Metaverso: o mundo prepara-se para uma nova revolução

Pode vir a ter o mesmo impacto que a Internet, e é para lá que as empresas devem convergir. Pedro Nogueira da Silva, da NTT DATA Portugal, explica a revolução chamada metaverso.

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Há um novo mundo virtual a formar-se e é nessa direcção que as atenções de todas as empresas têm vindo a voltar-se (embora ainda a velocidades diferentes), a começar pelas gigantes tecnológicas, como o Facebook, que inclusivamente mudou o nome para Meta. O metaverso, assim se designa esta nova dimensão, onde avatares 3D de pessoas, empresas e organizações com existência no mundo real existem e interagem, é considerado a evolução lógica da Internet, assim como uma espécie de Web 3.0 e com um potencial revolucionário idêntico.

O crescimento deste mundo alternativo tem sido de tal ordem que, segundo dados do relatório “Value Creation in the Metaverse”​, publicado em Junho do ano passado sobre o tema, estima-se que o metaverso venha a gerar lucros na ordem dos 4,77 mil milhões de euros até 2030. No mesmo documento, ficamos ainda a saber que, em 2021, foram ali investidos cerca de 54 mil milhões de euros, e só nos cinco primeiros meses de 2022 esse valor mais do que duplicou para 114 mil milhões. Os autores do relatório acreditam ainda que, em 2030, os utilizadores de Internet passem, em média, cerca de seis horas por dia em plataformas de metaverso. Ou seja, como os próprios salientam, os números são demasiado expressivos para serem ignorados.

Mas será que este é já o momento certo para as empresas aderirem ao metaverso? Pedro Nogueira da Silva, Head of Digital Experience NTT DATA Portugal, não duvida que sim: “Como estamos ainda numa fase de alguma indefinição, entendemos que esta é a altura para as empresas acompanharem a evolução tecnológica e começarem a fazer as suas primeiras experiências, testando e amadurecendo ideias com o contributo dos clientes, que podem um dia mais tarde dar origem a oportunidades sólidas de negócio.”

Explosão tecnológica anunciada

Para o director tecnológico, “é provável que o metaverso venha a ter um impacto semelhante ao advento da Internet”. “Quando as indefinições se esbaterem e as entidades começarem a perceber o verdadeiro potencial da tecnologia, poderemos assistir a uma explosão tecnológica que vá além da realidade virtual/aumentada, como a conhecemos nas experiências que actualmente se fazem em metaverso”, afirma, referindo-se especificamente à introdução de inteligência artificial neste contexto, o que “poderá dar corpo à Web 3.0”.

Continuando a antecipar o que poderá vir a ser o futuro, Pedro Nogueira da Silva diz que “podemos especular sobre uma realidade que une o mundo real e virtual de forma simbiótica, com elevados níveis de personalização e de integração de tecnologia nas rotinas diárias, que farão do metaverso uma commodity, como é actualmente a Internet”.

Manter a competitividade

Uma coisa é praticamente certa: aderir ao metaverso poderá acabar por ser um imperativo de sobrevivência para as empresas. O Responsável pela área de experiência digital da NTT DATA Portugal acredita que “quem não estiver atento aos desenvolvimentos do metaverso estará um passo atrás dos seus concorrentes”. “As organizações que acompanham estrategicamente a evolução tecnológica têm uma vantagem competitiva sobre as demais, porque estão mais conscientes das oportunidades e riscos, podendo assim agir mais rapidamente”, realça.

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“É provável que o metaverso venha a ter um impacto semelhante ao advento da Internet” Pedro Nogueira da Silva, Head of Digital Experience NTT DATA Portugal

Até agora, as áreas que mais têm explorado o metaverso são as do retalho e moda, que têm aproveitado para também capitalizar o fenómeno com novos conceitos, como os NFT (certificados virtuais que garantem a originalidade e a exclusividade de obras digitais). Pedro Nogueira da Silva dá como exemplo a Nike que, em colaboração com um estúdio de criação de NFT, vendeu 600 pares de representações únicas de ténis (ou seja, na forma de NFT) que os clientes esgotaram em seis minutos.

Outra área em que o metaverso se vai também expandido é a do entretenimento e, durante a pandemia, artistas como Travis Scott, Foo Fighters, David Guetta ou Post Malone deram concertos em diversos metaversos. Por enquanto, o responsável vê estas experiências como “um complemento da experiência física”, mas defende que “o sucesso passará por conseguir conjugar a experiência física com a virtual, quer seja na música, desporto ou em qualquer outra área do entretenimento”.

Digital twins e impacto na indústria

De acordo com o Fórum Económico Mundial (FEE), o maior e mais imediato impacto do metaverso será sentido nos sectores da indústria e dos negócios. Isto ficou patente, aliás, na recente conferência de Davos, onde o metaverso foi um dos temas em análise. Segundo o FEE, enquanto as empresas de jogos e social media estão ainda a dar os primeiros passos no metaverso, as principais indústrias, como as do ramo automóvel, transportes ou de extracção mineira já estão há algum tempo a explorar esta nova dimensão, nomeadamente, através do uso de digital twins, isto é, réplicas exactas virtuais de objectos físicos.

Pedro Nogueira da Silva confirma, lembrando que “com esta tecnologia conseguimos, por exemplo, reproduzir em ambiente digital toda a linha de produção de uma fábrica, observando o funcionamento das máquinas em tempo real, o que facilita e antecipa a identificação de problemas e oportunidades de melhoria”. Nas suas palavras, “será fácil perceber que este tipo de representação virtual trará benefícios em todas as áreas cujos custos de construção e manutenção sejam altos e com elevadíssimo risco, como na construção de pontes, barragens, entre outros”.

Como a sociedade ganha com o metaverso

A crença do FEE na importância do metaverso chegou ao ponto de, ainda durante o Fórum de Davos, aquele organismo apresentar o primeiro protótipo de Aldeia de Colaboração Global, um espaço no metaverso destinado a encontros entre organizações de todo o mundo. Desta forma, as potencialidades do metaverso acabam por contribuir para que se abordem os grandes problemas da actualidade de forma mais aberta e sustentada.

Mas esta é apenas uma das muitas aplicações do metaverso com potencial impacto positivo na sociedade. Pedro Nogueira da Silva destaca outras, por exemplo, na área da educação e formação, já que “o metaverso pode facilitar o acesso a formação, no sentido em que a localização geográfica do aluno deixa de ser uma limitação para uma experiência imersiva nas melhores escolas do mundo”. A medicina é outra das áreas onde o metaverso poderá vir a ser vantajoso, pois “pode ajudar os profissionais de saúde a realizarem intervenções cirúrgicas, tanto para a realização dos procedimentos médicos, como para efeitos de suporte remoto”.

Também a cultura pode tornar-se mais acessível através do metaverso, por ser possível que “alguém, geograficamente distante de um espectáculo ou museu, possa ter uma experiência imersiva e rica” enumera.

Portugal começa a despertar

Questionado sobre como está a ser a adesão de Portugal ao metaverso, Pedro Nogueira da Silva diz que “de uma forma geral, as organizações portuguesas ainda estão atrasadas na exploração do metaverso, quando comparadas com as de outros mercados, com outra capacidade de investimento”. Mesmo assim, reconhece que “as grandes empresas nacionais demonstram interesse em explorar a tecnologia e começar a construir um posicionamento nesse ambiente”.

Quanto ao caminho que pode e deve começar a ser já percorrido pelas organizações com interesse em marcar presença neste novo mundo, salienta que “o importante é que as empresas experimentem e testem”, no fundo, “devem começar a construir a sua própria visão do metaverso”. Para tal, o mais indicado é que o façam “em colaboração com empresas que tenham mais conhecimento sobre o tema”, sendo que “este processo não exige investimentos significativos e pode ser crucial para a definição de uma estratégia que sirva as necessidades dos clientes do futuro”.

A NTT DATA é uma das empresas posicionadas para melhor favorecer a integração no mundo do metaverso, como sublinha o director tecnológico. “O nosso foco na inovação reflecte-se na existência de vários laboratórios e centros de excelência, distribuídos pelo mundo, que, tal como acontece em Portugal, nos permitem idear, testar e validar soluções inovadoras, desenvolvidas em parceria com a academia e clientes”, revela, acrescentado que dispõem ainda de um conjunto de aceleradores, como o NAKA, que “permite criar rapidamente ambientes virtuais para diferentes fins, ou soluções de realidade aumentada focada em operações inteligentes”.

Ética e segurança – um desafio

Entre as várias questões que são trazidas a debate pelo desenvolvimento acelerado de uma realidade como a do metaverso, destacam-se sobretudo as relacionadas com e ética e a segurança. Pedro Nogueira da Silva chama a atenção precisamente para este ponto, frisando que “o desenvolvimento do metaverso acontece de forma um pouco anárquica, sem legislação ou regulamentação relevante que contextualize o seu desenvolvimento”. Se é verdade, como admite, que “essa liberdade facilita e acelera o desenvolvimento da tecnologia”, por outro lado, “impõe também alguma prudência e reflexão, em termos éticos e de segurança, para que, enquanto sociedade, possamos tirar o máximo partido desta evolução”.