Quase 80% do território de Portugal continental já está em situação de seca

Apenas 21,8% do território se encontra em condições normais, ou seja, sem falta de água. IPMA prevê que, mesmo que a precipitação regresse em níveis normais, Sul do país continuará em “seca fraca”.

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A região do Vale do Tejo é uma das áreas em que a seca se agravou Nuno Ferreira Santos

A onda de calor que atingiu Portugal continental na primeira quinzena de Abril aumentou a área do país em seca meteorológica, de acordo com um boletim intercalar do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) publicado esta sexta-feira.

Na actualização sobre a seca meteorológica registada em Portugal Continental até 15 de Abril, o IPMA escreve que 28,3% do território se encontra em situação de seca fraca, 21,2% em seca moderada, 18,6% em seca severa e 10,1% em seca extrema. Ou seja, apenas 21,8% do território se encontra em condições normais, ou seja, sem falta de água.

Numa quinzena em que as temperaturas máximas estiveram quase sempre acima do valor médio mensal, com precipitação muito abaixo do normal em todo o território, houve uma “diminuição significativa” da percentagem de água no solo. As regiões Nordeste, o Vale do Tejo e o Baixo Alentejo registam valores inferiores a 20% de água no solo em relação à capacidade de água utilizável pelas plantas.

O IPMA registou, assim, um aumento da área em seca meteorológica, estendendo-se até à região Centro e ao interior Norte. Na região Sul, houve um aumento da intensidade da seca meteorológica, predominando as classes de seca severa a extrema.

Em Abril, águas mil?

Segundo o IPMA, a “seca meteorológica” caracteriza-se pela falta de água que decorre do desequilíbrio entre a precipitação e a evaporação (esta última depende de outros elementos, como a velocidade do vento, insolação ou a temperatura e humidade do ar).

Ao agravar-se, a seca meteorológica pode estar associada a seca agrícola (desequilíbrio na água disponível no solo), a seca hidrológica (relacionada com a redução dos níveis médios de água nos reservatórios) e a seca socioeconómica (associada ao efeito conjunto destes impactos nas populações).

O IPMA prevê diferentes cenários para a evolução da situação de seca, consoante “cenários diferentes de ocorrência da quantidade de precipitação”. Caso continuemos a ter precipitação com níveis inferiores ao normal, poderá haver um aumento da área e da intensidade da seca meteorológica, “destacando-se a região Sul nas classes de seca moderada a extrema”.

Num cenário de “Abril, águas mil” - na linguagem do IPMA, com “valores da quantidade de precipitação superiores ao normal” -, poderá diminuir tanto a área como a intensidade da seca, mantendo-se, contudo, “ainda grande parte do Sul na classe de seca fraca”.

As mais recentes previsões do instituto indicavam que a partir de domingo, 23 de Abril, o calor vai voltar, com temperaturas acima dos 30 graus, depois de uma sexta-feira em que a chuva vai reaparecer em todo o território e os termómetros baixar para níveis mais modestos. “Temos previsto 30 graus na segunda-feira para o Alentejo e com tendência a subir na terça e na quarta-feira”, disse ao PÚBLICO a meteorologista Paula Leitão, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

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