em Artes, mas diz que foi uma espécie de Ano Zero, porque percebeu que não era aquilo que queria. Até que descobriu o Chapitô e rumou a Lisboa. Nessa altura tinha 16 anos, e a experiência foi-lhe muito gratificante. “Se já me fascinava a liberdade que a arte me dava, no Chapitô percebi mesmo a força que a arte tem. E o quão pessoal pode ser essa partilha. Porque, sendo uma escola de circo, não é só circo, passamos por muitas coisas e muitas experiências, pessoais e profissionais, tudo muito intenso.”

E o que lá aprendeu levou-a a trabalhar em várias áreas: bailarina, acrobata, actriz e em dobragens de filmes de animação. Isso antes de se iniciar nas canções. “Como Portugal é pequenino, conseguimos sair da escola bem e ingressar em projectos interessantes. Do Chapitô, fiz uma peça no São Luiz com o Teatro Meridional e foi nessa peça que encontrei o Paulo B., que me levou para as dobragens. Uma coisa levou à outra.”

Quanto à música, “sempre esteve ali, paralelamente”: “Desde pequenina que gosto muito de cantar, solta, embora nunca tivesse pensado em ser cantora; expressar-me através da melodia, não tanto das palavras. E foi no Chapitô, onde fazíamos canções de brincadeira, que encontrei o meu gosto profundo por escrever, aliando depois a melodia à escrita.”

Em 2020 lançou um primeiro tema, és o amor, começando depois nas canções seguintes a eliminar os espaços entre palavras, num jogo gráfico: somozumnãodois, jüradamor (título do seu primeiro EP, editado em Maio de 2022), aluzétudo, avidavoa, voltarpramim ou ameio. O seu mais recente single, lançado em Março de 2023, tem por título uma só palavra: milagre. “Esse estilo vem também do Chapitô. Não usei isso no primeiro tema, mas depois, em conversa com amigos, levar essa maneira de escrever era bom para mim, porque escrevo assim, e podia ser algo que me aproximava aos outros.” O momento em que Joana se transforma em Jüra aconteceu também no Chapitô. “A minha alcunha é Juka. E no Chapitô andava sempre com um caderninho onde fazia desenhos, apontava frases, coisas que me vinham à cabeça, e um dia, ao rabiscar a minha alcunha, Juka, percebi que o K, se juntasse os dois pontinhos em cima, se transformava num R.” E ficou Jüra, passando os dois pontinhos que tinham suscitado a transformação a pairar como trema sobre o U.

Falando de influências musicais, Jüra diz que ouve muita coisa, sobretudo com o objectivo de “descobrir coisas novas”. Mas há um nome que de certa forma a marcou: a cantora, compositora, actriz e activista Erykah Badu. “Ouvi-a no Chapitô e foi a primeira vez que me identifiquei com a forma de expressar de alguém. Mas nunca vou pelas influências directas. Absorvo tudo o que oiço e sei que isso vai influenciar depois o que eu faço.”

Depois de uma apresentação no Hard Club, no Porto, Jüra vai apresentar ao vivo a sua música em Lisboa, no Cine-Teatro Capitólio, este sábado, às 21h30. Em Lisboa, tal como no Porto, Jüra (voz) terá consigo Pedro Serralheiro, na bateria, Miguel Garcia, na guitarra e Miguel Ferrador, na direcção musical, teclas e baixo. “Na verdade, temos 20 temas nestes concertos, porque cantamos não só as músicas do EP e as outras que já saíram, como damos a conhecer também algumas músicas novas. É uma hora e meia de concerto. No Porto correu muito bem, foi a primeira vez que cantei no Norte e quem vem ter comigo tem as letras na ponta da língua e sente mesmo o que eu estou a dizer. É uma partilha especial. Mais do que dar música, é partilhar sentimentos, e isso é do outro mundo!”

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