Deutsche Bank começou o ano com os melhores resultados da última década

Subida dos juros ajuda resultados da maior instituição financeira alemã. Banco diz-se capitalizado e tenta afastar receios mostrando lucros como prova de “resiliência”.

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O Deutsche Bank, sediado em Frankfurt, vai cortar 800 postos de trabalho Reuters/YVES HERMAN

O maior banco alemão, o Deutsche Bank, registou um resultado antes de impostos de 1900 milhões de euros no primeiro trimestre deste ano, um aumento de 12% face a igual período de 2022. É o melhor resultado líquido trimestral obtido pela instituição financeira na última década. Neste momento de maior incerteza em relação ao sector bancário a nível global, a melhoria pode ajudar a cimentar a ideia de solidez em torno da instituição financeira, quando o sector ainda está a digerir as ondas de choque das falências do Silicon Valley Bank e do Signature Bank nos Estados Unidos e da compra do Credit Suisse pelo UBS na Suíça.

Após impostos, os lucros ascendem a 1300 milhões de euros, um crescimento de 8% face aos resultados líquidos trimestrais obtidos 12 meses antes, refere o banco em comunicado.

Os dados foram anunciados na manhã desta quinta-feira e, apesar da melhoria dos resultados, as acções na Bolsa de Frankfurt vivem um dia tranquilo, com os títulos do banco a registarem uma subida na ordem dos 2% (por volta das 12h de Lisboa).

O aumento dos lucros, escreve o jornal Financial Times, deve-se aos ganhos obtidos com a subida das taxas de juro e também aos fluxos de entrada no negócio de gestão de activos nesta fase de receio de maior instabilidade nos mercados financeiros.

O administrador financeiro, James von Moltke, aproveitou a divulgação dos resultados para salientar, em comunicado, o comportamento do banco nos últimos meses e insistir que a instituição está capitalizada: “No primeiro trimestre, provámos mais uma vez a força e a resiliência do Deutsche Bank em condições difíceis. Apresentámos resultados equilibrados e uma dinâmica de crescimento em quatro actividades complementares, atraímos fluxos de entrada para produtos de investimento e demonstrámos a solidez do balanço. Os nossos rácios de capital e de liquidez mantiveram-se estáveis ou melhoraram durante o trimestre, cada um deles significativamente acima dos requisitos regulamentares, e beneficiámos da resiliência da nossa base de financiamento, ancorada na nossa base de depósitos forte e bem diversificada.”

No comunicado, a instituição diz que o principal indicador para medir o rácio de fundos próprios “aumentou para 13,6% no final do trimestre”, ficando acima do objectivo do banco, que era de 13%, e no “nível mais elevado dos últimos oito trimestres”.

“A forte geração orgânica de capital, através de uma maior rendibilidade, mais do que compensou o impacto das deduções relativas a dividendos de acções ordinárias e à compensação de acções. Os activos ponderados pelo risco ascendiam a 360 mil milhões de euros no final do trimestre, mantendo-se inalterados em relação ao trimestre anterior e diminuindo ligeiramente em relação aos 364 mil milhões de euros registados no final do trimestre do ano anterior”, refere o grupo bancário.

As bolsas de Frankfurt, Londres e Paris mantêm-se em alta nesta quinta-feira, beneficiando em parte da apresentação de resultados positivos do Deutsche Bank na Alemanha, do Barclays no Reino Unido e de empresas de outros sectores, como a Unilever, escreve a Reuters.

Durante os dias de maior incerteza sobre a resiliência do sector financeiro europeu, assim que o Governo norte-americano agiu internamente para travar um efeito de contágio depois do colapso do Silicon Valley Bank, as acções do Deutsche Bank registaram fortes perdas em bolsa, fazendo com que, no acumulado deste ano, os títulos já levem uma perda superior a 9% (fazendo a conta até quarta-feira).

A agência Bloomberg avança que o banco vai cortar 800 postos de trabalho com o objectivo de poupar 500 milhões de euros.

Em comunicado, a instituição confirma que entre as várias medidas destinadas a reduzir custos operacionais está um plano de “redução de pessoal não afecto a clientes”, bem como uma reformulação da rede de distribuição de retalho e a melhoria das operações através da automatização dos processos”. Ao todo as medidas de “eficiência adicionais” pretendem baixar os custos de 2000 milhões para 2500 milhões.

Segundo um ranking elaborado pelo grupo da agência de rating S&P, o Deutsche Bank é o nono maior banco da Europa em activos (era o oitavo há um ano). Só é superado pelo HSBC (do Reino Unido), pelo BNP Paribas e o Crédit Agricole (França), pelo Santander (Espanha), pelo Barclays (Reino Unido) e pelo UBS (Suíça), Grupo BPCE e Société Générale (França). A descida de posição do banco alemão deve-se à subida da maior instituição financeira suíça, a UBS, que em Março comprou o Credit Suisse por cerca de 3000 milhões de francos suíços (cerca de 3030 milhões de euros) para evitar o colapso da histórica instituição suíça.

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