Sair mais cedo à sexta-feira: empresas britânicas lutam para atrair a Geração Z

Reino Unido vive a maior crise de mão-de-obra em décadas. A semana de quatro dias ainda não é uma realidade, mas os empregadores tentam aliciar as gerações mais jovens com uma tarde livre por semana.

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Empresas procuram atrair os trabalhadores mais jovens com maior flexibilidade laboral Pexels

O Reino Unido atravessa uma das maiores crises de mão-de-obra das últimas décadas e os empregadores estão a tentar captar a atenção das gerações mais jovens oferecendo benefícios como uma tarde livre à sexta-feira. Mas será o suficiente para convencer esta geração?

Há uma série de razões que permitem explicar a situação actual do Reino Unido. Entre a reforma antecipada de trabalhadores acima dos 55 anos, os jovens que decidiram voltar a estudar durante a pandemia e o "Brexit" (que tem dificultado a emigração com destino ao Reino Unido), entre outros factores, a região tem, actualmente menos 216 mil pessoas em idade activa do que tinha antes da covid-19. Entre os países do G7, a economia britânica foi a única que ainda não conseguiu retomar os números de 2019.​

Numa tentativa de recuperar as dinâmicas anteriores à pandemia e ao "Brexit", o governo britânico admitiu, em Março, facilitar o acesso a vistos de trabalho para alguns cargos. Mas as empresas também estão a tentar atrair novos trabalhadores.

Cada vez mais empresas oferecem "maior flexibilidade" com o objectivo de captar o interesse da Geração Z, que está agora a entrar no mercado de trabalho e dá prioridade ao equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.

De acordo com os dados do motor de pesquisa de emprego Adzuna, registou-se um "aumento acentuado" de vagas que incluem sextas-feiras com horário reduzido – isto é, com horário de saída às 15h30. Durante o mês de Março de 2023 foram publicadas 1426 ofertas que mencionavam esse benefício, um aumento expressivo em relação ao mesmo mês de 2018, quando foram divulgadas 583 vagas com essa descrição.

Segundo os dados fornecidos à Bloomberg sobre estas vagas, o salário varia entre os 22 mil e os 45 mil euros anuais (20 mil e 40 mil libras) para um jovem em início de carreira. O actual salário médio anual do Reino Unido para os jovens entre os 21 e os 24 anos ronda, no mínimo, os 24 mil euros. As vagas publicadas até 3 de Abril incidiam sobretudo na área comercial, engenharia, tecnologias da informação, publicidade e marketing, assim como cargos que requerem um grau académico.

Medida é prioritária entre vários benefícios

O co-fundador da Adzuna, Andrew Hunter, acredita que é uma resposta às exigências dos jovens que estão a entrar no mercado num cenário pós-pandémico.

“Se uma empresa oferece um horário reduzido à sexta-feira, significa que é flexível e que se preocupa com o bem-estar dos funcionários", escreveu Andrew Hunter, numa entrevista por email, citado pela Bloomberg.

Um exemplo dessa nova dinâmica é a vaga da empresa de marketing Immediate Media Co, sediada em Londres. Para além do "trabalho flexível/híbrido" e horário reduzido à sexta-feira, o anúncio refere ainda que os trabalhadores têm uma folga no dia de aniversário e bilhetes para um festival de Verão.

Emma, 21 anos, trabalha numa editora musical em Londres e, em entrevista à Bloomberg, disse que a empresa para a qual trabalha já revelou que ia introduzir o horário reduzido à sexta-feira durante os meses de Junho e Agosto. Algumas empresas optam por esta via por serem meses com menos volume de trabalho, o que permite alguma folga para ajustar horários. Emma, que optou por não revelar o apelido, mostra-se entusiasmada: assim pode pedir folga à sexta-feira e apenas é descontado meio dia do ordenado.

Contudo, nem todos os empresários aprovam o antecipar do fim-de-semana. É o caso do director executivo da Lightbulb Media, Lewis Kemp, que partilhou algumas reservas quanto ao modelo no LinkedIn. "Ser respeitado e receber um salário justo vale muito mais do que pizzas, férias e sextas-feiras com horário reduzido", escreveu.

As empresas britânicas não abandonaram de todo a ideia da semana de quatro dias, que também está a ser avaliada. Prova disso é o projecto-piloto, promovido pela Day Week Global, que terminou em Fevereiro. Envolveu 61 empresas e, dessas, apenas três interromperam a experiência. Outras duas optaram por encurtar o horário laboral diário. As restantes planeiam implementar, em definitivo, o modelo.

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