17 de Abril de 1969: a “inaudita guerra da sala de aula”

A caminhada dos valores de Abril ainda está por concluir. Se no passado exaltávamos a necessidade da liberdade, hoje, mais do que nunca, este direito fundamental deve ser enaltecido e nunca esquecido.

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Megafone P3: 17 de Abril de 1969: a “inaudita guerra da sala de aula” Matilde Fieschi

Se hoje podemos cantar a liberdade, em muito se deve a 17 de Abril de 1969 e à “inaudita guerra” do Departamento das Matemáticas. Este é um dos primeiros momentos em que se deu um grande passo no longo caminho que foi trilhado até à concretização do 25 de Abril de 1974.

Esta “inaudita” guerra, como todas as outras guerras, tem rostos, intervenientes, espaço e motivações. É importante entender todos estes aspectos para retratar este importante momento que celebra o seu 54.º aniversário. De um lado das trincheiras, os estudantes que lutavam com paus e pedras; do outro, a maquinaria de guerra avançada da ditadura do Estado Novo.

Vejamos como a estratégia “militar” arcaica estudantil fez cair o sofisticado exército do Estado Novo, conduzindo-os, assim, à vitória nesta “inaudita guerra” do Departamento das Matemáticas da Universidade de Coimbra.

Viajemos então até ao dia 17 de Abril de 1969. Numa visita de Américo Tomás à Universidade de Coimbra, um estudante interrompeu o então Presidente da República para "pedir a palavra" em nome dos estudantes.

Por causa disso, foi preso pela PIDE, levando a que a cidade de Coimbra fosse invadida por forças policiais. Da repressão nasceu o luto académico e uma crise que só terminou cinco anos depois com o 25 de Abril de 1974. Este estudante, presidente da Associação Académica de Coimbra, chama-se Alberto Martins.

Quanto às motivações? Essas eram relativamente simples (aos olhos de hoje). Alberto Martins pediu a palavra para denunciar a falta de liberdade e de democracia na Universidade e para exigir a autonomia universitária e a modernização do ensino superior em Portugal. Ele denunciou a presença de agentes da polícia política na universidade, a censura imposta aos estudantes e professores e a falta de diálogo com a administração da universidade.

O pedido da palavra de Alberto Martins foi um momento simbólico na luta estudantil em Portugal. Foi um ato de coragem e de desafio à ditadura do Estado Novo, que governava Portugal desde 1933. Este corajoso dirigente fez do céu o seu púlpito e do povo o seu auditório, encorajando verdadeiramente os estudantes de Coimbra para que empunhassem os seus cravos e cantassem a liberdade.

Contudo, a caminhada dos valores de Abril ainda está por concluir. Se no passado exaltávamos a necessidade da liberdade, hoje, mais do que nunca, este direito fundamental deve ser enaltecido e nunca esquecido, mas há mais.

É necessário relembrar os novos valores da herança de Abril. Falo, naturalmente, de valores tão importantes como o feminismo, o pós-colonialismo, as alterações climáticas, o racismo e a xenofobia, os direitos LGBTQIA+, o direito à habitação, salários dignos, liberdade de expressão, entre tantos outros que são peças absolutamente fundamentais na construção de uma sociedade mais justa e igualitária que garanta, verdadeiramente, a manutenção dos direitos, liberdades e garantias de todos os jovens.

Estando nós em Abril, recordemos Alberto Martins e todos os corajosos dirigentes que de tudo fizeram para que a sua voz fosse verdadeiramente escutada e levassem a luta dos estudantes e do povo português à vitória.

Recordemos que há 54 anos pedimos a palavra, mas será que 54 anos depois a temos?

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