NPR deixa Twitter depois de rótulo estatal colado por Elon Musk

Emissora pública de rádio nos EUA sai do Twitter depois da etiqueta “financiada pelo Governo” imposta por Elon Musk. A BBC também foi visada, pediu explicações e conseguiu nova designação.

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Elon Musk alega trabalhar pela "máxima transparência" na informação publicada Twitter REUTERS/DADO RUVIC

A National Public Radio (NPR) anunciou esta quarta-feira que está de saída do Twitter, depois de a empresa gerida por Elon Musk ter rotulado a emissora norte-americana de “meio de comunicação com ligação ao Estado”, etiqueta adaptada, no último fim-de-semana, para “meio de comunicação financiado pelo Governo”.

O Twitter definiu regras para distinguir as tipologias dos inúmeros órgãos de comunicação social presentes na plataforma, segundo Elon Musk em prol da “máxima transparência” na informação publicada.

A rede de rádios públicas, organismo sem fins lucrativos, que detém 52 contas no Twitter, e agrupa quase nove milhões de seguidores na conta principal, está decidida a centrar atenções noutras redes sociais, como o Facebook e o TikTok.

Como explica o The Washington Post, o orçamento da NPR é composto por patrocínios (40%), taxas de programação pagas por centenas de rádios públicas (30%) e ocupa 1% do orçamento do Governo dos EUA. As emissoras que integram a rede radiofónica pública, por sua vez, recebem financiamento proveniente de outros apoios estatais e federais, assim como doações e patrocínios. Não obstante, a administração da NPR está registada como independente.

Em comunicado, a National Public Radio esclareceu a saída do Twitter: “Não vamos publicar o nosso jornalismo em plataformas que demonstraram interesse em denegrir a nossa credibilidade e o entendimento público sobre a nossa independência editorial.”

A NPR acusa Elon Musk de, através da nova etiqueta, colocar a emissora radiofónica pública norte-americana na mesma linha de meios de propaganda como a RT, na Rússia, e a CCTV, na China. O CEO da National Public Radio, John Lansing, garantiu, em entrevista, ter perdido a confiança nas decisões tomadas pela administração de Musk. Por isso, mesmo que a etiqueta fosse removida, “precisaria de algum tempo” para compreender se o Twitter merece de novo a confiança da NPR.

De acordo com o The Washington Post, Elon Musk revelou a um repórter da National Public Radio, via email, não compreender totalmente a relação da emissora com o Governo norte-americano. Depois de o jornalista informar o multimilionário sobre o 1% do orçamento estatal aplicado na NPR, o dono do Twitter admitiu alterar a etiqueta imposta.

Ainda assim, Elon Musk voltou a criticar a empresa na madrugada desta quinta-feira, classificando a NPR como “hipócrita” num tweet que incluía um print do anterior site da emissora, no qual se lê: “Os fundos federais são essenciais para o serviço da rádio pública.” Noutra publicação, Musk adicionou: “Acho que eles [NPR] não se vão importar de perder o financiamento federal nesse caso.”

Novas etiquetas do Twitter chegaram ao Reino Unido

O Twitter também aplicou o estatuto de meio de comunicação “financiado pelo Governo” noutros órgãos de comunicação norte-americanos como a Public Broadcasting Service ou a Voice of America. Mas a decisão de Elon Musk também se fez sentir no Reino Unido, uma vez que a BBC foi visada. Ainda que mantenha actividade na rede social, a emissora britânica exigiu explicações.

“A BBC é, e sempre foi, independente. Somos financiados pelo público britânico através da taxa de licença”, que representa 71% do financiamento, explicou a administração.

Na resposta, Elon Musk argumentou sobre a importância de vincular os proprietários e as fontes de financiamento, apelando à consciência de quem gere as empresas. A etiqueta da BBC foi entretanto alterada para “meio de comunicação com financiamento público”.

A relação entre a comunicação social e o Twitter vem-se deteriorando há alguns anos e não melhorou desde que Elon Musk comprou o Twitter por 44 mil milhões de euros. No princípio deste mês, o visto azul foi removido da conta do The New York Times, depois de a administração anunciar que não iria pagar pela verificação.

Em Dezembro, Elon Musk silenciou vários repórteres na plataforma, incluindo jornalistas do The Washington Post, do New York Times e da Voice of America, responsáveis por acompanhar a controvérsia sobre o utilizador do Twitter que revelava a localização do jacto privado de Elon Musk.

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