Viagem da sonda europeia para Júpiter adiada por um dia
A missão Juice com destino a Júpiter fica em terra, pelo menos mais um dia, até nova tentativa de descolagem. A sonda europeia quer ver se é possível haver vida naquele gasoso gigante.
A primeira missão europeia a Júpiter está adiada, pelo menos por um dia, por causa do mau tempo. Tudo se resumia à exactidão da partida: às 13h15m01 desta quinta-feira o motor principal do foguetão Ariane 5 deveria ser ligado. No entanto, as condições meteorológicas levaram a deixar sonda Juice, para já, em terra. Amanhã, sexta-feira, haverá uma nova tentativa de lançamento às 13h14m01, segundo a Agência Espacial Europeia.
A missão da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), que devia ter descolado do Centro Espacial de Kourou (Guiana Francesa), tem um objectivo delineado: confirmar a existência de oceanos debaixo de três luas geladas de Júpiter e perceber se é possível haver vida em Calisto, Europa ou Ganimedes.
A procura de vida não é similar a qualquer um dos clássicos da ficção científica. Na verdade, o que os cientistas procuram são grandes corpos de água, por este ser um elemento essencial para a existência de vida, como por exemplo a descoberta de micróbios – algo que demonstra a existência de condições suficientes para haver organismos vivos nesse determinado local.
A exploração de Júpiter e das três grandes luas geladas tem início marcado para 2031 – aquando da chegada da sonda Juice ao gigante gasoso. O que vai acontecer nestes oito anos? Um aquecimento e preparação da Juice para a viagem. “Não há nenhum lançador [foguetão] actual que tenha a potência necessária para fazer uma trajectória directa entre a Terra e Júpiter”, esclarece ao PÚBLICO Bruno Sousa, um dos directores de operações de voo da missão Juice. Portanto, a sonda tem de entrar em órbita do Sol e realizar uma sequência de quatro manobras de sobrevoo para ganhar velocidade através da força de gravidade da Terra, da nossa Lua e de Vénus. Os sobrevoos são aproximações da sonda a outro corpo celeste (como a Terra), cuja força da gravidade lhe permite dar um impulso para ganhar velocidade.
À chegada a Júpiter começa a fase mais delicada da missão. Entre 2031 e 2035, a Juice fará cerca de 35 manobras de sobrevoo para entrar na órbita de Júpiter, aproximar-se das luas Calisto e Europa e, por fim, entrar na órbita de Ganimedes. Apesar de serem também sobrevoos, a dificuldade é muito mais elevada. Júpiter é um planeta com uma atmosfera violenta, gelado e com um campo magnético dez mil vezes mais forte do que o da Terra – o que será um desafio para a sonda e para os instrumentos científicos que leva consigo.
Ganimedes, o último reduto
A procura de vida ou mundos habitáveis nas luas geladas de Júpiter é uma das grandes apostas da ciência espacial para as próximas décadas. A sonda Juno, da NASA, é um dos exemplos dessa aposta, tendo chegado ao planeta gasoso em 2016 (depois de ter sido lançada em 2011) para analisar a atmosfera e o campo magnético do planeta. Em breve, fará uma visita ao mundo vulcânico da lua Io – outra das grandes luas observadas por Galileu em 1610, quando descobriu também Calisto, Europa e Ganimedes. Mas a NASA tem outra sonda a caminho: a Europa Clipper. É a próxima missão a Júpiter da agência espacial norte-americana e, como o nome indicia, vai dedicar-se especificamente à lua Europa – onde parecem existir melhores condições para a existência de vida.
Nenhum das três sondas (Juno, Juice e Europa Clipper) vai pousar em Júpiter ou em qualquer uma das suas luas. Estas são missões de reconhecimento e de investigação dos oceanos, da atmosfera e da própria formação destes corpos celestes.
No caso da sonda europeia, o foco da Juice está no último reduto: Ganimedes. É a maior lua do sistema solar – maior até do que o planeta Mercúrio – e tem o seu próprio campo magnético, algo que pode ajudar a descortinar a interacção entre Júpiter e as suas luas para compreender como se formou este gigante gasoso. Ganimedes é mesmo a única lua conhecida no sistema solar a ter o seu próprio campo magnético, o que gera interesse de perceber como é formado e de que forma interage com o campo magnético de Júpiter (sob o qual está). Há mais: ao orbitar Ganimedes, a sonda Juice será a primeira a entrar na órbita de um satélite natural que não é a nossa Lua.
A primeira missão europeia a Júpiter terminará mesmo na órbita de Ganimedes. E depois, em Setembro de 2035, quando o fim da sua missão for decretado, a sonda Juice será “atirada” contra a Ganimedes.
As novidades sobre o percurso da sonda europeia irão chegar a conta-gotas, primeiro, com os sobrevoos dos próximos oito anos. Depois, começará a aventura em Júpiter, com os primeiros resultados científicos da exploração da Juice a serem divulgados em 2032, um ano depois da chegada a Júpiter.
O primeiro encontro de uma sonda da Terra com este gigante gasoso aconteceu há 50 anos, quando a Pioneer 10 sobrevoou Júpiter em 1973. Agora, 50 anos depois, a Juice irá procurar avançar para uma estadia bem mais prolongada.