Fox News anuncia saída de Tucker Carlson

Apresentador era uma das principais faces do canal, muito popular entre o eleitorado de Donald Trump. Saída é anunciada uma semana depois do acordo com a empresa Dominion.

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Carlson, de 53 anos, apresentava um programa com o seu nome desde 2016 Reuters/Brendan McDermid

O canal Fox News anunciou nesta segunda-feira a saída do pivô Tucker Carlson, uma das suas principais figuras e um dos nomes mais influentes nos media norte-americanos junto do eleitorado fiel a Donald Trump.

A notícia da saída abrupta de Carlson surge uma semana depois de a Fox News ter fechado um acordo extrajudicial com a empresa de máquinas de voto electrónico Dominion, num processo que custou ao canal 787,5 milhões de dólares (716 milhões de euros).

Na queixa contra a Fox News, por difamação, a Dominion exigia uma indemnização de 1,6 mil milhões de dólares (1,4 mil milhões de euros); o acordo entre as duas partes evitou que várias figuras do canal – incluindo Carlson e Rupert Murdoch, o presidente da proprietária da Fox News, a News Corp – fossem confrontados num julgamento, transmitido para todo o país, com o seu papel na promoção das queixas infundadas de Trump sobre fraude eleitoral na eleição presidencial de 2020 nos EUA.

Num comunicado lacónico, emitido na tarde desta segunda-feira, a Fox News anunciou que chegou a acordo com Tucker Carlson para a saída do apresentador e especificou que o último programa foi transmitido na sexta-feira, dia 21 de Abril.

"Agradecemos-lhe o seu serviço ao canal como apresentador e, antes disso, como colaborador", lê-se no comunicado.

Convite da RT

Tucker Carlson, de 53 anos, apresentava o seu programa na Fox News o "Tucker Carlson Tonight" – desde 2016, sendo hoje a personalidade da televisão dos EUA mais seguida e respeitada pelas franjas mais extremistas do eleitorado conservador.

Grande parte do programa de Carlson centrava-se nos seus próprios comentários e opiniões sobre a actualidade política nos EUA, onde o Partido Democrata e o actual Presidente norte-americano, Joe Biden, eram retratados como agentes do caos e forças do mal, por oposição ao ex-Presidente Donald Trump.

O futuro de Carlson no panorama televisivo dos EUA não foi imediatamente conhecido, sendo provável que se torne na principal figura de um outro canal conservador como a Newsmax ou a NewsNation –, ou que lance o seu próprio grupo de media.

Assim de a saída de Carlson ter sido anunciada, o pivô norte-americano recebeu um convite do canal russo RT, financiado e controlado pelo Governo da Rússia – e cujas posições sobre a guerra na Ucrânia eram partilhadas por Carlson no seu programa.

"Hey, Tucker Carlson, podes sempre questionar mais com a RT", sugeriu o canal na rede social Twitter.

Mentiras em 2020

O processo por difamação movido pela empresa Dominion está no centro de uma reorganização interna na Fox News, depois de o canal ter sido forçado a desembolsar uma soma milionária para evitar a ida a julgamento.

Em 2021, os responsáveis da Dominion e do fundo de investimento que detém a empresa, o Staple Street Capital, acusaram vários jornalistas e dirigentes da Fox News de terem mentido deliberadamente aos seus espectadores, ao promoverem queixas de fraude eleitoral que sabiam ser infundadas.

Ao mesmo tempo, num processo separado, a Dominion fez a mesma acusação em tribunal contra personalidades ligadas ao ex-Presidente dos EUA, incluindo Rudolph Giuliani e Sidney Powell, dois dos advogados mais activos no período pós-eleitoral de 2020 na promoção das queixas de Trump.

Na altura, e já depois de as queixas de Trump terem sido litigadas, sem sucesso, em dezenas de processos nos tribunais, incluindo no Supremo Tribunal dos EUA, a Fox News continuou a fazer eco da acusação de que Joe Biden podia não ser o vencedor legítimo da eleição presidencial.

Em vários programas diários e semanais, durante meses, a audiência da Fox News – composta na sua maioria por apoiantes de Trump – quase só teve contacto com entrevistas e opiniões que sugeriam – ou que defendiam abertamente – a ideia de que Trump tinha sido vítima de fraude, sendo a Dominion um dos principais responsáveis por isso.

Pela voz de personalidades como Giuliani e Powell, a empresa foi acusada de ter manipulado a contagem dos votos de várias formas, como parte de uma teoria da conspiração que ficou implantada, até hoje, nos sectores mais extremistas do Partido Republicano.

Na base de todas as acusações está uma teoria da conspiração segundo a qual a Dominion teria sido criada na Venezuela para garantir as sucessivas eleições de Hugo Chávez e contaria com financiamento de "dinheiro comunista".

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