A crise foi atrás do Benfica para Milão
“Encarnados” fora da Liga dos Campeões após empate (3-3) com o Inter. Musa salvou equipa de Schmidt de nova derrota.
O Benfica chegou a fazer os seus adeptos acreditarem que esta podia ser uma época especial na Europa, mas aquilo que mostrou nesta quarta-feira foi o espelho do que tem vivido nas últimas duas semanas: crise. A precisar de recuperar dois golos de desvantagem, os “encarnados” marcaram três, mas a verdade é que também sofreram três no empate (3-3) com o Inter Milão no Giuseppe Meazza. Os “encarnados” podem ter salvo, de alguma forma, a sua honra nesta segunda mão, mas não foi o suficiente para chegar às meias-finais da Liga dos Campeões.
Havia urgência, mas o Benfica entrou sem urgência. Havia o imperativo de marcar um golo, mas o Benfica não se conseguia aproximar da baliza de Onana. Tal como acontecera há uma semana na Luz, o Inter era uma equipa confortável na sua pele, com a segurança acrescida de estar em vantagem e tacticamente mais do que equipada para contrariar um Benfica que depende muito de transições e pouco equipada para o ataque planeado. E sem ganhar duelos para ter superioridade no ataque, tudo o que Roger Schmidt apresentava no Giuseppe Meazza era inútil.
Mesmo que no plano estratégico as coisas não funcionassem, poderia sempre haver individualidades para resolver. Mas nem isso o Benfica tinha. E o Inter, cuja única responsabilidade no jogo era defender e deixar passar o tempo, agradeceu aquilo que os “encarnados” lhe ofereceram – que não era bem o domínio do jogo, mas um controlo perfeito da eliminatória. Nestas condições, dificilmente os experientes “nerazzurri” iriam perder a cabeça.
O Inter tinha marcado na Luz apenas na segunda parte, mas levou bem menos que isso a marcar na sua casa. Tudo começou num duelo que Dzeko ganhou a Otamendi aos 14’. Lautaro Martínez voltou a ganhar no duelo com o central argentino do Benfica e meteu para Barella. O italiano chegou primeiro que Grimaldo, devolveu a Lautaro e recebeu à entrada da área. Tirou Chiquinho da jogada e, de pé esquerdo, atirou a contar. No primeiro remate que fez, o Inter marcou. E não pareceu estranho.
O choque do golo sofrido não deu maior urgência ao Benfica, que continuou sem aparecer, sem criar o que quer que fosse. A excepção aconteceu aos 31’, num livre directo de Grimaldo que obrigou Onana a sujar os calções. E aos 38’, num raro ataque com sentido dos “encarnados”, Rafa criou superioridade a partir da direita, fez o cruzamento e Aursnes, de cabeça, fez o empate. Foi inesperado, mas era o que o Benfica precisava para voltar a erguer os braços.
O golo do empate provocou algo incaracterístico em Schmidt: depois do intervalo, o alemão arriscou, tirando um desastrado Gilberto (Bah faz muita falta, de facto) para lançar David Neres, um daqueles que tem nos pés o poder de resolver. E o Benfica, como ainda não se tinha visto nesta eliminatória, andou por cima, com mais bola, com mais intenção atacante, agora sim, com urgência.
Mas o Inter, repetimos, nunca perdeu o controlo. Aguentou o embate, deixou o Benfica perder a moral e, aos 65’, fez o 2-1. A jogada começou na direita, onde Aursnes estava como lateral adaptado. Mkhitaryan combinou bem com Dimarco e este serviu na perfeição Lautaro para um golo fácil. Este golo como que garantia ao Inter um encontro nas meias-finais com o seu rival AC Milan, para uma dose dupla do “derby della Madonnina” em contexto Champions.
O Inter, superior ao Benfica a todos os níveis e no conjunto dos dois jogos, ainda marcou outra vez, aos 78’, num excelente remate cruzado de Correa, após mais um passe de Dimarco, tirando Otamendi (outro jogo desastrado) do caminho. Já era demasiado para os “encarnados” ainda acreditarem num milagre que nunca esteve perto de acontecer.
Neres ainda acertou no poste aos 83’, após um erro de Brozovic na saída para o ataque, e António Silva, aos 86’, ainda fez o 3-2, num cabeceamento após livre de Grimaldo. Já no tempo de compensação, Musa, um homem com poucos minutos, mas sempre impactante, conseguiu empatar. O jogo terminou pouco depois.
E assim se despediu o Benfica da Liga dos Campeões, onde amealhou muitos milhões e fez grandes exibições frente a grandes equipas. Mas a última imagem que deixou foi de uma equipa em crise. E os golos que marcou não disfarçam essa condição.