Ollie, o goleador que conhece o poder da saúde mental
O avançado do Aston Villa, já individualmente abençoado pela realeza britânica, trabalhou mentalmente na forma como olha para si. O resultado está à vista e levou-o da quinta divisão à Premier League.
Onde está o Ollie? Está bem à vista e nada camuflado, num patamar onde, há oito anos, ninguém pensou que estaria. Ollie Watkins, o grande goleador do Aston Villa, marcou dois golos neste sábado, no triunfo (3-0) frente ao Newcastle, e tem, neste momento, 11 marcados nos últimos 12 jogos. É um dos jogadores da moda no futebol inglês, mas, até há pouco tempo, não “era suposto” andar por ali.
Como Jamie Vardy, outra estrela que andou por patamares bastante baixos no futebol britânico, Watkins é um jogador que fez parte de uma equipa dos regionais – na quinta divisão, que faz parte da chamada non-league, que compreende patamares não profissionais.
Watkins era do Exeter, equipa da League Two (quarta divisão), mas acharam que tinha de ser emprestado a um patamar inferior – tal como já tinham rejeitado o pequeno Ollie, aos nove anos, vindo de Torquay, a “Riviera inglesa”. Quando foi emprestado a essa equipa regional, o Weston Super Mare, pensou que o importante era não voltar lá.
“Honestamente, o empréstimo fez-me pensar não queria voltar ali, portanto teria de trabalhar”, contou à Sky Sports, revelando que, mais tarde, quando foi comprado pelo Brentford, do Championship, o treinador que o quis, Dean Smith, o descobriu... no Super Mare. Um passo para muitos embaraçoso, “chutado” para o quinto escalão, tornou-se um passo decisivo para estar onde está hoje.
Abençoado pela realeza
Depois, vingou o talento. E o trabalho mental. Ollie Watkins assume que os golos que tem marcado são, em boa parte, um produto da estabilidade mental.
Ollie é o avançado que, no auge de confiança de um hat-trick num 7-2 aplicado ao Liverpool, disse: "Tenho de pensar naquelas duas oportunidades falhadas. Imaginem que tinha marcado cinco golos ao Liverpool. Seria inacreditável. Isto sou eu como pessoa”.
Steven Gerrard dizia que Ollie tinha a tendência para sobre-analisar e Paul Tisdale dizia que “ele pensa tanto que nem consegue controlar a bola”. A análise dos ex-treinadores levam Watkins a assumir que o bem-estar mental “é a prioridade número um” que tem na carreira. E isto, estando longe de ser um oásis num desporto cada vez mais consciente da saúde mental e do trabalho psicológico individual, não deixa de ser assinalável para quem está no topo do futebol – e Watkins, como goleador da Premier e internacional pela selecção inglesa, já chegou a esse patamar.
Como jogador-chave do Aston Villa, Watkins, que diz ter um gosto musical refinado, ouvindo Frank Sinatra e Whitney Houston, já recebeu bênção real do príncipe William, adepto do clube. “Estávamos a ter uma reunião, a porta abriu-se e ele entrou para dizer ‘olá’. Depois, viu o nosso treino e à saída foi ter comigo e disse: ‘o que quer que seja que tens feito ou comido, continua a fazê-lo. É incrível ver-te, estás em grande’".
Antes de receber elogio da realeza, Ollie teve de subir os patamares quase todos. Da quarta divisão (Exeter) para a quinta (Super Mare), da quinta para a quarta (Exeter), da quarta para a segunda (Brentford) e da segunda para a primeira (Aston Villa). O único salto que deu sem ser obrigado a “pousar” foi entre a League Two e o Championship, “safando-se” de passar pela League One.
Magia de Emery
No Villa, Watkins tem-se mostrado um jogador diferente do que diz ter sido no passado. Era alguém que Thomas Frank, treinador no Brentford, alcunhava como “a besta”, mas que nem sempre sabia usar o físico que tinha.
“Eu só era bom com a bola e era uma fragilidade da equipa sem ela. Eu só queria estar na ala e criar coisas em vez de me envolver”, contou ao First Time Finish sobre a evolução para ponta-de-lança.
No Villa já chegou a actuar como "10" e a partir da esquerda várias vezes, mas Unay Emery, que assumiu a equipa depois de Gerrard, tinha um plano diferente.
“Eu às vezes quero sair da área, mas ele diz-me ‘não vás para lá, fica ali’. Faz-me rir, mas resulta”, apontou ao The Times, sobre o registo goleador que cresceu exponencialmente com Emery, que o quer na área, como um verdadeiro ponta-de-lança que pode ser alimentado pelos criativos. Resultado: dois golos no pré-Emery, 13 desde que o espanhol chegou. É a já bem conhecida magia de Emery.