Há 50 anos, a sonda Pioneer 10 deu-nos o primeiro encontro com Júpiter

A sonda europeia Juice é a décima missão a ser enviada em direcção a Júpiter. Em 1973, a Pioneer 10 mostrou-nos o caminho, cruzando-se pela primeira vez com este gigante gasoso.

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Ilustração da aproximação da sonda Pioneer 10 ao planeta Júpiter em 1973 NASA

A aproximação a Júpiter não é um encontro imediato. É mais uma dança em que a sonda e este gigante gasoso se vão aproximando até a uma distância limite. Há 50 anos, foi assim. A Pioneer 10 estava incumbida da missão de ser a primeira sonda a passar por Júpiter, numa dança que começou a 25 de Novembro, a 11 milhões de quilómetros de distância de nós, e culminou a 3 de Dezembro, com pouco mais de 130 mil quilómetros a separá-los. “Alguns de nós observamos Júpiter através de telescópios desde o início da adolescência. Isto é muito mais do que alguma vez sonhámos”, desabafava James Fletcher, administrador da NASA em 1973, citado pela revista Astronomy.

Era a primeira de nove missões cujo percurso se cruzaria com Júpiter. A mais recente aventura, a décima a ser lançada, é a da sonda europeia Juice (acrónimo em inglês de Explorador das Luas Geladas de Júpiter), que em 2031 juntará o seu nome aos restantes pares de dança que Júpiter já teve nestes 50 anos. Ao contrário da Pioneer 10, que depois seguiu caminho para os confins do nosso sistema solar, a Juice ficará em órbita do planeta gasoso durante seis meses antes de começar a fazer aproximações às luas geladas de Júpiter (Calisto, Europa e Ganimedes).

A Juice não será a primeira a orbitar o maior planeta do sistema solar. Já antes a sonda Galileu desbravou esse caminho, chegando em 1995 à orbita de Júpiter – seis anos depois do lançamento. É desta missão que surge a base da própria tarefa que a Juice terá pela frente.

Até 2003, a Galileu orbitou Júpiter e sobrevoou as grandes luas que o próprio Galileu tinha observado em 1610: Calisto, Europa, Ganimedes (as luas geladas) e Io (a lua vulcânica). Com as observações da sonda da NASA descobriram-se os indícios da presença de um oceano debaixo da superfície da lua Europa e também se identificou o campo magnético próprio da lua Ganimedes – duas observações que a Juice também pretende fazer a partir da próxima década.

Já no século XXI, em 2011, a NASA enviou outra sonda para orbitar Júpiter – e que continua lá. Ainda recentemente a sonda Juno recebeu uma nova tarefa: vai visitar o mundo vulcânico da lua Io. Esta sonda chegou a Júpiter em 2016, e tem estado ocupado a analisar a atmosfera e o campo magnético para compreender como funciona o “minissistema solar” de Júpiter e como este planeta interage com as suas luas.

Apesar de ser a primeira sonda europeia a ir ao maior planeta do nosso sistema solar, não é, como vimos, caso único. Nos anos 1970, seguiram-se à Pioneer 10 a Pioneer 11, bem como as duas primeiras Voyager (a 1 e a 2) – estas últimas mostraram as primeiras pistas sobre a potencial existência de oceanos nestas luas ou revelaram os anéis de Júpiter, por exemplo. É destes anos que temos algumas das imagens mais icónicas (e próximas) de Júpiter e da sua Grande Mancha Vermelha – uma tempestade violentíssima em marcha junto ao equador deste planeta e com um tamanho capaz de “engolir” três planetas Terra.

Sinto-me triste

O interesse por Júpiter não é só por ser o maior planeta do nosso sistema solar ou o primeiro a formar-se. Este gigante gasoso traz outras vantagens. Muitos dos exoplanetas (planetas fora do nosso sistema solar) que temos observado são também gasosos e com algumas semelhanças a Júpiter. E, claro, ainda há três luas com oceanos debaixo da sua crosta gelada para alimentar a expectativa de encontrar locais com condições para existir vida.

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Uma das primeiras imagens da Pioneer 10 aquando da passagem por Júpiter em 1973 NASA

E o interesse está para durar. Depois do lançamento da sonda europeia Juice, será enviada em 2024 a sonda Europa Clipper, da NASA. No caso desta última, a missão norte-americana estará focada, como o nome deixa adivinhar, apenas na lua Europa, o local onde os cientistas se mostram mais confiantes de que haja condições de habitabilidade.

Nenhuma das sondas irá pousar no planeta ou nas suas luas. O que não significa que não fiquem na memória, como a Pioneer 10, cuja última comunicação para a Terra, já a mais de 12 mil milhões de quilómetros da Terra, aconteceu em 2003, há 20 anos. Nessa altura, numa carta ao Washington Post, um leitor escrevia: “Por alguma razão, comecei a chorar quando estava a ler sobre a Pioneer. Era uma viajante solitária que nunca reclamou, apesar das improbabilidades de sucesso e dos seus anos de trabalho na escuridão. Sinto-me triste por não poder manter contacto enquanto ela continua a avançar.”

Se tudo correr como previsto, a Europa Clipper e a Juice serão as próximas sondas a representar a Terra pelo espaço. Coexistirão nas redondezas de Júpiter durante a próxima década para descobrir se é mesmo possível existir vida e compreender como se formou e como funciona este gigante planeta gasoso com nome de deus dos deuses.

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