Lula da Silva condena invasão da Ucrânia e propõe iniciativa de paz

A Ucrânia convidou o Presidente brasileiro a visitar Kiev, depois de Lula da Silva ter sido criticado por dizer que o fornecimento de armas pelo Ocidente contribuiria para o prolongamento do conflito.

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A Casa Branca disse que o "tom de Lula não era de neutralidade", quando criticou o Ocidente Reuters/UESLEI MARCELINO

O presidente do Brasil, Lula da Silva, condenou esta terça-feira a violação da integridade do território ucraniano pela Rússia e voltou a pedir uma mediação entre os Estados para acabar com o conflito, uma iniciativa de paz que foi criticada pelo Governo ucraniano.

Durante o encontro com o Presidente da Roménia, Klaus Iohannis, Lula disse que um grupo de Estados se deveria unir para ajudar a intermediar um acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia.

As declarações acontecem depois de ter gerado um tumulto entre os aliados ocidentais ao afirmar, no fim-de-semana, que os EUA e a União Europeia (UE) estavam a prolongar o conflito ao fornecer armamento à Ucrânia.

Um porta-voz da Casa Branca acusou Lula de "repetir a propaganda russa e chinesa sem examinar os factos". Esta terça-feira, a Casa Branca afirmou que o "tom de Lula não era de neutralidade". Em Washington, um especialista disse que as autoridades norte-americanas deixaram claro o descontentamento da administração de Biden aos homólogos brasileiros no que diz respeito às críticas de Lula. A Casa Branca não respondeu à pergunta da Reuters relativamente aos supostos contactos.

Num jogo de palavras, o assessor de política externa de Lula, Celso Amorim, designou as críticas dos EUA como sendo "absurdas" e insistiu que o Brasil não partilhava da posição da Rússia. "O Brasil defende a integridade territorial da Ucrânia", disse Amorim à TV Globo. Acrescentou, no entanto, que, "enquanto não existirem negociações, a paz ideal para ucranianos e russos não acontecerá. Deve haver concessões."

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, visitou esta segunda-feira o Presidente brasileiro em Brasília e agradeceu os seus esforços de paz, referindo que as visões sobre o conflito são partilhadas entre o Brasil e a Rússia.

A Ucrânia criticou a proposta de Lula, uma vez que o Brasil trata "a vítima e o agressor" da mesma forma. Esta terça-feira, convidou o Presidente brasileiro a visitar o país devastado pela guerra para ver por si mesmo as consequências da invasão russa. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Oleg Nikolenko, disse que a Ucrânia está a acompanhar com interesse os esforços de Lula para encontrar uma solução para a guerra. Mas rejeitou a visão que Lula partilhou, durante o fim-de-semana, de que os países que enviam armamento para Kiev estão a prolongar o conflito.

A União Europeia também rejeitou a sugestão de Lula de que tanto a Ucrânia quanto a Rússia são culpadas pela guerra. O porta-voz dos assuntos externos da UE, Peter Stano, disse que toda a ajuda pretende garantir a "defesa legítima" da Ucrânia.

Lula disse que a Rússia deveria devolver o território ucraniano, mas sugeriu que a Ucrânia poderia sacrificar a Crimeia, ocupada por forças russas desde 2014, uma sugestão rejeitada pelo Presidente ucraniano.

Volodymyr Zelensky pediu aos líderes mundiais para adoptarem o seu plano de paz de dez pontos que, além de pedir a retirada das tropas russas e o fim das hostilidades, pressupõe a restauração das fronteiras originais da Ucrânia com a Rússia.