Bienal de São Paulo divulga primeira lista com 76% de artistas do Sul Global

Muitos nomes que reflectem sobre as diásporas, principalmente africana, mas também sobre as culturas ancestrais, numa bienal que se propõe coreografar a diferença.

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Luiz de Abreu, "Samba do crioulo doido", 2004 Gil Grossi
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O artista e curador Ayrson Heráclito fará uma dupla com o músico Tiganá Santana Leo Monteiro / Fundação Bienal de São Paulo
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A coreógrafa Ana Pi forma uma dupla com o líder espiritual Tata Mutá Imê (candomblé)
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Fotografia digital de Aline Motta Fundação Bienal de São Paulo
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Instalação "Condição Inegociável" de Daniel Lie Daniel Lie

Ainda não é a lista completa que há-de ultrapassar os cem artistas, mas a Bienal de São Paulo, a inaugurar no início de Setembro, divulgou esta quinta-feira a primeira lista com 43 artistas, incluindo quatro duplas e dois colectivos.

Considerada a mais importante exposição do Hemisfério Sul, a escolha desta 35.ª edição foi feita por um colectivo de curadores, de que faz parte a artista e académica portuguesa Grada Kilomba, juntamente com os brasileiros Diane Lima e Hélio Menezes, bem como o espanhol Manuel Borja-Villel, que durante os últimos 15 anos dirigiu o Museu Reina Sofia em Madrid. Segundo o comunicado de imprensa hoje divulgado, a lista “é fortemente representativa de artistas do Sul Global”.

Nas contas da Fundação Bienal de São Paulo, 76% dos participantes são “provenientes de localidades fora do circuito hegemónico”. Entre os artistas divulgados até agora, “92% são negros, indígenas e/ou não brancos”, prometendo uma bienal com muitas descobertas.

A 35.ª edição da Bienal de São Paulo, que escolheu para título um paradoxo — “Coreografias do Impossível” —, quer mostrar “práticas artísticas diversas, de diferentes partes do mundo” — da dança à performance, passando pelo cinema e pela música — capazes de “construir espaços e tempos de percepção que desafiam a rigidez da linearidade do tempo ocidental”, como as cosmologias ameríndias ou a temporalidade queer.

"Como corpos em movimento são capazes de coreografar o possível, dentro do impossível?" — uma proposta que se afirma como um convite às "imaginações radicais".

O comunicado, que não identifica os artistas por nacionalidade, acrescenta que os restantes nomes serão anunciados ainda durante o primeiro semestre.

Para já, não constam da lista artistas portugueses, mas é improvável que não se juntem alguns nomes, uma vez que tem sido grande a afinidade de Portugal com esta exposição internacional, desde que abriu portas em 1951 em São Paulo, onde decorre todos os dois anos no Pavilhão da Bienal do Parque Ibirapuera, desenhado pelo arquitecto Oscar Niemeyer​.

Entre os nomes agora anunciados, há vários artistas já desaparecidos – como Sarah Maldoror, Stanley Brouwn, Nadal Walcott, Elda Cerrato, Elizabeth Catlett, Gabriel Gentil Tukano, Santu Mofokeng ou Wilfredo Lam —, nomes históricos que não fazem parte do cânone da história de arte ocidental.

A lista inclui vários nomes visíveis no actual circuito da arte contemporânea e das artes performativas, como a dupla Pauline Boudry e Renate Lorenz, Sammy Baloji, Anna Boghiguian, Bouchra Ouizguen, Ellen Gallagher, Trinh T. Minh-há, Torkwase Dyson, Niño de Elche ou Julien Creuzet, que representará França na próxima Bienal de Veneza, entre outros.

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A imagem gráfica da bienal é da artista Nontsikelelo Mutiti Fundação Bienal de São Paulo

Um quarto dos artistas são brasileiros, com nomes mais estabelecidos como Ayrson Heráclito e Rosana Paulino nas artes visuais ou Luiz de Abreu e Ana Pi na dança, com esta última a formar uma dupla com o líder espiritual Tata Mutá Imê (candomblé). Além de Ayrson Heráclito, que foi curador juntamente com Hélio Menezes da importante exposição Histórias Afro-Atlânticas no MASP em 2018, surgem também outros vencedores ou nomeados para o Prémio Pipa, o mais relevante no Brasil para os artistas emergentes, como Castiel Vitorino Brasileiro, Denilson Baniwa, Aline Motta e Tadáskía. Daniel Lie, que se define como pessoa não binária, de origem indonésia-pernambucana e já apresentou trabalho no New Museum em Nova Iorque, é um dos artistas a quem a bienal encomendará uma obra, revela a Folha de São Paulo.

Além de uma natural maioria de nomes brasileiros, estarão presentes artistas de Marrocos, Índia, Guatemala, África do Sul, mas também originários do Congo, Zimbabué, Turquia, Haiti, Egipto, Jamaica, Líbano, entre outros, enquanto a quase totalidade dos artistas a trabalhar nos EUA e Europa estão ligados à diáspora, maioritariamente africana.

Mas há algumas excepções brancas, como a dupla de artistas Pauline Boudry e Renate Lorenz, que representaram a Suíça na Bienal de Veneza de 2019, contestando exactamente a ideia de nacionalidade, cujo trabalho explora práticas queer, desde o género à noção de tempo. No espaço europeu, um espanhol como Niño de Elche, que revolucionou o flamenco nos últimos anos, nasceu em Alicante, no sul do país vizinho.

A imagem gráfica da bienal, que trabalha o motivo da trança no cabelo afro, foi encomendada à artista Nontsikelelo Mutiti, nascida no Zimbabué e actualmente professora na Universidade de Yale.

Veja a lista dos artistas da 35.ª edição aqui.

Artigo alterado a 2 de Maio: corrige identidade de género de Daniel Lie

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