Von der Leyen arruma polémica sobre Taiwan e reafirma respeito da UE pela política de “uma China”
Presidente da Comissão Europeia defendeu a sua visita a Pequim, ao mesmo tempo que Macron, para assegurar que a UE é “honesta” e “clara” na sua mensagem.
Sem nunca se referir à entrevista do Presidente de França, Emmanuel Macron, no regresso da sua visita oficial a Pequim, a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, procurou pôr um ponto final na polémica relativa à posição dos 27 sobre Taiwan, reafirmando o compromisso europeu com o principio de “uma só China” — uma politica “de longa data” e que Bruxelas não pretende pôr em causa com a sua revisão estratégica da relação bilateral, no sentido de “eliminar os riscos” e corresponder aos novos “imperativos económicos e de segurança” da União Europeia.
“O respeito da UE pela política de ‘Uma China’ é de longa data. Temos apelado consistentemente à paz e estabilidade no estreito de Taiwan, e temo-nos oposto firmemente a qualquer mudança unilateral do statu quo da ilha, em particular através do uso da força”, lembrou a líder do executivo comunitário, numa intervenção durante um debate do Parlamento Europeu sobre as relações entre a UE e a China, esta terça-feira, em Estrasburgo.
Ursula von der Leyen usou exactamente a mesma formulação de outros líderes europeus que sentiram a necessidade de esvaziar a controvérsia e clarificar a posição comum da UE em relação a Taiwan, na sequência das declarações de Macron distanciando a Europa de um potencial conflito entre a China e os Estados Unidos.
“Seria uma armadilha para a Europa se, no momento em que começa clarificar a sua posição estratégica [no tabuleiro mundial], fosse apanhada em perturbações ou crises que não são nossas”, afirmou o Presidente francês, numa entrevista conjunta ao diário Les Echos e ao site Politico.
O debate desta terça-feira no Parlamento Europeu serviu para a líder do executivo comunitário explicar a nova abordagem da UE face a uma China “mais ambiciosa” e “mais assertiva” na sua postura estratégica. “É um facto que Pequim virou a página da era da reforma e abertura, e entrou numa nova era de segurança controlo”, declarou Von der Leyen, que aproveitou a oportunidade para prestar contas sobre a sua viagem a Pequim, que coincidiu com a visita de Estado de Emmanuel Macron que provocou tanta celeuma.
“Uma das principais razões pelas quais achei que era importante fazer a viagem a Pequim ao lado do Presidente Macron foi por considerar que é necessário assegurar que somos tão honestos e claros nas nossas mensagens em Pequim, como somos em Bruxelas ou aqui em Estrasburgo”, justificou Ursula von der Leyen. “Uma parte essencial dos nossos esforços diplomáticos para a redução dos riscos passa pela redução do espaço para equívocos, mal-entendidos ou erros de comunicação, em conversas que podem ser muito difíceis”, acrescentou.
A presidente da Comissão Europeia não disse se considerava que esses esforços diplomáticos — e o próprio objectivo da sua deslocação a Pequim — foram postos em causa por Emmanuel Macron, que no regresso da China insistiu na necessidade de a UE traçar um rumo independente para a sua política externa e afirmar-se como um “terceiro pólo” entre os Estados Unidos e a China, “sem entrar numa lógica de bloco a bloco” e sem tornar os países europeus “vassalos”.
Palavras classificadas como “inquietantes” e “perigosas”, e que foram imediatamente criticadas por muitos dos seus parceiros europeus, que salientaram a importância do fortalecimento da aliança transatlântica, no actual contexto de apoio à Ucrânia na sua defesa da guerra de agressão da Rússia.
“Quando fiz o meu discurso sobre a China, há umas semanas, disse que a política da UE para a China assenta numa forte coordenação entre os Estados-membros e as instituições europeias, como forma de evitar as tácticas de dividir para conquistar que sabíamos que teríamos de enfrentar”, recordou Von der Leyen. “E nos últimos dias e semanas, começámos a ver essas tácticas em acção”, observou, sem atribuir demasiada importância às ondas de choque da entrevista de Macron.
Realista, Von der Leyen repetiu que dado o “estatuto económico e internacional” da China, e os interesses geo-estratégicos da UE, não faria qualquer sentido adoptar uma postura de afastamento ou de confronto com Pequim. “Claramente, essa não é uma solução viável ou desejável. A relação com a China é demasiado importante para nós”, considerou. “O que devemos fazer é desenvolver a nossa própria abordagem, que sendo distinta nos deixa também margem para cooperarmos com outros parceiros”, concluiu.