Rússia quer sistema electrónico de recrutamento para evitar fuga ao serviço militar
Dezenas de milhares de russos têm escapado ao serviço militar ausentando-se das suas residências, onde são notificados pelo correio. No futuro, a nota de mobilização segue por via electrónica.
A Rússia aprovou esta terça-feira a introdução de um sistema electrónico de recrutamento militar para facilitar o envio de convocatórias aos homens russos elegíveis de prestar serviço militar. O objectivo é impedir que a fuga ao recrutamento.
O projecto de lei foi aprovado pela câmara baixa do Parlamento da Rússia, a Duma Estatal, mas aguarda ainda a aprovação da câmara alta do Parlamento, e terá depois de ser ratificado pelo Presidente russo, Vladimir Putin. De acordo com a medida, o recruta deve apresentar-se no centro de recrutamento militar, após a recepção da convocatória, e será proibido de viajar para o estrangeiro até que compareça no local indicado.
Caso não respeitem o processo de recrutamento, os homens russos poderão ver suspensa a sua carta de condução e proibida a venda de apartamentos e outros bens, como avança a Associated Press. A responsabilidade criminal, que prevê uma sentença de dois anos de prisão para os cidadãos que não cumpram o serviço militar, mantém-se.
Como vai funcionar o processo de recrutamento?
Até ao momento, os avisos de recrutamento eram entregues em papel nas moradas registadas, sendo que era necessária uma assinatura do destinatário para que a recepção fosse considera válida. No entanto, os serviços de recrutamento tinham algumas dificuldades em confirmar se a morada era ou não a correcta, tendo em conta que muitos cidadãos russos mantinham-se longe da morada indicada para evitarem ser recrutados.
A partir de agora, as convocatórias vão ser enviadas simultaneamente por correio e electronicamente para o portal de serviços públicos online "Gosuslugi", plataforma utilizada para aceder a inúmeros serviços na Rússia, como a marcação de consultas médicas. "O aviso preliminar é considerado recebido a partir do momento em que é enviado para a conta pessoal de uma pessoa responsável pelo serviço militar", disse o presidente do Comité de Defesa da câmara baixa do Parlamento, Andrei Kartapolov, de acordo com o jornal francês Le Monde.
As informações sobre os homens proibidos de abandonar o país serão registadas numa plataforma a que as autoridades fronteiriças vão ter acesso.
De acordo com a Reuters, todos os homens cujas idades estejam compreendidas entre os 18 e os 27 anos estão obrigados a prestar serviço militar na Rússia durante 12 meses, salvo algumas excepções. As campanhas de mobilização costumam ocorrer duas vezes por ano (na Primavera e no Outono).
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, descartou entretanto a ideia de que possa existir uma segunda mobilização militar relativa à invasão da Ucrânia, dizendo que a aplicação desta lei é apenas uma tentativa de modernização do sistema.
Durante a primeira mobilização para reforçar as tropas russas, centenas de milhares de homens foram recrutados, mas dezenas de milhares conseguiram abandonar o país e evitar o recrutamento.
A Rússia afirmou que mobilizou mais de 30.000 cidadãos russos no ano passado para participar na "operação militar especial".