A competição nacional dos 20 anos do IndieLisboa é um mix de gerações

Catarina Mourão, Marta Pessoa, Susana Nobre, Alexander David, João Canijo e Telmo Churro estarão em concurso. “Temos a imensa sorte de ter os filmes que queríamos ter”, diz a direcção do festival.

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Mal Viver, de João Canijo, é o ponta-de-lança da competição nacional DR

“Temos a imensa sorte de ter os filmes que queríamos ter”, diz ao PÚBLICO Miguel Valverde a propósito das seis (que são sete) longas-metragens portuguesas a concurso no IndieLisboa 2023 — uma edição que decorre de 27 de Abril a 7 de Maio e marca os 20 anos do Festival Internacional de Cinema de Lisboa. “Não dei verdadeiramente pelo tempo a passar”, acrescenta este programador que fundou o Indie com Nuno Sena e Rui Pereira e é hoje o único membro fundador ainda activo.

A data redonda ficará também associada ao regresso a concurso de João Canijo, cujo Noite Escura foi exibido precisamente na primeira edição do Indie, em 2005. O díptico composto por Mal Viver (Grande Prémio do Júri no Festival de Berlim deste ano) e Viver Mal, dois filmes distintos que formam um só (co-produção Midas e Les Films de l’Après-Midi), é o “ponta de lança” de uma selecção competitiva de longas-metragens que, nas palavras do director, “se apoiam umas às outras, sendo diferentes na sua estrutura, na sua forma”.

Desenhada como “um diálogo entre várias gerações”, resultante de uma reflexão que começou a dar frutos na edição de 2022 (de onde saiu premiado o luso-brasileiro Mato Seco em Chamas​, de Joana Pimenta e Adirley Queirós), a competição deste ano cruza veteranos e aspirantes. Na primeira gaveta: Canijo (será a sua quarta passagem no concurso nacional do Indie), Catarina Mourão (a autora de A Toca do Lobo exibe Astrakan 79, produção Laranja Azul/Terratreme, que terá estreia mundial no festival suíço Visions du Réel) e Susana Nobre (Cidade Rabat, a primeira ficção assumida da autora de No Táxi do Jack, foi lançada no Forum de Berlim, sendo uma co-produção Terratreme com a francesa Kinoelektron).

Entre os cineastas mais jovens, Valverde destaca uma realizadora que não é forçosamente “nova” mas que chega agora ao concurso pela primeira vez, Marta Pessoa. “Sentimos aqui finalmente o filme que estávamos à espera que ela fizesse”, comenta. A autora de Donzela Guerreira assina o único documentário desta competição de longas, e também a única estreia mundial na secção: Rosinha e Outros Bichos do Mato (produção Três Vinténs). Ao seu lado, A Primeira Idade, de Alexander David (produção Primeira Idade, estreada no Festival de Roterdão), e Índia, de Telmo Churro, colaborador habitual de Miguel Gomes e João Nicolau (produção O Som e a Fúria, já exibida nos festivais de São Paulo, Buenos Aires e Pingyao).

Para Valverde, o critério que preside à selecção “continua a ser a coerência do todo”: “Poderíamos ter tido uma competição maior, mas estes são o que faria sentido propor.” O programador aponta ainda que “este será talvez o ano em que a ficção mais supera o documentário” em termos quantitativos — não apenas na competição nacional de longas (um documentário contra cinco ficções) como também na competição nacional de curtas-metragens, com 15 ficções num total de 19 entradas.

São elas Dildotectónica, de Tomás Paula Marques; Entre a Luz e o Nada, de Joana Sousa; Agora Frenesim, de Laura Andrade; Súlu S’Áua, de Sofia Borges; Dias de Cama, de Tatiana Ramos; A Febre de Maria João, de Afonso e Bernardo Rapazote; Pátio do Carrasco, de André Gil Mata; Morte em Agosto, de Bruno Abib; Please Make It Work, de Daniel Soares; O Rio e Seu Labirinto, de Ian Capillé; Autoerótico, de João Martinho; As Lágrimas de Adrian, de Miguel Moraes Cabral; e Death of a Mountain, de Nuno Escudeiro. Juntam-se-lhes as animações Apontamentos de Curva Correnteza, de Flávia Regaldo, e Morning Shadows, de Rita Cruchinho Neves; o documentário Carmen Troubles, de Vasco Araújo; e os experimentais When I Close My Eyes I See Everything, de Alexandre Alagôa, Why Are You Image Plus?, de Diogo Baldaia, e fossil_image, de Lourenço Soares.

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Pátio do Carrasco, de André Gil-Mata DR

Haverá ainda três longas documentais fora de concurso: Carlos Nogueira A Casa de Dentro, de Luís Alves de Matos, Uma História do Espectador de Cinema, de José Filipe Costa, e Primeira Obra, de Rui Simões.

O programa completo, apresentado à imprensa ao final da tarde desta quarta-feira, é o maior de sempre do festival, com 314 títulos ao todo. A abertura, a 27 de Abril, far-se-á com Something You Said Last Night, da cineasta transgénero italo-canadiana Luis de Filippis. O encerramento oficial decorrerá com o americano Dustin Guy Defa e a sua segunda longa, The Adults, história dos reencontros de uma família disfuncional com Michael Cera, Hannah Gross e Sophia Lillis.

Os bilhetes para o 20.º IndieLisboa são postos à venda esta quinta-feira. O festival terá, como sempre, lugar nos cinemas Ideal e São Jorge, na Cinemateca Portuguesa e nas duas salas da Culturgest, mas expande-se pela primeira vez para o Cinema Fernando Lopes, no Campo Grande, e para a Piscina da Penha de França.

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