Zero alerta que ar continua poluído acima do limite no centro de Lisboa

Associação ambientalista defende a criação de uma Zona Zero Emissões, quer em Lisboa, quer no Porto, retirando algum do tráfego dos centros das cidades. Hoje assinala-se Dia Nacional do Ar.

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O trânsito intenso em Lisboa os os elevados níveis de poluição do ar são um motivo de preocupação há já muito tempo Rui Gaudêncio

As concentrações de dióxido de azoto na Avenida da Liberdade, em Lisboa, têm-se mantido este ano acima dos limites determinados na legislação europeia, revelou a associação Zero, por ocasião do Dia Nacional do Ar, que se assinala esta quarta-feira.

Num comunicado, a Zero defende uma actualização da Zona de Emissões Reduzidas em Lisboa "ou, desejavelmente, a criação de uma Zona Zero Emissões, quer em Lisboa, quer no Porto, abrangendo os centros das cidades".

Nestas zonas apenas poderiam circular "transportes públicos, veículos de residentes e veículos sem emissões de forma limitada", esclareceu a associação, defendendo uma aposta firme na mobilidade suave, que crie condições para a circulação de peões e uma boa integração com ciclovias e transportes públicos.

Depois do cumprimento dos indicadores de qualidade do ar em 2020 e 2021, devido à "forte redução das deslocações" na Área Metropolitana de Lisboa (AML), em 2022 foram novamente registadas excedências que eram frequentes antes da pandemia de covid-19.

Nos primeiros três meses de 2023 (de 1 Janeiro a 6 de Abril), "dados ainda sujeitos a validação final", da estação de monitorização da Avenida da Liberdade, "apontam para um valor médio de dióxido de azoto de 48 microgramas por metro cúbico (µg/m3), 03 µg/m3 acima da média registada em 2022".

Por outro lado, as estações de medição em locais de tráfego com valores habitualmente mais elevados no Porto (Praça Sá Carneiro) e em Braga "apontam para valores médios de aproximadamente 36 e 35 µg/m3, respectivamente".

Inaccção das autarquias

A associação realçou que estes valores de dióxido de azoto (NO2), um poluente atribuído principalmente à combustão dos motores a diesel, superaram os valores limite anuais estipulados na legislação europeia de 40 microgramas por metro cúbico (µg/m3) e as recomendações de 10 µg/m3 da Organização Mundial da Saúde (OMS).

"Estes valores são substancialmente mais elevados do que os limites propostos para a nova Directiva Quadro do Ar que se aproximam dos valores sugeridos pela OMS (20 µg/m3). Nesse cenário, o número de estações de medição da qualidade do ar que incumprirão poderá aumentar drasticamente, levando à necessidade de actuar o mais cedo possível", sublinhou a associação.

Os ambientalistas consideram que "o papel do Estado é fundamental para evitar a inacção das autarquias", que devem criar Planos de Melhoria da Qualidade do Ar e os correspondentes Programas de Execução.

A Zero referiu também que, até agora, ainda não foi publicado qualquer Programa de Execução para o Plano de Melhoria da Qualidade do Ar da Região de Lisboa e Vale do Tejo, aprovado em 2019.

A Zona de Emissões Reduzidas de Lisboa, acrescentou, não é actualizada desde 2015, mantendo "apenas regras de acesso ligadas a tecnologias obsoletas". Nesta área, no centro da cidade, a circulação de veículos com matrículas anteriores às normas Euro (mais poluentes) é restrita e está sujeita a autorizações do município.

Em concentrações elevadas, o dióxido de azoto pode provocar irritação dos olhos e garganta e a afectação das vias respiratórias, com diminuição da capacidade respiratória, dores no peito, edema pulmonar e lesões no sistema nervoso central e nos tecidos.

As crianças, os idosos, os asmáticos e as pessoas com bronquites crónicas são os mais afectados, destacou a Zero, salientando que em Portugal a poluição do ar é responsável pela morte prematura anual de cerca de seis mil pessoas.