China garante respeito pela soberania e integridade territorial da Ucrânia

Josep Borrell exigiu esclarecimentos a Pequim após declarações “totalmente inaceitáveis” do embaixador da China em França sobre o estatuto das antigas repúblicas da União Soviética.

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EPA/WU HAO

Mais assertivo ao vivo do que nas mensagens publicadas no Twitter, o Alto Representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia, Josep Borrell, juntou-se ao coro de protesto e indignação com as declarações “totalmente inaceitáveis” do embaixador da China em Paris, Lu Shaye, que numa entrevista televisiva, pôs em causa a soberania dos países que resultaram da dissolução da antiga União Soviética — caso da Ucrânia, mas também da Estónia, Letónia e Lituânia, os três Estados bálticos que restauraram a sua independência em 1991 e passaram a integrar a UE no grande alargamento de 2004.

O chefe da diplomacia europeia deplorou as palavras do representante da China em França, e exigiu um esclarecimento sobre “o pensamento oficial do governo sobre a independência e soberania de alguns dos Estados-membros da UE”, e também de “outros países que fizeram parte da União Soviética” — que Pequim se viu forçado a prestar, na forma de uma nota do ministério dos Negócios Estrangeiros assinada pela sua porta-voz, para calar o ruído e furor provocado pela entrevista de Lu.

“A China respeita o estatuto de Estados independentes e soberanos, bem como a integridade territorial de todas as nações que emergiram com o colapso da União Soviética e que são membros de pleno direito da Organização das Nações Unidas”, repetiu Mao Ning, de viva voz, numa conferência de imprensa em Pequim em que se distanciou das afirmações do embaixador chinês em França, “que não reflectem a política oficial, nem a posição consistente e clara da China” na matéria.

Em comunicado, a embaixada da China em Paris precisou que Lu Shaye “expressou as suas opiniões pessoais” durante uma entrevista ao canal de informação LCI, que pertence ao grupo TF1. O embaixador, que não é estranho a polémicas, embrulhou-se na resposta a uma pergunta sobre a Crimeia, dizendo que o território que foi ilegalmente anexado pela Rússia em 2014 tinha originalmente sido oferecido à Ucrânia pelo Presidente da União Soviética, Nikita Khrushchev, e vincando que “nenhum dos antigos estados soviéticos tem um estatuto efectivo na lei internacional, pois nunca houve nenhum acordo [internacional] para concretizar o seu estatuto como nações soberanas”.

Para Borrell, com os esclarecimentos de Pequim, o caso ficou arrumado. “Como era de esperar, a China não põe em causa a soberania das ex-repúblicas soviéticas, sejam elas no Báltico ou no Cáucaso. Não vale a pena perder mais tempo a discutir um incidente que já foi devidamente clarificado. Acontece a muita gente, por vezes, expressar-se de uma forma equívoca”, relativizou o alto representante, no final de uma longa reunião do Conselho de Negócios Estrangeiros da UE, esta segunda-feira, no Luxemburgo — onde, como habitualmente, as atenções estiveram concentradas nas questões relacionadas com a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia.

No entanto, a discussão a 27 sobre a China vai prosseguir, e até intensificar-se nas próximas semanas, em preparação da reunião do Conselho Europeu de 29 e 30 de Junho, no qual os líderes vão “reavaliar” o relacionamento entre Bruxelas e Pequim e “recalibrar” a sua estratégia para a China. “Essa é uma das questões mais importantes da nossa política externa”, sublinhou Borrell.

Em relação à guerra na Ucrânia, o alto representante tranquilizou o Governo de Kiev sobre o compromisso da UE com o fornecimento de munições de diversos calibres (e principalmente obuses), garantindo que o plano aprovado pelos 27, tanto para acelerar a entrega do material disponível nas reservas nacionais, como para proceder à compra conjunta de munições de 155 milímetros, está prestes a entrar em velocidade cruzeiro.

Segundo disse, os Estados-membros já apresentaram pedidos de reembolso pelo material enviado nas últimas semanas no valor de 600 milhões de euros, e deverão finalizar ainda esta semana o acordo que permitirá lançar o primeiro concurso internacional para o fornecimento de munições (o procedimento será depois organizado pela Agência Europeia de Defesa).

Na reunião, os ministros discutiram ainda a situação da Geórgia e da Moldova, outras duas antigas repúblicas soviéticas que pediram a integração na UE, e vêem a sua segurança ameaçada pela proximidade da guerra da Ucrânia e pela pressão da Rússia.

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