Netanyahu volta atrás com demissão do ministro da Defesa de Israel

Anúncio do afastamento de Galant fez aumentar os protestos nas ruas das cidades israelitas contra a reforma judicial.

Foto
Yoav Galant: o ministro da Defesa vai continuar no cargo ATEF SAFADI

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reverteu a sua decisão de afastar o ministro da Defesa, Yoav Galant, que anunciara há duas semanas. O anúncio do seu afastamento, depois de ter avisado para os perigos da reforma judicial, levou ainda mais pessoas à rua em protesto contra a reforma, pondo em marcha um efeito de bola de neve que fez com que o Governo anunciasse a suspensão da medida.

Nestas duas semanas, Galant esteve num limbo – sabia-se que Netanyahu não tinha enviado a carta de demissão e o próprio ministro declarou que permanecia no cargo.

Nesta segunda-feira à noite, Netanyahu oficializou a sua continuação à frente da pasta da Defesa, dizendo que os dois tiveram "diferenças de opinião", que entretanto resolveram, cita o site Axios.

No discurso, Netanyahu criticou ainda os seus críticos e os protestos de militares na reserva (“Como pensam que isto vai ser ouvido pelos nossos inimigos?”, questionou o primeiro-ministro, citado pelo diário Haaretz).

A divisão do país em relação à reforma judicial e a enorme dimensão dos protestos semanais (estima-se que neste fim-de-semana tenham estado 145 mil pessoas em Telavive) levou a avisos de que inimigos de Israel podem tentar testar a sua resposta.

Isto acontece quando no Norte da Cisjordânia uma nova geração de palestinianos, sem memória da última intifada de 2000-2005, lutam contra o Exército de Israel – o grupo mais destacado, chamado o Covil do Leão, assinalou o seu primeiro aniversário na semana passada.

Operações regulares em cidades como Jenin e o seu campo de refugiados, ou Nablus, têm feito dezenas de vítimas (2022 foi o ano com mais mortes na Cisjordânia desde a segunda intifada, com 220 mortes segundo o site Middle East Eye, e em Israel o mais mortífero desde 2008, com pelo menos 29 mortes de israelitas em ataques palestinianos), numa dinâmica que não dá sinais de abrandar (este ano morreram já 80 palestinianos, e em ataques de palestinianos morreram 14 pessoas, na maioria israelitas, segundo a rádio norte-americana NPR).

Há ainda, em Jerusalém, violência em zonas como Silwan, em Jerusalém Oriental, onde decorrem tentativas de expulsar famílias palestinianas num esforço para “judaizar” o local (o Supremo decidiu recentemente contra uma destas expulsões), e na semana passada houve confrontos no Pátio das Mesquitas, com fiéis barricados por temerem que grupos radicais judaicos levassem a cabo um sacrifício de um animal na Páscoa judaica (Pesach), num local em que não são permitidas acções religiosas de outras fés que não a muçulmana. Foram detidas 300 pessoas que se tinham barricado na mesquita de Al-Aqsa.

Na semana passada houve também ataques com rockets contra Israel, vindos não só da Faixa de Gaza, mas ainda do Sul do Líbano e da Síria.

Em Israel, em dois ataques terroristas, morreram um turista italiano, num caso, e duas irmãs (a mãe, gravemente ferida, acabou também por morrer), noutro.

Tudo isto quando o pano de fundo regional é pouco favorável, com a Arábia Saudita, com quem Israel chegou a aproximar-se na altura dos acordos de Abraão (com Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos), a falar antes com o Irão, começando uma normalização das relações entre os dois rivais.

O Irão avançou, pelo seu lado, no seu programa nuclear, e poderá ter em breve urânio enriquecido suficiente para fabricar uma bomba (embora falte depois a tecnologia para a lançar). Israel tem levado a cabo ataques vistos como cada vez mais ousados contra a estrutura militar iraniana, atingindo alvos iranianos na Síria ou mesmo no Irão, com operações de retaliação, uma dinâmica que traz um risco de escalada.

Uma sondagem do canal 13 da TV israelita diz que 71% dos inquiridos não têm confiança no primeiro-ministro para lidar com a situação de segurança, o apoio geral ao executivo desceu para 27%, e o Likud, o partido de Netanyahu, desceu para o ponto mais baixo desde há 17 anos, segundo o Times of Israel.

Sugerir correcção
Comentar