Montenegro a sós com Marcelo deixa posição sobre o Chega no “recato”

Líder do PSD foi recebido, esta tarde, pelo Presidente da República e propôs que Portugal evite a data de 9 de Junho para as europeias, procurando que haja outro dia alternativo.

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Montenegro preferiu criticar o Governo depois de ser recebido (sozinho) como “líder da oposição” Nuno Ferreira Santos

Depois de se ter demarcado do Chega e de se afirmar como “alternativa ao Governo”, o líder do PSD foi recebido (sozinho) pelo Presidente da República, mas optou por deixar “no recato” os aspectos sobre a estratégia do partido. À saída da audiência, Luís Montenegro fez uma declaração aos jornalistas para criticar o Governo e propor que Portugal possa realizar as europeias numa data diferente da que for marcada para outros países da União Europeia.

Foi pública a divergência entre Marcelo Rebelo de Sousa e o presidente do PSD sobre a alternativa (ou a falta dela) ao Governo do PS. Agora, depois de ter estado 40 minutos com o Presidente da República, no âmbito da iniciativa Sentir Portugal (que esta semana decorre em Lisboa), o líder social-democrata preferiu deixar o assunto na esfera privada. “Naturalmente [há] aspectos que não quero que sejam tornados públicos”, afirmou, sublinhando que são questões que “funcionam no “recato das relações institucionais de colaboração e cooperação”. Montenegro não esteve acompanhado por nenhum membro da direcção do PSD como, por vezes, fazia o antigo líder do PSD Pedro Passos Coelho.

Se foi audível a diferença de opiniões nas últimas semanas entre Marcelo e Montenegro sobre a estratégia do PSD como partido da oposição (e as suas relações no espaço da direita), o líder social-democrata parece querer encerrar este capítulo. “Relativamente a aspectos mais envoltos nesse recato do relacionamento institucional, compreendem que não vou falar deles”, disse, dirigindo-se aos jornalistas no final de uma declaração em que não respondeu a perguntas.

Depois de o Presidente ter questionado, em Março passado, em entrevista ao PÚBLICO e à RTP, a preponderância do PSD face aos partidos mais pequenos à direita para construir uma alternativa ao PS, Montenegro aflorou esse ponto ao referir-se ao PSD como “um grande partido”, com “grande expressão parlamentar, autárquica” e que “lidera dois governos regionais”.

Aliás, a agenda do Presidente da República indicou que a audiência desta terça-feira era com o “líder da oposição” [sic], em vez de o apresentar como presidente do PSD. Afastado o cenário de dissolução, pelo menos para já, Marcelo estará atento à evolução da situação política em duas dimensões: a actuação do Governo e a da oposição.

Após a clarificação de Montenegro de que dispensará o Chega de uma eventual futura solução governativa, Marcelo espera que o PSD consiga crescer nas sondagens para provar que pode ser uma alternativa ao PS só com o apoio da Iniciativa Liberal. Em Belém, regista-se que, em Espanha, o PP já tem uma vantagem considerável nas sondagens face ao PSOE, o que não acontece em Portugal.

Duas datas para europeias “não é impossível”

Na declaração após a audiência em Belém, o líder social-democrata disse ter transmitido ao Presidente a preocupação com a marcação da data de 9 de Junho de 2024 para as europeias por ser véspera de feriado em Portugal e incluído num fim-de-semana prolongado (e na mesma semana que o feriado de Santo António em Lisboa) e ser uma “via verde para uma abstenção histórica”.

Nesse sentido, Montenegro sugeriu que o Governo procure que as eleições sejam marcadas noutra data — “em Maio ou a 16 de Junho” — “ou que se abra uma data alternativa” para que as europeias possam ocorrer em Portugal num dia diferente do resto da União Europeia. “Não é impossível”, afirmou.

O dia 9 de Junho está a ser apontado como a data provável para as europeias em Portugal (entre 6 e 9 de Junho em toda a União Europeia) tendo em conta alguns condicionalismos noutros países e também relacionados com a primeira data do sufrágio para o Parlamento Europeu em 1979.

Na mesma declaração, Montenegro aproveitou para dizer que transmitiu ao Presidente a ideia de que há dois países, o dos “powerpoint e anúncios do Governo” e o do país da “vida real”, em que as pessoas têm “dificuldades” para fazer face às despesas.

“O Governo não está a compreender a real situação em que os portugueses vivem. Isso é mau”, afirmou.

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