Montenegro fala em “empobrecimento” do país e “apodrecimento” do Governo
“Nós no PSD nunca governamos nem vamos governar com o apoio da extrema-esquerda ou extrema-direita”, disse também o líder Montenegro, voltando a enxotar o Chega sem nunca se lhe referir.
Numa sala quente e praticamente cheia no SANA Malhoa, Luís Montenegro, presidente do PSD, dirigiu-se esta quarta-feira ao seu Conselho Nacional. Montenegro focou grande parte do seu discurso — que durou cerca de 30 minutos e foi marcado pela teatralidade e vigor — na exposição de duas ideias que “resumem aquilo que é hoje Portugal”: o “empobrecimento” do país e o “apodrecimento” do Governo.
E expandiu: a seu ver, o empobrecimento do país é expresso em “muitas dimensões”. A “económica” — especificando através da “perda do poder de compra” —, a “saúde pública enfraquecida”, a educativa e outros “sectores menos falados”, como o “desporto e a cultura”.
Ainda, através do alegado crescimento dos “fenómenos de insegurança e criminalidade”, da dita “asfixia da classe média com impostos” e dos pensionistas que, afirma, “foram maltratados pelo Governo”. No entender de Montenegro, o “resultado do Governo de António Costa” é um “país pobre que prejudica a vida das pessoas”.
Quanto ao que classificou como “apodrecimento” do Governo, Montenegro referiu-se aos “casos e casinhos e casões” que “todos conhecemos”. Apontou também às políticas a “falência de alguns serviços”, como a “justiça”, trazendo à baila o caso de Sócrates; o agravamento da carga fiscal — “António Costa é muito eficiente a cobrar impostos”, disse — e, ainda, a questão da TAP, criticando o facto de o primeiro-ministro “não dizer nada ao país”. “Estas pessoas não se enxergam”, afirmou a certa altura, afiando a crítica.
“No pasa nada”
No início do discurso, antes de aquecer a chapa onde depois viria a tentar queimar o Governo, Montenegro deixou notas ao Conselho Nacional. Notas essas que, apesar de serem dirigidas aos camaradas de partido, procuraram ser um sinal político para os portugueses. Que quer realizar o Congresso Nacional a 25 de Novembro foi uma delas: uma data, nas suas palavras, com o “simbolismo da assunção da liberdade plena do país para travar ímpetos extremistas que hoje estão em voga”.
É interrompido — “Contra os comunistas!”, ouve-se da plateia —, retoma a palavra, e é novamente interrompido: “Contra o Chega!”. Pequeno silêncio e palavra de novo: “Os extremismos são todos nocivos, quer os da esquerda, quer os da direita”, diz, equilibrando a balança sem nunca falar do Chega. Depois, o local: Setúbal — “Estamos motivados para ir a todo o lado até aos sítios mais difíceis”, afirmou, notando tratar-se do único distrito de Portugal onde nunca houve qualquer congresso social-democrata.
Repescou o momento em que António Costa disse que a comunicação social insuflava o Chega e notou que se fosse ele a dizê-lo seria um problema. Mas como é António Costa, “no pasa nada”, disse em espanhol. “As televisões e as redacções vivem bem com isto. Há muito interesses em Portugal que vivem bem com António Costa e o PS”, bradou.
A ferida de 2015 ainda dói
Ainda, espaço para algum sangue da ferida aberta desde 2015: “O Presidente da Assembleia da República (…) [no discurso no 25 de Abril] dizia: é preciso respeitar a vontade do povo. Estava ali sentado e não queria acreditar. As pessoas que perderam as eleições em 2015, que não tinham a vontade do povo para governar, que se foram juntar à extrema-esquerda anti-NATO. Como é possível que queiram atirar pedras para a casa do PSD? Como é possível que falem em vontade popular?”, gritou, mais uma vez, electrificando uma sala que se desdobrou em aplausos.
“Nós no PSD nunca governamos nem vamos governar com o apoio da extrema-esquerda ou extrema-direita” — retomou, entre “muito bens” que saíam salpicados da plateia. “Somos a alternativa ao socialismo e o porto de abrigo dos que não são extremistas ou radicais. Aqueles que querem mais clareza que perguntem a António Costa se é capaz de dizer que nunca mais vai governar com extremistas e que também nunca o fez. Quem é claro em Portugal quanto àquilo que quer para o futuro?”, notou, aquecendo uma sala que já estava quente suficiente.
E por fim, termina, numa espécie discurso de protovitória certamente alicerçado nas últimas sondagens: “Todos os indicadores estão no sentido de que estamos na linha correcta. Por isso eles andam tão nervosos, cheios de medo, desesperados. (…) Eles sentem que as coisas estão a mudar e nós também. Com espírito de missão e responsabilidade. Com noção de que Portugal é capaz de fazer muito melhor do que aquilo que tem feito. Estamos aqui para merecer ter o maior número de votos e mandatos no Parlamento”.