Brasil quer reunir grupo de países para negociar paz na Ucrânia

Ministro das Relações Exteriores brasileiro recebeu o seu homólogo russo em Brasília. Lavrov agradeceu ao Governo brasileiro por “perceber a génese da situação na Ucrânia”.

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Serguei Lavrov e Mauro Vieira esta segunda-feira em Brasília UESLEI MARCELINO/Reuters

O Brasil reiterou esta segunda-feira a sua vontade de juntar um grupo de países para encontrar uma solução negociada para a guerra na Ucrânia. Depois de um encontro entre os chefes da diplomacia do Brasil e da Rússia, em Brasília, Mauro Vieira reiterou o empenho do Governo brasileiro num cessar-fogo e a sua oposição a sanções unilaterais contra a Rússia.

Enquanto Serguei Lavrov agradecia ao Brasil por “perceber a génese da situação na Ucrânia” e expressava o seu desejo de que o conflito termine o mais rapidamente possível, Mauro Vieira lembrava, citado pelo G1, “as manifestações do Presidente Lula [da Silva] no sentido de buscar facilitar a formação de um grupo de países amigos para mediar as negociações entre Rússia e Ucrânia”.

“Reiterei nossa posição em favor de um cessar-fogo negociado, com respeito aos direitos humanitários e uma solução negociada com vistas à paz duradoura”, acrescentou o ministro das Relações Exteriores do Brasil, depois do encontro.

“Conversámos sobre várias questões muito importantes. As visões de Brasil e Rússia são únicas em relação aos acontecimentos”, disse, por seu lado, Lavrov, que sublinhou a ideia de os dois países estarem a trabalhar uma “ordem mundial mais justa, mais correcta e baseada no direito”.

“Temos uma visão de mundo multipolar, na qual levamos em consideração vários países, não apenas alguns poucos”, explicou o ministro russo, citado pela Folha de S.Paulo.

A ideia do “clube da paz” foi defendida pelo Presidente brasileiro na conversa que teve em Março com o seu homólogo russo, Vladimir Putin. Esse clube seria formado por países que, no entender de Luiz Inácio Lula da Silva, poderiam servir como mediadores do conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

Lula enviou o seu assessor especial para política externa, Celso Amorim, no princípio de Abril a Moscovo para avaliar das possibilidades de um plano de paz. O ex-ministro das Relações Exteriores brasileiro reuniu-se mesmo com Putin no Kremlin.

De acordo com a Folha de S.Paulo, o convite para Lavrov visitar o Brasil foi feito por Mauro Vieira na Índia, numa reunião do G20.

Durante o fim-de-semana, no seu regresso da viagem oficial à China, onde discutiu a questão com o Presidente chinês, Xi Jinping, Lula voltou a pedir aos países que estão a enviar armas à Ucrânia para deixarem de o fazer.

“Os Estados Unidos precisam de parar de encorajar a guerra e começar a falar de paz”, disse o chefe de Estado brasileiro, citado pela Reuters.

Lula tem uma visão do conflito que destoa entre o quase unanimismo ocidental, ao considerar que a questão não é a preto e branco e que essa perspectiva só irá prolongar o conflito: “Putin não deveria ter invadido a Ucrânia. Mas não é só o Putin que é culpado, são culpados os EUA e é culpada a União Europeia. Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a NATO? Os EUA e a Europa poderiam ter dito: ‘A Ucrânia não vai entrar na NATO’. Estaria resolvido”, disse em Maio do ano passado, quando ainda estava em campanha.

No sábado, no fim da sua visita à China, Lula afirmou que o Governo chinês "tem um papel muito importante" a desempenhar na resolução do conflito na Ucrânia, mas acrescentou que "outro país importante são os Estados Unidos", porque "é preciso que os EUA parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz, para convencermos Putin e Zelensky que a paz interessa a todo o mundo e a guerra só está interessando, por enquanto, aos dois".

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