Retirada aérea de portugueses no Sudão é “impossível”. Novo cessar-fogo acordado

Pelo menos 20 portugueses continuam retidos no Sudão, onde prosseguem confrontos entre o Exército e as forças rebeldes. Retirada por carro é alternativa ao encerramento do aeroporto de Cartum.

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Confrontos no Sudão, entre Exército e forças paramilitares, foram intensificados no último sábado Reuters/ABDULLAH ABDEL MONEIM

Pelo menos 20 pessoas com nacionalidade portuguesa continuam retidas no Sudão, que nas últimas semanas vive sob confrontos entre o Exército e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês).

Ao PÚBLICO, o cônsul honorário de Portugal no Sudão, Suliman Abdelmagid, confirmou que “o número [de portugueses identificados no país] vai aumentar”, uma vez que várias pessoas possuem nacionalidade portuguesa e brasileira, o que poderá levar alguns cidadãos com dupla nacionalidade a recorrer ao passaporte português para tentar sair do país.

Numa altura em que documentos, localizações e informações continuam a ser reunidos para aferir quantas pessoas irão precisar de apoio diplomático, o cônsul informou que, entre os portugueses identificados a trabalhar no Sudão, “alguns acabaram de chegar, há três meses, outros estão no país há três anos”.

O cônsul sublinhou a importância de avaliar as necessidades dos portugueses, uma vez que “80% de Cartum está há cinco dias sem electricidade”. Ainda que, até ao momento, as pessoas com passaporte português reúnam condições alimentares e de higiene suficientes, a ordem transmitida é para permanecer em casa e poupar energia, face ao contexto, “que está a mudar de hora a hora”.

Além disso, lembrou Suliman Abdelmagid, os hospitais sudaneses foram também afectados pelos confrontos. Os jornalistas da Reuters no Sudão descrevem hospitais com falta de água, sem mantimentos e sem electricidade para as máquinas de apoio médico. A ausência de segurança nas imediações leva os profissionais de saúde a enviar os doentes para casa.

O líder regional da Organização Mundial de Saúde, Ahmed al-Mandhari, revelou à Reuters a sua “extrema preocupação” face às denúncias de “ataques armados contra instituições de saúde e sequestros de ambulâncias durante o transporte de doentes com os médicos no interior”.

Segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde do Sudão, pelo menos 270 pessoas foram mortas e mais de 2600 feridas desde o fim-de-semana, em resultado dos combates entre o Exército e os paramilitares.

Uma vez que há confrontos junto a zonas nevrálgicas, como os aeroportos, em especial o de Cartum, de onde saem os voos internacionais e que está encerrado, Suliman Abdelmagid confirma que a retirada via aérea é “impossível”. Por isso, em alternativa, podem ser delineados planos para viajar de carro até países vizinhos e, depois, por avião, para Portugal. Contudo, ressalvou o cônsul, “a prioridade é manter os portugueses seguros e com mantimentos suficientes, só depois vamos pensar na retirada”. Além disso, acrescentou, está a ser planeada em conjunto com a delegação da União Europeia no Sudão.

O Sudão faz fronteira com a República Centro-Africana, Chade, Egipto, Líbia, Eritreia, Etiópia e Sudão do Sul.

Segundo a agência Reuters, o grupo rebelde RSF e o Exército sudanês acordaram esta quarta-feira um novo cessar-fogo, com início às 18h locais (16h em Portugal continental) e duração de 24 horas. A interrupção dos combates prevista para terça-feira foi violada –​ de acordo com a Reuters, foram ouvidos disparos de tanques em Cartum.

​Esta terça-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros assegurou que não existe registo de portugueses afectados e que está a acompanhar a situação através da embaixada no Cairo (Egipto), responsável pelo contacto com os portugueses no Sudão, país no qual o Governo não tem representação permanente.

O Governo português recomenda, no site da Embaixada no Egipto, que os emigrantes residentes no Sudão “se mantenham no interior das suas residências ou dos espaços onde se encontram”, uma vez que “não estão reunidas condições mínimas de segurança para que as pessoas se possam deslocar ao exterior”. Aos interessados, o Ministério dos Negócios Estrangeiros disponibiliza na página da embaixada vários contactos de emergência, entre os quais o do cônsul honorário.

Os confrontos começaram no sábado entre as Forças Armadas, comandadas pelo líder de facto do país desde o golpe de Estado de Outubro de 2021, o general Abdel Fattah al-Burhan, e as RSF, chefiadas pelo general Mohamed Hamdane Daglo, conhecido como “Hemedti”, que orquestraram em conjunto o golpe de 2021, mas que se tornaram entretanto inimigos.

Os dois generais eram aliados desde o golpe que levou ao derrube do ditador Omar al-Bashir, em 2019, que estava no poder há três décadas.

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