Em seca, Algarve deve reflectir sobre actividades que são possíveis com menos água

Água será cada vez menos. Entre os projectos para diversificar as fontes de água na região estão uma dessalinizadora no Algarve e a captação de água do rio Guadiana, com recurso a verbas do PRR.

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Imagem de drone da Barragem da Bravura em Janeiro de 2022, altura de uma das secas mais severas a atingir Portugal Miguel Manso

O agravamento da seca no Algarve deve obrigar a reflectir sobre o modelo de desenvolvimento da região para definir que actividades podem ter futuro num cenário de escassez de água, defendeu o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL). "Aquilo que estamos a fazer é, pelo menos, garantir que não falta água para o ciclo urbano da água e, depois, é preciso pensar que actividades, que tipo de produção agrícola se pode ter, com a água cada vez em menor quantidade", disse à Lusa António Miguel Pina.

Parte do sotavento (leste) encontra-se em seca severa, mas o barlavento (oeste) também sofre com o agravamento da situação, estando a ser feitos, segundo o presidente da AMAL, investimentos para garantir a partilha de água nas diferentes albufeiras, entre sotavento e barlavento, e o aumento dessa capacidade.

"O sistema [de barragens] tem comunicação [entre barlavento e sotavento], mas é preciso aumentar essa capacidade, porque pode ser necessário um maior volume de água a transferir das albufeiras do sotavento para as albufeiras do barlavento", justificou o também presidente da Câmara de Olhão.

António Miguel Pina disse ainda que estão a ser feitos investimentos nas redes, de forma a diminuir as perdas, outros para aproveitar as águas residuais, principalmente nos abastecimentos aos campos de golfe, e em alguns casos à agricultura, e também para ter novas fontes de água.

Entre os projectos para diversificar as fontes de água que abastecem a região estão a instalação de uma central de dessalinização no Algarve e a captação de água do rio Guadiana, através do Pomarão, com recurso a verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

"Mas há que fazer uma reflexão mais profunda, e a médio e longo prazo, e é isso que se pretende com o Pacto para a Água, porque o modelo de desenvolvimento do Algarve tem de ser pensado contando com esta variável água na sua definição", defendeu.

António Miguel Pina considerou que é preciso "olhar para quem são os grandes consumidores" de água no Algarve, ter presente que "a agricultura representa 60%, o ciclo urbano da água 32% e o golfe 6%", para depois se reflectir sobre as actividades económicas que são viáveis em função da água que vai haver no futuro.

"É preciso deixar também bem claro que o golfe, que consome apenas 6% da água, tem um valor acrescentado bruto igual à agricultura na nossa região, que consome 60%", observou, frisando que é preciso perceber "se é possível continuar a crescer" com produções ou determinadas espécies agrícolas, mas sem precisar quais.

O presidente da AMAL esclareceu que "não se está a falar de retirar o que já há" na agricultura da região, ma sim "falar em ponderar se o crescimento da actividade agrícola se pode fazer nos mesmos moldes que foi feito até hoje" no Algarve.

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