A arte rupestre aborígene de Injalak Hill
O leitor Pedro Mota Curto fez uma longa viagem até Darwin, na Austrália, e dali seguiu para o Parque Nacional de Kakadu, onde se deparou com uma galeria de arte ao ar livre.
O aeroporto de Díli, em Timor, é muito pequeno, calmo e sem filas. Tudo se processa de forma simples e rudimentar. Afinal, estamos num país com apenas 20 anos, onde tudo está no seu início.
No avião entraram apenas seis passageiros, sendo dois portugueses, dois timorenses e dois australianos. A viagem até Darwin, no Norte da Austrália, demorou cerca de uma hora e meia.
O percurso do aeroporto para o hotel foi realizado de táxi, aparentemente a forma mais prática de chegar ao centro da cidade. Estabelecida a conversa de circunstância com o taxista, ele indaga de onde vimos e nós respondemos que de Portugal. O homem quase se distrai na sua condução, de tal maneira ficou imensamente surpreso. “De Portugal? Mas isso fica no fim do mundo, no fim do mundo. É o final de tudo, o final da terra. Depois de Portugal, só há mar. Não há mais nada! Isso é mesmo no fim do mundo!”, repetia o taxista enquanto olhava para nós com espanto acrescido.
O nosso espanto era recíproco, pois nós, quando aterrámos, também pensávamos que estávamos no fim do mundo. Como sempre, tudo é relativo e tudo depende da perspectiva.
Darwin é uma pequena cidade, anglo-saxónica, simétrica, arrumadinha, aparentemente pacata e calma, com esplanadas e bares, com música ao vivo, onde se comem hambúrgueres e se bebe cerveja. Muita influência inglesa e americana, sem dúvida.
A novidade são os hambúrgueres de crocodilo, uma carne branca, panada, adocicada, parece um filete de peixe mas com um sabor mais intenso.
Nas praias há crocodilos, crocodilos de água salgada. Vivem no mar mas também vivem nos rios. Enfim, não falta matéria-prima para os ditos hambúrgueres.
Nos restaurantes mais requintados é possível comer carne de canguru. Vale pela experiência. Nada mais.
Pelas ruas deambulam alguns aborígenes que se distinguem perfeitamente pelas suas feições, corpos grandes, cor da pele mais escura e ar de mendigos, pobres e desgraçados, pedintes e com aspecto de terem sido excluídos desta sociedade, apesar de estarem na terra deles. Muitos embriagados. À noite, equipas de supostos voluntários, brancos, apoiam e acompanham os aborígenes que parecem estar completamente desinseridos desta realidade anglo-saxónica. Parece haver ali um problema grave com os aborígenes de Darwin.
A partir de Darwin, na direcção Este, penetrando nas vastas, quentes e desabitadas planícies australianas, é possível visitar o Parque Nacional de Kakadu, numa viagem, por terra, que dura cerca de oito horas. Na zona de Injalak Hill, área sagrada para a cultura aborígene, existe uma deslumbrante arte rupestre pré-histórica. Calcula-se que sejam mais de mil figuras, pintadas em tons predominantemente avermelhados, entre animais e seres humanos. O povo autóctone da Austrália, os aborígenes, habita esta área pelo menos desde há 60.000 anos, supondo-se que grande parte das pinturas rupestres, maioritariamente nas paredes da montanha, tenha sido executada há cerca de 5000 anos. Uma galeria de arte ao ar livre, verdadeiramente imperdível.
Pedro Mota Curto