Trabalhadores da Casa da Música apresentam proposta para melhorar condições laborais
Semana de 35 horas, evolução de carreiras e “fim da discricionariedade nas avaliações de desempenho” estão entre as reivindicações. Administração não tem querido negociar, critica delegado sindical.
Perto de 50 trabalhadores da Casa da Música (CdM) aprovaram esta quinta-feira, num plenário promovido pelo Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos, de Audiovisual e dos Músicos (Cena-STE), uma proposta de convenção colectiva de trabalho que visa melhorar as condições laborais dos trabalhadores efectivos da instituição portuense. As principais reivindicações do documento, que foi já enviado por e-mail à administração, compreendem “a conquista de direitos como a semana de 35 horas, a evolução de carreiras, a regulação de horários e o fim da discricionariedade nas avaliações de desempenho”, resume o Cena-STE numa nota de imprensa. É feito também um apelo à “contratação efectiva do pessoal necessário ao funcionamento regular da Casa da Música”.
A proposta foi aprovada unanimemente no plenário, disse ao PÚBLICO Fernando Pires de Lima – trabalhador da CdM e membro da direcção do Cena-STE –, segundo o qual estiveram presentes na votação quase todos os funcionários efectivos da CdM que são trabalhadores sindicalizados. Aqueles que “por impossibilidade de agenda” não conseguiram comparecer, manifestaram antes da reunião a sua intenção de voto, que também ia no sentido de aprovar a proposta, precisou.
A Casa da Música tem à volta de 50 trabalhadores sindicalizados, de um universo de aproximadamente 200 trabalhadores efectivos, ainda segundo Fernando Lima, que é também o delegado sindical da instituição. O responsável afirma que, para tentar garantir que o documento era representativo das vontades e necessidades de todos os funcionários da Casa da Música, teve reuniões com a respectiva comissão de trabalhadores.
“Esta proposta foi feita em conjunto pelos trabalhadores [sindicalizados] ao longo de muitos meses. Agora esperamos que dê origem a um processo negocial formal”, diz Fernando Pires de Lima, que fala de dificuldades de longa data neste capítulo.
A Casa da Música mudou recentemente de administradora-delegada. Em Julho do ano passado, a economista Carla Castro Chousal aceitou o desafio de suceder a Maria Antónia Portocarrero, também economista. “O que mudou é a capacidade de ouvir os trabalhadores, mas falta tudo o resto, que é negociar. Embora se consiga conversar com a administração, não se consegue negociar nada”, acusa Fernando Pires de Lima.
Debruçando-se sobre uma das reivindicações — “o fim da discricionariedade nas avaliações de desempenho” —, o delegado sindical da CdM diz que, “quando há actualizações salariais, o discurso da administração é o de que é feita uma avaliação dos trabalhadores, o que justifica algumas diferenças”. O problema, acredita, é que “os processos não são nada transparentes”. “Não conhecemos [os critérios], não temos participação… Achamos que [estas avaliações] continuam a ser usadas para tratar de forma diferenciada uns e outros.”
Embora o documento vise sobretudo regular as condições laborais dos funcionários efectivos da Casa da Música, ele também defende a contratação de pessoas que, embora neste momento colaborem com a instituição enquanto trabalhadores independentes, constituem, na óptica dos proponentes, “pessoal necessário ao funcionamento regular da Casa da Música”. Fernando Pires de Lima diz haver 15 a 20 assistentes de sala e cerca de 50 músicos — distribuídos pelo Remix Ensemble, pela Orquestra Barroca e pelo Coro Casa da Música — que, pela natureza das funções que exercem, merecem contratos de trabalho.
O PÚBLICO contactou a Casa da Música, mas a instituição não quis reagir. Esta sexta-feira, o espaço inicia os festejos do seu 18.º aniversário — a sala principal foi inaugurada a 14 de Abril de 2005, com concertos do norte-americano Lou Reed e dos Clã.