Espanha aprova a primeira lei da habitação da democracia

Legislação prevê introdução de tectos aos valores das rendas em certas zonas de pressão. Esquerda queria ir mais longe, direita votou contra por considerar diploma inútil.

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Pedro Sánchez vê aprovada uma lei que era esperada quase desde o início da legislatura CHEMA MOYA/EPA

O Congresso espanhol aprovou esta quinta-feira a primeira Lei de Habitação desde que Espanha vive em democracia, há mais de 40 anos. O texto era aguardado praticamente desde que o executivo de Pedro Sánchez tomou posse, mas envolveu negociações tão prolongadas que só foi votado na recta final da legislatura e num momento em que o país se prepara para entrar numa maratona eleitoral.

Esse ambiente teve efeito nas votações, com a lei a ser aprovada pelos dois integrantes da coligação, PSOE e Unidas Podemos, mais os partidos independentistas ERC (Catalunha) e EH Bildu (País Basco), ambos de esquerda. Toda a direita e outras formações separatistas votaram contra.

A medida mais emblemática (e mais controversa) do diploma é a introdução de um tecto aos valores das rendas em zonas com maior pressão urbanística, que será introduzido a partir de 2025. A par disso são alteradas as regras para que uma zona passe a ser considerada de pressão urbanística, passando a bastar que a habitação represente, em média, um esforço superior a 30% face aos salários médios de uma determinada área para ser considerada sob pressão.

Há também alterações aos procedimentos de despejo, criando-se um serviço de arbitragem para senhorios e inquilinos. Se não existir um acordo por essa via, ninguém poderá ser despejado antes de o Estado ou as comunidades autonómicas encontrarem soluções de habitação.

O Podemos queria ver inscrito na lei uma limitação ao número de alojamentos locais em zonas em que os preços habitacionais subiram muito, mas a medida acabou por não ser incluída.

Coube à líder deste partido e ministra dos Direitos Sociais, Ione Belarra, a apresentação do diploma no Congresso, onde defendeu que “as casas são para viver e não para especular” e que “o arrendamento é uma bomba de extrair recursos às classes precárias para [os dar] às rentistas”.

Pelo PP, a deputada Ana María Zurita disse que a lei “não responde aos problemas das pessoas vulneráveis ou dos jovens” e acrescentou que “não faz falta esta lei, mas sim construir [casas]”.

Pedro Sánchez anunciou na semana passada que o Estado pretende disponibilizar cerca de 50 mil fogos com rendas sociais ou para a classe média nos próximos anos, recorrendo aos edifícios e terrenos na posse de uma sociedade que gere activos de créditos malparados. A oposição questiona o timing do anúncio, a menos de um mês das eleições municipais e a pouco tempo das legislativas.

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