Na Croácia, homens ajoelham-se para rezar pela “restauração da autoridade masculina”

No primeiro sábado de cada mês, um grupo de homens católicos ajoelham-se para pedir o fim do aborto, do sexo antes do casamento ou das roupas “provocantes”.

Foto
Homens rezam pela "restauração da autoridade masculina” DR

No primeiro sábado de cada mês, desde Outubro de 2022, grupos de homens croatas reúnem-se em locais públicos para rezar pela “restauração da autoridade masculina”. Os homens, católicos extremistas, ajoelham-se e pedem a proibição do aborto, a castidade e fim do sexo antes do casamento e roupas que tapem mais as mulheres.

“Muitas mulheres não têm noção que se vestem de forma provocadora, o que causa um grande inconveniente para a população masculina. As mulheres deviam assegurar-se que não fazem com que os homens pequem por causa dos seus comportamentos e roupas”, disse o padre Bozidar Nagy, citado pela Total Croatia News.

Este movimento começou no site Muzevni Budite (que se traduz para algo como “Sê um homem”, em português), criado para homens católicos. Segundo o padre citado, o movimento surgiu na Polónia e “chegou a Zagreb, mas também a outras cidades da Croácia”.

Dizem ser os Cavaleiros do Imaculado Coração de Maria, e é para cumprir a sua promessa que rezam, diz Krunoslav Puskar, um dos participantes, num vídeo publicado no canal de YouTube do movimento. "O sábado é dedicado à Virgem Maria", refere, antes de apontar os seus compatriotas na Austrália e Polónia como inspiradores da acção. "Porquê homens? Eu diria que muitas coisas dependem dos homens. Temos esta crise de fé na Igreja porque há uma crise de masculinidade. Estamos a mostrar que é possível ser homem e espiritual. Que é possível estar de joelhos, com humildade, a rezar pela conversão das pessoas e da Igreja."

Foto
O protesto de 4 de Fevereiro DR/Ženska mreža Hrvatske

Mas este movimento já encontrou resistência: a 4 de Fevereiro, um protesto feminista organizado pela Rede de Mulheres da Croácia ocupou a praça Ban Josip Jelacic, onde os homens se ajoelhavam. O protesto foi pacífico e não houve conflitos entre as partes. Os participantes da manifestação empunhavam cartazes onde diziam aos homens para “rezarem em privado”. Foram também levantadas bandeiras LGBT, o que fez os seguranças do grupo de oração colocarem-se à volta dos homens para que eles não as vissem.

“O que está a acontecer do outro lado da praça faz lembrar a Polónia e a Hungria, e quando mencionamos esses dois países não há razões para ficarmos optimistas”, disse Fred Matić, um dos manifestantes, citado pela Total Croatia News.

Na Polónia, o aborto é quase impossível: desde 2021, a interrupção da gravidez só é permitida em casos de violação ou incesto, ou quando a vida da mãe está em risco. Na Hungria, desde Setembro de 2022, as mulheres passaram a ser obrigadas a ouvir o batimento cardíaco do feto para poderem avançar com o procedimento.

“Muitos iranianos não estão orgulhosos de o ser por causa do que está a acontecer no seu país. Só na Croácia é que vemos pessoas a quererem ser como os iranianos, não vamos permitir que o façam. Não tenho nada contra quem está a rezar, mas o que está escondido por detrás dessas orações… Já vimos, historicamente, onde nos leva — a fogueiras”, referiu Fred Matić.

De acordo com o site N1, há mais grupos a oporem-se a este movimento. A Frente de Trabalhadores defendeu que este é “o pior extremismo social” e “mais uma prova de que o aborto deve ser incluído na Constituição”. Por agora, a interrupção voluntária da gravidez é permitida até às dez semanas de gestação. Depois disso, apenas pode ser feita em caso de perigo de vida, violação ou incesto.

Estes homens rezam também por um papel mais central do homem no contexto familiar, pela paz e conversão. “Remonta à Época Medieval”, atirou Fred Matić.

Sugerir correcção
Ler 37 comentários