Os Da Weasel voltaram “para ficar” e contam a sua história em biografia
Da Weasel - Uma Página da História, da jornalista Ana Ventura, é publicada esta quinta-feira. E o futuro? Estamos neste momento a decidir, a analisar”, diz João Nobre. “Entusiasmo, não falta”
A história da banda que os irmãos Carlos e João Nobre criaram há 30 anos, no quarto de ambos, em Almada, é contada em Da Weasel - Uma Página da História, da jornalista Ana Ventura.
"Não houve uma pergunta que eu tenha feito a que qualquer um deles tenha dito 'não vou responder a isso', e não houve uma linha que tivesse sido escrita que, depois de passar pelo crivo deles, tivessem dito 'olha, eu disse isso, mas agora retira'". O que eles me disseram e o que eu escrevi é exactamente o que está no livro", disse à Lusa Ana Ventura, autora da biografia Da Weasel - Uma Página da História, que é editada esta quinta-feira.
O livro, dividido em nove capítulos, recua a memórias anteriores à formação da banda, com cada um dos actuais elementos — Jay (João Nobre), Pacman (que o público agora conhece como Carlão), Virgul, Guilhas, Quaresma e DJ Glue — a partilhar um pouco da sua própria história, e termina alguns meses depois do concerto de regresso aos palcos, em Julho do ano passado no festival Alive, em Oeiras, no distrito de Lisboa.
Jay tinha 22 anos e Carlão 18 quando começaram a criar o que mais tarde seriam os Da Weasel. Nessa altura, "em circunstância alguma", Jay pensou que a banda atingisse o estatuto que hoje tem. "Quando começámos a compor, a criar as primeiras coisas, era mesmo para o espelho. Somos irmãos, eram as nossas brincadeiras. Projectávamos alguns cenários, porque é isso que o espelho faz, cria aquelas ilusões, mas não passavam disso mesmo, ilusões. Nunca me passou pela cabeça que pudéssemos chegar onde chegámos", disse, em entrevista à Lusa.
No livro, as histórias são todas contadas na primeira pessoa. Ana Ventura entrevistou os elementos do grupo em separado e, a cada capítulo que escrevia, ia juntando as várias peças do puzzle, dando ao leitor a ideia de ter acontecido um diálogo entre os seis.
Embora seja a autora da biografia, Ana Ventura quis ser "um veículo para a história" dos Da Weasel. "Queria mesmo pô-los a eles a contar a sua história", afirmou.
Fã da abordagem de registo oral — é isso que enquanto leitora procura —, a jornalista salientou que "por muito interessante que seja" o que tem para dizer, "o que interessa realmente é o que eles têm para dizer".
"Se eu colocasse isto numa narrativa de forma diferente, deixavam de ser eles a contar a sua história e passava a ser eu a contar a história deles, e não era isso que eu queria", sublinhou.
Da história dos Da Weasel fizeram também parte a DJ Yen Sung e o músico Armando Teixeira, que acabaram por deixar a banda por motivos diferentes, explicados no livro.
Os dois não foram entrevistados para a biografia, por decisão da autora. "É importante referir que foi uma decisão minha, enquanto autora", sublinhou, explicando que a ideia do livro "é ser a biografia oficial dos Da Weasel actuais". Da Weasel - Uma Página da História é "a história dos seis elementos que hoje, em 2023, fazem parte dos Da Weasel".
Ao longo de quase 600 páginas, os músicos partilham muitos momentos bons, como os concertos que deram no Johnny Guitar e no Coliseu dos Recreios, ou quando actuaram no mesmo palco que os Beastie Boys ou os Red Hot Chili Peppers — bandas de referência para vários elementos da banda. "Diria que celebrámos todos estes momentos com a maior alegria possível e foram momentos mágicos", referiu Jay.
O concerto no festival Alive, no ano passado, que reuniu os seis em palco 13 anos depois do último concerto juntos, na Amadora, em Setembro de 2009, entra também para a lista de melhores momentos.
"Neste retorno, a coisa que mais me impressionou, a mim e a toda a gente, todos os técnicos, toda a malta da produção que estava no Alive, não foi a produção dos Da Weasel, foi o amor e o carinho que estava no ar. Foi incrível", partilhou o músico.
Como em todas as histórias, também na dos Da Weasel houve momentos menos bons. "Isto é como um casal. Os três primeiros aninhos são de uma forma, há quem diga que ao sétimo é que rebenta a bolha de uma série de situações. É exactamente a mesma coisa, e depois ou cedes, ou abraças, ou passas-te da cabeça. E passámos por essas situações todas, tal e qual um casal", disse Jay.
Na biografia fica a saber-se que a banda acabou duas vezes, mas só uma das separações foi anunciada: a de 2010. A primeira vez "foi algures entre o [álbum] 3º Capítulo [1997] e o Podes fugir mas não te podes esconder [2001]". Pelo meio, a banda editou Iniciação a uma vida banal — O manual (1999), um dos álbuns "mais ásperos, mais difíceis e mais complicados" da carreira.
"A nossa maior bênção foi termos crescido paulatinamente, grão a grão, mas os saltos entre os discos foram tão grandes, em termos de reconhecimento, de público, de impacto. E essa pressão, de álbum para álbum, colocou-nos numa situação de lidar com situações novas, com tours cada vez maiores, mais tensas. E isso revela a personalidade de cada um", partilhou.
Embora não editem temas novos desde 2007, muitos continuam actuais: "Recebemos esse feedback dos próprios fãs: 'É incrível como a música X parece que foi escrita hoje', 'é incrível como a música Y foi tirada de um episódio que se passou ontem'", contou Jay.
"Para ficar"
Os Da Weasel regressaram "para ficar" e, embora esteja ainda em aberto o que isso significa, está prevista para este ano uma "mega-exposição" com peças que marcam a carreira da banda.
"Os Da Weasel vieram para ficar. Mas estamos neste momento a decidir, a analisar - o assédio é muito grande também. Entusiasmo, não falta. E quando sentes carinho, naturalmente não podes ficar por aqui", afirma Jay.
Depois do concerto no Nos Alive, no Verão passado, foi anunciado um novo concerto, para Julho deste ano, no festival Marés Vivas, em Vila Nova de Gaia.
Quanto ao que irá acontecer depois, Jay diz que "está tudo em aberto, até porque há elementos [da banda] que têm a sua vida própria".
"Portanto, há aqui uma série de factores para contrabalançar, para pesar", referiu, lembrando que "o regresso [se] proporcionou porque [se] resolveram uma série de coisas em definitivo".
"Já anunciámos o regresso, estamos nesse processo de desfrutar, de ver como é que as coisas evoluem e correm. Estamos a gostar imenso, a sentir esse carinho, por isso depois do Marés Vivas logo se vê, logo se decide o que se vai fazer, a todos os níveis", afirmou.
Ao longo do tempo, a banda fez um "levantamento, de peças, objectos, raridades, que vai dar origem a uma mega-exposição, a ser anunciada em breve".
De acordo com Jay, serão mostradas "coisas inacreditáveis". "Nós próprios ficámos surpreendidos com algumas peças e alguns objectos, de uma riqueza tremenda. Foi um levantamento exaustivo, de tudo o que pudesse ter interesse. Foi feito, está feito, e estou ansioso para que possamos viver esse momento, essa celebração, que vai ser pública, vai ser para todos", disse.
A discografia dos Da Weasel inclui seis álbuns de estúdio, um EP e dois DVD ao vivo, na qual se encontram canções como God Bless Johnny, Dúia, Agora e para sempre (a paixão), Ressaca, Dou-lhe com a alma, Dialectos da ternura e Tás na boa.
Segundo Jay, "ficaram coisas por publicar". "Há algumas raridades, algumas pérolas, que ficaram na gaveta. Vamos ver o que é que pode dar", disse, explicando que "nem sequer há material para um EP, quanto mais para um disco".
Questionado sobre a possibilidade de criarem músicas novas, Jay respondeu: "Não é uma resposta politicamente correcta, mas enquanto tivermos isto tudo para processar, para pensar, para reactivar e para activar, não vamos sequer pensar em músicas novas".
"Este retorno 12 anos depois foi tão difícil, a nível técnico, tão difícil a tantos níveis, porque tivemos que ir ao baú, fazer reset a muita coisa, para ir buscar lá atrás quais eram as rotinas, como é que executávamos as coisas", justificou.
Jay, por exemplo, precisou de "reaprender centenas de acordes, para não defraudar as pessoas, que estavam habituadas a ver uma determinada sequência de movimentos, de interactividade". "É tanta coisa para resolver, que não nos deixa sequer espaço para pensar em criar", reiterou.