Guaidó entra a pé na Colômbia para participar em cimeira da oposição

Em Bogotá, a prioridade para os partidos da oposição venezuelana é que o Governo de Maduro marque uma data para as eleições do próximo ano.

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Juan Guaidó deixou de ser Presidente interino da Venezuela no final do ano passado Reuters/MANAURE QUINTERO

O dirigente da oposição venezuelana, Juan Guaidó, viajou de surpresa para a Colômbia para participar na cimeira internacional sobre a crise política venezuelana que decorre na terça-feira.

Guaidó quer manter “reuniões com as delegações internacionais” que vão participar no encontro em Bogotá organizado pelo Governo de Gustavo Petro, que se tem empenhado em normalizar as relações com a Venezuela e em procurar uma solução para a crise política e social que se arrasta no país vizinho há quase uma década.

Num comunicado divulgado esta segunda-feira, o líder oposicionista disse ter atravessado a fronteira com a Colômbia a pé, “da mesma forma que milhões de venezuelanos o fizeram” antes. A degradação da situação política e económica na Venezuela nos últimos anos originou um êxodo para vários países da região, com especial incidência para a Colômbia que terá recebido perto de 2,5 milhões de venezuelanos.

Guaidó foi nomeado Presidente interino da Venezuela em 2019 pela Assembleia Nacional, onde a oposição ao Governo de Nicolás Maduro era maioritária. A situação foi justificada na altura pelas acusações de manipulação eleitoral das eleições presidenciais de 2018, que foram vedadas à oposição. A presidência de Guaidó foi reconhecida a nível internacional por mais de 50 países, incluindo os EUA e a União Europeia, mas, sem nunca conseguir exercer poderes efectivos, o líder oposicionista viu-se com cada vez menor margem de manobra.

Ao mesmo tempo, o regime de Maduro conseguiu manter-se coeso e tem resistido à pressão interna e externa. No final do ano passado, a própria coligação que reúne os partidos da oposição decidiu pôr fim ao mandato de Guaidó como Presidente interino, admitindo o falhanço da sua estratégia.

A opção passa agora por tentar derrotar o chavismo nas urnas. O ponto principal da conferência organizada pela Colômbia é precisamente obter do Governo venezuelano o compromisso para a marcação das eleições do próximo ano. Com uma data fixada, o ideal é que haja acordo para outras garantias, como o convite para que a UE possa enviar observadores eleitorais, que se retirem as inabilitações eleitorais a alguns dirigentes da oposição ou que sejam libertados presos políticos, explica o El País.

Depois de defender o boicote às eleições, Guaidó quer agora apresentar-se como candidato às eleições primárias que os partidos da oposição pretendem organizar. A sua posição como líder da oposição tem sido altamente contestada nos últimos tempos e é incerto se a sua candidatura poderá vir a ser bem-sucedida.

O dirigente oposicionista acusa o regime de estar a “elevar as ameaças” contra si. “Exijo a liberdade para os quase 300 presos políticos que permanecem nos calabouços, que se deixe de perseguir a minha família, a minha equipa e a todos aqueles que lutam por uma Venezuela melhor”, afirma Guaidó.

A participação de Guaidó na cimeira organizada pela Colômbia é ainda mais surpreendente porque o político foi muito crítico quanto à forma como Petro tem tentado normalizar as relações diplomáticas com a Venezuela. Antes de um encontro entre o Presidente colombiano e o homólogo dos EUA, Joe Biden, na semana passada, Guaidó pediu-lhe para não ser um “porta-voz de Maduro”.

A postura de Petro tem sido amplamente diferente da abordagem do seu antecessor, Iván Duque, que se tornou um dos líderes sul-americanos mais críticos de Maduro e defendia publicamente o seu afastamento do poder.

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