Ventura quer que Marcelo esclareça se Chega pode ser governo

Na audiência desta quarta-feira em Belém, André Ventura questionará o Presidente da República sobre se Marcelo está “a criar entraves ou dificuldades à presença do Chega no Governo”.

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André Ventura reunir-se-á com Marcelo esta quarta-feira LUSA/TIAGO PETINGA

O presidente do Chega, André Ventura, será recebido, na quarta-feira, a seu pedido, pelo Presidente da República. Nesta audiência, Ventura pedirá a Marcelo Rebelo de Sousa que esclareça se aceita uma solução de governo que inclua o seu partido. A audiência já tinha sido pedida no início do mês, na sequência da aprovação do novo decreto sobre a morte medicamente assistida, que teve a oposição do Chega, e acontece um dia depois de o Presidente da República receber o líder do PSD, Luís Montenegro.

O líder do Chega indicou que, além deste tema, quer também abordar com o chefe de Estado a "situação política, que está já num ponto sem retorno, e a situação económica e social".

"Certamente vamos insistir na ideia de que estamos num ponto sem retorno em relação ao Governo, que o Governo de António Costa chegou ao fim, na nossa perspectiva já não tem uma solução, um ponto de reconstrução, e que estamos prontos, dentro daquilo que seja a votação que os portugueses nos quiserem dar, para assumir o nosso papel como alternativa, independentemente das plataformas de entendimento possíveis", indicou.

André Ventura disse que quer "questionar o Presidente da República sobre a veracidade das informações que foram tornadas públicas de que será o próprio a criar entraves ou dificuldades à presença do Chega no Governo".

O presidente do Chega vai pedir a Marcelo Rebelo de Sousa que clarifique se "pediu uma separação de águas ao PSD e passou para fora a ideia" de que não aceitará "um governo que tenha o Chega presente". Ventura apontou que o Presidente da República "nunca transmitiu isso" ao Chega directamente e defendeu que "para o país é importante saber".

"Estamos a falar de um partido que é o terceiro maior, que nas sondagens está à volta dos 15%. Com uma percentagem destas, não poder ter lugar no Governo por imposição de Belém é discutível se é legítimo ou não, mas enfim, o Presidente tem os seus poderes constitucionais, mas é preciso que seja clarificado e dito às pessoas 'olhe, o Presidente nunca vai aceitar um Governo com o Chega', conforme algumas notícias sugeriram ou insinuaram", defendeu.

Apontando que Marcelo Rebelo de Sousa "já percebeu que dificilmente haverá uma maioria aritmética política sem o Chega", o líder deste partido considerou que o Presidente da República "está a passar a ideia de que está a dificultar o trabalho à direita e ao centro-direita, quando nunca o dificultou à esquerda e à extrema-esquerda".

Apesar de ressalvar que o Presidente da República "não tem de ser o motor da oposição", observou que este também não pode ser "uma oposição à oposição".

Candidatura de Ivo Rosa é um "escândalo"

Notou que Marcelo gosta deste "jogo" para depois sublinhar que tanto o "país" como o "futuro da direita" não são um jogo. Diz ainda que Montenegro e Marcelo estão articulados, acusando o último de ter "obrigado" o primeiro a dizer "com o Chega, não".

E deixa um recado a Luís Montenegro: as suas palavras "terão um alcance do qual o próprio se arrependerá a breve trecho".

Sobre a TAP, o Chega vai pedir ao Presidente da República que "tenha em atenção o que está a ser divulgado" na comissão parlamentar de inquérito e tenha "um papel de fiscalização que neste momento o Parlamento está um pouco impedido de fazer, visto existir uma maioria absoluta do PS".

Outra questão que o presidente do Chega quer abordar com o Presidente da República tem que ver com o facto de o juiz Ivo Rosa ser um dos candidatos a procurador europeu. Ventura considerou que é "um escândalo" e passa "para os portugueses a imagem da maior promiscuidade entre acção da justiça e a acção do Governo".